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Descobridores do vírus da Aids lembram sua odisseia 30 anos depois

Christine Courcol e Richard Ingham

Em Paris

31/05/2011 16h51

 

Os professores Françoise Barré-Sinoussi e Luc Montagnier, descobridores do vírus da Aids e Prêmio Nobel de Medicina em 2008, lembram sua odisseia e expressam suas esperanças 30 anos depois do aparecimento da doença, em 5 de junho de 1981.

Identificação do Virus

"Quando os clínicos nos contataram, em dezembro de 1982, ou seja, 18 meses depois da identificação dos primeiros casos nos Estados Unidos, nunca tinha ouvido falar disso", conta Barré-Sinoussi, 63 anos. Então, "definimos uma estratégia para tentar identificar o agente responsável".

Luc Montagnier, 78 anos, lembra-se do "primeiro cultivo feito" para isolar o vírus. "Foi em 3 de janeiro de 1983, a partir da biópsia de um gânglio do paciente", afirma. "Após alguns meses, nos demos conta de que o vírus era novo, e aí começou a preocupação".

"Tudo ocorreu muito rápido", relata Barré-Sinoussi. "Sabíamos que era transmitido por via sexual e sanguínea, havia um sentimento de urgência, uma necessidade de reagir rapidamente".

Luc Montagnier lembra, também, "a sensação de isolamento". "Os resultados que tínhamos eram muito bons, mas não foram compreendidos pelo restante da comunidade científica, ao menos durante um ano, até o momento em que Robert Gallo confirmou nossos resultados nos Estados Unidos. Foi muito frustrante, sabíamos que tínhamos razão, e nos chocávamos contra um muro".

Tratamentos

Antes de tudo houve a monoterapia e o AZT, "decepcionantes", e os resultados "muito promissores" das triterapias, disse o professor Montagnier. "Os laboratórios começaram a atuar juntos, sob pressão das associações de doentes norte-americanos, para acrescentar um inibidor de uma empresa a um inibidor de outra... foi um êxito inédito na história dos medicamentos".

Ambos falam da utilização de tratamentos para evitar a transmissão da infecção. Barré-Sinoussi é favorável a "utilizar o tratamento preventivo: tentar convencer as pessoas potencialmente afetadas que façam um diagnóstico o mais rápido possível para iniciar um tratamento o mais rápido possível".

Montagnier o considera, por sua vez, "pouco convincente". "São produtos químicos tóxicos, com efeitos imprevisíveis no longo prazo, e é caro. Nem sequer temos dinheiro para tratar todos os pacientes da África..."

A busca pelos depósitos do vírus no corpo

Um dos eixos essenciais da pesquisa são os depósitos, linfa, medula óssea ou tecidos onde o vírus esconde-se, à espera de voltar a sair quando o paciente suspender o tratamento, o que torna a Aids uma doença não curável.

"Agora, está é minha obsessão", reconhece Luc Montagnier.

Françoise Barré-Sinoussi imagina um tratamento que "permitiria diminuir os depósitos do vírus a um nível indetectável" para que em seguida "a defesa imunológica controle essa infecção".

A professora lembra que 0,3% dos pacientes, infectados há mais de 10 anos, "nunca receberam antirretrovirais e controlam de forma natural sua infecção".

Nos laboratórios da África, o continente mais afetado pela infecção, Luc Montagnier e sua equipe atacam os depósitos detectando "sinais eletromagnéticos que provêm do DNA de alguns vírus" e que tratam de fazer desaparecer substâncias vegetais que "têm efeitos antioxidantes e imunoestimulantes". "Fizemos um primeiro ensaio clínico promissor", afirma. Um segundo ensaio estava previsto para breve.