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Rússia inaugura Vostochni, seu novo cosmódromo, imerso em polêmicas

26/04/2016 15h09

Moscou, 26 Abr 2016 (AFP) - Depois de inúmeros escândalos, problemas e atrasos, será inaugurado nesta quarta-feira o novo cosmódromo russo Vostochni, símbolo das ambições da indústria espacial russa e concebido para substituir o atual centro de lançamento em Baikonur, no Cazaquistão.

Às 12h01 locais (23H01 de Brasília), um foguete Soyuz 2.1a, responsável por colocar em órbita três satélites científicos, decolará pela primeira vez deste centro espacial construído em menos de cinco anos na região de Amur, no extremo oriente russo.

Suas instalações, consideradas o maior projeto de infraestrutura do país pelos meios de comunicação russos, tiveram um orçamento estimado entre 300 e 400 bilhões de rublos (entre 4 e 5,3 bilhões de euros no câmbio atual).

O presidente russo, Vladimir Putin, ordenou sua construção em 2007 no local de uma antiga base de mísseis soviéticos Svobodny-18.

As obras começaram em 2012 nessa vasta região pouco povoada. Cerca de 10.000 trabalhadores construíram 100 km de estrada, mais 100 km de ferrovias e uma cidade com capacidade para 25.0000 habitantes.

A principal vantagem do Vostochni é que se encontra na Rússia, o que permite a Moscou tornar-se independente do cosmódromo de Baikonur, alugado do Cazaquistão por 115 milhões de dólares anuais desde a queda da União Soviética.

O sítio de Vostochni está mais perto da linha do Equador do que a base russa instalada em Plessetsk, no norte do país, o que facilitará a posta em órbita em relação a essa plataforma.

No entanto, o novo cosmódromo está além dos 51º de latitude norte, o que penalizará a capacidade de carga útil que se pode colocar em órbita com relação a Baikonur.

Com uma superfície total de 1.000 km2, a nova base vai abrigar, inicialmente, uma única plataforma de lançamento, destinada a foguetes Soyuz, o único atualmente utilizado para transportar humanos para a Estação Espacial Internacional.

Em 2017, começará uma segunda fase de obras para construir uma nova plataforma de lançamento especialmente reforçada para o futuro lançador pesado Angara, que deve substituir o foguete Proton, considerado muito poluente e que sofreu vários incidentes nos últimos anos.

Repetidos escândalosApesar de seu interesse estratégico, o cosmódromo de Vostochni foi pontuado por numerosos escândalos de corrupção, levando a Justiça a abrir dezenas de investigações sobre desvio de fundos.

Em janeiro, o jornal estatal Izvestia estimou em 1,4 bilhão de rublos (18,75 milhões de euros) os fundos desviados durante as obras, enquanto a agência federal responsável por dirigir os trabalhos, Spetstroi, disse que tinha apresentado 31 queixas por corrupção num valor total de 4 bilhões de rublos (53,5 milhões de euros).

Inicialmente previsto para o final de 2015, em outubro o primeiro lançamento foi adiado em quatro meses, enquanto Putin exigiu de Dimitri Rogozin, vice-ministro russo do Espaço, que preparasse tudo para 2016. Missão cumprida, mesmo que com o local ainda em obras.

Faltam alguns trabalhos que, no entanto, não devem afetar o lançamento, assegura Igor Marinin, editor da revista Novosti Kosmonavtiki.

Jornalistas estrangeiros, inclusive da AFP, ainda não têm autorização para assistir ao lançamento inaugural e não está prevista qualquer visita da imprensa.

UtilizaçãoOutro problema da Roscosmos, a agência espacial russa, é que três cosmódromos (Baikonur, Plesetsk e a base europeia de Kuru, na Guiana Francesa) já têm plataformas de lançamento adaptadas para o Soyuz, enquanto Moscou tem dificuldade em encontrar missões para justificar o lançamento a partir de Vostochni.

"Teoricamente, podemos fazer um lançamento todos os dias. Mas a questão é onde encontrar tantos", observa Marinin. Não surpreendentemente, a decolagem inaugural será a único de 2016 e está previsto apenas um lançamento em 2017.

Enquanto a Roscosmos garante que a atividade comercial de Vostochni começará a partir de 2018, Rogozin advertiu em meados de abril que a Rússia iria continuar a usar Baikonur até 2023 para enviar astronautas ao espaço.

Em qualquer caso, os primeiros voos de teste com foguetes Angara não vão acontecer antes de 2021, segundo a agência espacial russa.

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