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Como o Facebook conseguiu 'desaparecer' da internet? Aqui estão pistas

WhatsApp e Instagram pertencem ao conglomerado do Facebook, liderado por Mark Zuckerberg Imagem: Reuters

Abinoan Santiago

Colaboração para Tilt, em Florianópolis

05/10/2021 16h40

O desaparecimento das rotas por onde os dados dos nossos dispositivos trafegam entre o dispositivo eletrônico e algum endereço na internet parece ter sido o principal motivo para pane global ocorrida ontem (4) nos sistemas do Facebook, WhatsApp e Instagram. Foi o que concluiu uma análise de dados realizada pela CloudFlare, empresa norte-americana referência em serviços de segurança de internet.

O relatório, assinado pelo diretor de engenharia, Celso Martinho, e gerente de rede, Tom Strickx, aponta que a falha que afetou as plataformas do conglomerado de Mark Zuckerberg atingiu o BGP da empresa, que significa Border Gateway Protocol (Protocolo de Portão de Fronteira, em tradução literal). É um sistema que decide por qual rota/caminho os seus dados vão trafegar até chegar ao destino escolhido.

Até o momento, o Facebook divulgou — sem dar maiores detalhes — que o problema foi causado por um erro interno de sistema que afetou seus servidores. Ele ocorreu durante uma mudança de configurações e atingiu os roteadores do backbone ("espinha dorsal", no sentido de rede de transporte) — uma estrutura que coordena o tráfego entre os centros de dados da empresa.

O que o BGP tem a ver?

De maneira simplificada, seria como se o BGP fosse um mapa e os seus dados um carro. Com base neste exemplo, o protocolo, portanto, é o responsável por apontar as melhores ruas para fazê-lo chegar mais rápido a algum destino, que neste caso, seriam os aplicativos vinculados ao Facebook.

Se o BPG sair do ar, como é o que acreditam os especialistas da CloudFlare, não se torna mais possível o internauta chegar aos apps porque os dados estão perdidos sem uma rota para alcançar o destino. É como dirigir um carro de olhos vendados.

De modo sutil, o próprio Facebook aponta para essa motivação ao mencionar, porém, sem mencionar especificamente o BGP. "Essa interrupção no tráfego de rede teve um efeito cascata na maneira como nossos data centers se comunicam, interrompendo nossos serviços", afirmou o comunicado.

Para a CloudFlare, apesar de não mencionar expressamente, o anúncio da empresa indica a interrupção do BGP —e isso implicou em outro problema: o acesso ao DNS do Facebook, que significa Domain Name System, ou Sistema de Nomes de Domínios.

O DNS é um protocolo que relaciona o endereço "nominal" de um site ou aplicativo (site do UOL, por exemplo) com o seu endereço real (número de IP, de Internet Protocol) nos bancos de dados da internet.

Quando se digita, por exemplo, www.uol.com.br, servidores DNS entram em operação e "traduzem" o endereço que você digitou para o IP 200.221.2.45 (relativo ao UOL) e permitem o acesso. Mas para isso, é necessário que algo dê as rotas para o usuário.

Ou seja, o BGP seria o sistema que nos dá o melhor caminho para chegar ao destino final, que é o DNS do Facebook.

Durante a pane global dos apps, o erro nos navegadores apontava para o DNS, mas isso era apenas um sintoma de algo anterior, que era a interrupção do tráfego pelo BGP, diz a Cloudflare.

"As rotas foram retiradas, e os servidores DNS do Facebook ficaram offline", dizem o especialistas da empresa.

Outros especialistas em segurança cibernética também acreditam que o incidente pode estar relacionado a um problema de manutenção do BGP. "O Facebook fez uma atualização dessas estradas", explica Sami Slim, operador do data center da Telehouse, mas "entrou no caminho errado" —o que deixou todas as plataformas inacessíveis.

Quando o problema começou?

Segundo a Cloudflare, a análise de dados mostrou que, por volta das 12h40 (horário de Brasília), foi percebido um pico de mudanças de alterações de rotas pelo Facebook. "Foi aí que o problema começou", sustentam os especialistas.

Isso teria ocorrido, conforme sugerem, durante uma atualização do BGP pelo Facebook, que acabou tornando as rotas de acesso inacessíveis.

"Com essas retiradas, o Facebook e seus sites efetivamente se desconectaram da Internet. Como consequência direta disso, os DNS em todo o mundo pararam", explicam.

Para Martinho e Strickx, a pane global que atingiu a big tech de Zuckerberg é um exemplo de como a internet cada vez mais não se mostra algo simples, mas cheia de complexidades que depende de vários sistemas para funcionar.

"Os eventos são um lembrete gentil de que a Internet é um sistema muito complexo e interdependente de milhões de sistemas e protocolos trabalhando juntos. Essa confiança, padronização e cooperação entre entidades estão no centro de fazer isso funcionar para quase cinco bilhões de usuários ativos em todo o mundo", conclui o relatório.

*Com reportagem de Lucas Carvalho e Marcelle Duarte

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