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Climão? 'Troca de olhares' com robôs intimida humanos

Participante do estudo do IIT joga com um robô iCub: contato visual com robôs 'desestabiliza' humanos Imagem: Divulgação/IIT

Lucas Carvalho

De Tilt, em São Paulo

03/09/2021 13h25

Você se sente desconfortável quando alguém fica te encarando por algum tempo? Mesmo que seja uma pessoa confiável e conhecida? E se essa pessoa for, na verdade, um robô? Segundo um estudo feito na Itália, o olhar de um robô pode nos desestabilizar.

Pesquisadores do IIT (Istituto Italiano de Tecnologia) colocaram seres humanos para competir com robôs humanoides num jogo de tabuleiro. Os cientistas descobriram que os humanos se sentiam intimidados quando o robô olhava para eles durante a partida.

A conclusão do estudo é de que o cérebro humano percebe gestos de robôs humanoides como "sinais sociais". Serem encarados por robôs levou os participantes do estudo a tomar mais tempo antes de tomar uma decisão no jogo, afetando seu raciocínio.

O estudo traz implicações para contextos em que humanos tenham que conviver com robôs que se parecem com pessoas de verdade — ideia que o bilionário Elon Musk promoveu ao apresentar seu Tesla Bot, um robô humanoide desenhado para "tarefas maçantes" e que será usado nas fábricas da montadora Tesla a partir do ano que vem.

O estudo italiano foi publicado na revista científica "Science Robotics" nesta semana e é fruto de um trabalho mais amplo do laboratório de cognição social do IIT. O objetivo é entender como o cérebro humano se comporta com robôs por perto.

Os 40 participantes do estudo foram convidados a jogar o "jogo da galinha" — popular nos Estados Unidos, consiste em posicionar dois carros numa linha reta, cada um em uma ponta, de frente um para o outro, e acelerá-los. O primeiro que desviar para evitar uma colisão perde, e é chamado de "galinha".

O robô que controlava um dos carros era um iCub, um pequeno robô humanoide desenvolvido pela RobotCub Consortium, um projeto financiado pelo Conselho Europeu de Pesquisa da União Europeia. Além de competir com o participante humano, o robô tinha a tarefa de realizar uma eletroencefalografia na pessoa, capturando dados dos eletrodos ligados à cabeça dos voluntários.

Após as 40 partidas, os cientistas perceberam que, em média, os jogadores humanos levavam mais tempo para tomar uma decisão — isto é, desviar do carro que vinha em sua direção ou não — se houvesse "contato visual" com os olhos artificiais do robô iCub.

"Imagine jogar pôquer com um robô. Se o robô olhar para você no momento em que você precisa tomar uma decisão sobre o próximo movimento, você terá mais dificuldade em tomar uma decisão do que numa situação em que o robô desvia o olhar", explica Agnieszka Wykowska, autora do estudo, ao site "EurekAlert".

Já se sabe que os humanos prestam atenção aos olhos dos outros, e que o cérebro reage quando alguém olha para eles ou direciona o olhar para um determinado evento ou local no ambiente. A novidade é que o cérebro humano parece reagir da mesma forma ao olhar de um robô que tenha o formato parecido ao de uma pessoa.

"Os robôs estarão cada vez mais presentes em nossa vida cotidiana", comenta Agnieszka Wykowska, autora do estudo. "É por isso que é importante entender não apenas os aspectos tecnológicos do design de robôs, mas também o lado humano da interação entre pessoas e máquinas."

A expectativa dos pesquisadores é de que empresas que fabricam robôs humanoides levem em conta esse tipo de comportamento ao desenhar suas máquinas, de modo a reduzir o risco de que seres humanos se sintam intimidados pela tecnologia. Ou seja, é bom que Elon Musk abra o olho.

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