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Nem bicho, nem planta, nem fungo: por que blob é um ser único na Terra

Blob: não tem boca, mas come; não tem cérebro, mas pensa - Divulgação
Blob: não tem boca, mas come; não tem cérebro, mas pensa Imagem: Divulgação

De Tilt

01/04/2023 04h00

O que é, o que é? Não tem boca, mas come; não tem cérebro, mas pensa; não tem pernas mas se move. Parece ficção, mas estamos falando do Blob, "nome artístico" do Physarum Polycephalum, um fantástico ser vivo que habita a Terra há 500 milhões de anos e pode até mesmo nos ajudar a desvendar os segredos do universo.

O blob é um curioso organismo unicelular com muitas peculiaridades. Não é considerado planta nem fungo, mas um organismo primitivo que apareceu há meio bilhão de anos, antes mesmo do reino animal existir. Entre suas características únicas, possui 720 (!) aparelhos sexuais e é quase imortal.

Os cientistas ainda não sabem bem onde encaixá-lo entre os seres vivos. Até os anos 1990 era considerado um fungo, quando foi incluído aos mixomicetos, um grupo de protistas. Também é conhecido como bolor limoso, embora não seja um fungo.

Nome de cinema

Essencialmente, ele é uma célula gigante com muitos núcleos (Physarum polycephalum quer dizer "bolor de várias cabeças"). Essa única célula é capaz de tecer vastas redes exploratórias com seus tentáculos semelhantes a veias.
Esponjoso, amarelo e viscoso, o blob ganhou esse apelido por suas semelhanças com a trama de um filme de terror de 1958 com Steve McQueen sobre uma criatura pegajosa extraterrestre (o "Blob") que devora tudo em seu caminho. No Brasil, o filme ficou conhecido como "A Bolha Assassina". O blob terrestre, porém, é inofensivo.

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O nome 'blob' foi inspirado no filme 'A bolha assassina', de 1958
Imagem: Reprodução

Parece que não se movimenta, mas se locomove a um centímetro por hora em busca de presas, como esporos de fungos, bactérias e micróbios. Ele se expande em todas as direções até encontrar alimentos; então encolhe as ramificações que não encontraram nada e fortalece as que acharam, através de uma série de contrações químicas.

Como possui muitos núcleos, consegue replicar seu DNA e se dividir. É frequentemente encontrado em locais onde há decomposição de folhas e em troncos de árvores, locais frescos e úmidos.

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O blob consegue se mover em busca de alimentos
Imagem: Reprodução

Quando percebe perigo, o blob se "auto-resseca" e entra em uma espécie de hibernação. Nesse estado, é quase imortal. Pode até ser colocado no micro-ondas por vários minutos. Depois, com algumas gotas de água, ele volta à vida, disposto a se alimentar e procriar.

No Centro Nacional de Pesquisa Científica da França, há espécimes com mais de 70 anos. Outras, com mais de 10 metros de extensão. Os franceses são tão fascinados pelo blob que, desde 2019, mantêm um espaço para a célula gigante no Zoológico de Paris.

Célula astronauta

Além de "andar sem pernas" e "comer sem boca", o blob consegue pensar mesmo sendo um organismo unicelular. A criatura é capaz de memorizar, adaptar comportamentos e resolver problemas. Em determinadas situações, comporta-se quase como um animal.

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O blob já foi enviado até mesmo ao espaço
Imagem: Audrey Dussutour/CNRS/Nasa

Apesar de não ter um sistema nervoso central, é capaz de "aprender" com suas experiências, como encontrar caminho por um labirinto até o alimento. Quando se funde com outro, pode transmitir conhecimento. Essas características o tornaram um organismo emblemático de resolução de problemas. É fácil de cultivar e cresce rápido, o que é uma das razões pelas quais tem sido tão bem estudado.

Astrônomos estão até mesmo usando o blob para mapear a teia cósmica, considerada a "espinha dorsal" em larga escala do universo. As redes construídas por essas criaturas são semelhantes a teias e comparáveis aos filamentos criados pela gravidade por todo o cosmos. Além disso, ele foi enviado ao espaço para testar sua capacidade de resistência e adaptação em ambientes sem gravidade.

Fontes: Bruno David, presidente do Museu Nacional de História Natural de Paris e do Parque Zoológico; Merlin Sheldrake, biólogo, autor do livro "Entangled Life"; Audrey Dussutour, etóloga do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França.