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Trump, convidado 'fantasma' na reunião sobre clima na Alemanha

25/05/2016 18h21

Bonn, 25 Mai 2016 (AFP) - Donald Trump na Casa Branca? Essa possibilidade preocupa alguns dos negociadores reunidos em Bonn, na Alemanha, em uma nova sessão das Nações Unidas sobre o clima, onde os participantes também tentam relativizar o impacto de uma eventual eleição do magnata.

O virtual candidato republicano à Presidência americana já descreveu o aquecimento global como uma farsa orquestrada pela China para ganhar vantagem competitiva na indústria em relação aos Estados Unidos. A teoria é considerada "excêntrica" até mesmo entre os céticos do clima.

Depois de se limitar, até agora, a opinar sobre o tema nas redes sociais, Trump afirmou, em uma entrevista na semana passada, que pretende "renegociar" os termos do acordo de Paris, do qual não é "grande fã".

O tratado estabelece que 196 nações se comprometem a limitar o aquecimento global abaixo de 2ºC, assim como a ajudar países pobres a lidar com o impacto das mudanças climáticas.

Em um momento em que as nações se aproximam da ratificação do delicado acordo, a perspectiva de Trump na Presidência causa arrepios em alguns participantes da conferência do clima de Bonn.

Quando perguntado sobre o que mais lhe preocupava nesse momento, o representante de Mali e presidente do grupo de países africanos, Seyni Nafo, não hesitou: "que Trump ganhe a eleição".

Por muito tempo, os Estados Unidos foram o país que mais poluía o planeta e, agora, são o segundo, atrás apenas da China.

Desviando-se de um Congresso obstinado e sob o controle republicano, o presidente americano, Barack Obama, usou seu Poder Executivo para confrontar agressivamente o aquecimento global.

Durante o governo Obama, o país se converteu em um promotor para que o acordo de Paris fosse adotado em dezembro passado, com o objetivo de reduzir as emissões mundiais de gases causadores do efeito estufa.

No mandato do então presidente George W. Bush, antecessor de Obama, aconteceu exatamente o contrário. Em 2001, o republicano se negou a ratificar o protocolo de Kioto, bloqueando a evolução do processo e provocando o abandono do tratado por parte de Canadá, Japão e Rússia.

Os EUA mudaramOs especialistas estimam, porém, que mesmo que seja eleito, Trump não terá poder para modificar o acordo de Paris. O republicano poderia, no entanto, "atrasar a dinâmica", adverte o representante malinês.

"Mas o que ele quer 'renegociar' realmente?", questiona o especialista americano Alden Meyer.

"Não acho que ele entenda o que é esse tratado, nem toda a força que há por trás", lamenta.

"Efetivamente, do ele não gosta, ou o que lhe disseram de que não deveria gostar, é o compromisso de Obama para reduzir as emissões americanas", acrescenta Meyer.

Mais do que retirar os Estados Unidos do acordo de Paris - o que levaria quatro anos de trâmites depois da ratificação - os observadores temem que Trump desmantele as medidas ambientais adotada no país, relacionadas à proteção do ar, ao consumo de combustível de veículos, entre outros.

"Entramos em uma era de convulsão política", disse a negociadora francesa Laurence Tubiana a jornalistas durante o evento.

Segundo ela, "se os Estados Unidos escolherem um governo hostil ao acordo de Paris, isso não vai ajudar".

"Mas, na minha opinião, isso não fará que o acordo fracasse", acredita Tubiana.

"Todos os países se preparam para essa hipótese. E o que ouço é que 'é necessário fazer todo o possível para que os Estados Unidos continuem', mas isso não significa que se trate do princípio e do fim do acordo", acrescenta ela, argumentando que há outros intermediários - além do presidente - que participam do processo.

Se, por um lado, os Estados Unidos e o mundo mudaram desde Kioto, por outro, as consequências das mudanças climáticas continuam sacudindo o planeta.

"Acredito em que Donald Trump é um homem de negócios incrível e um político muito interessante, mas a retórica eleitoral é uma coisa, e a realidade do mundo é outra", lembrou a negociadora da União Europeia, Elina Bardram.

"E a opinião pública dos Estados Unidos também está bastante satisfeita com o acordo", comentou.