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TI virou carreira "salvadora" para estas mulheres que queriam se reinventar

Dorane Antunes e Falande Etienne; histórias de vida mudaram ao aprender tecnologia da informação Imagem: Arquivo pessoal

Renata Baptista

De Tilt, no Recife

28/11/2020 04h00

Uma é mãe de dois filhos e outra é negra e estrangeira. Elas não tinham qualquer experiência na área e estavam em uma idade na qual a maioria dos profissionais já busca estabilização em suas carreiras. Ainda assim, surfando contra a maré, conquistaram espaço num mercado estigmatizado: o da TI (tecnologia da informação).

Segundo dados de 2018 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), as mulheres são 20% dos profissionais contratados na área. O número vem caindo: entre 2007 e 2017, elas passaram de 24% para 20%, diz um estudo da Softex, com apoio da Secretaria de Empreendedorismo do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).

Mas não foram as estatísticas que frearam as intenções de Dorane Antunes, de 35 anos, de fazer uma carreira, e sim a maternidade. Mãe de dois filhos —um de 18 e outro de 11—, ela precisou trancar a faculdade de licenciatura de física na USP (Universidade de São Paulo). Os planos de cursar administração também ficaram para depois.

Dorane Antunes temia que ser mãe atrapalhasse sua carreira Imagem: Arquivo pessoal

Antunes partiu em busca, então, de uma opção de carreira em que pudesse crescer e que, ao mesmo tempo, fosse mais flexível e oferecesse a possibilidade de trabalho remoto, para conciliar com suas atividades de casa.

"Eu era uma curiosa, sempre gostei de ler sobre o assunto. Quando resolvi voltar ao mercado de trabalho, comecei a estudar", diz. Ela começou com cursos online gratuitos para capacitação em linguagens de programação.

"Sei que isso torna tudo mais difícil [ser mulher, mãe e mais velha, sem experiência], mas consegui. Antes eu era mãe, e agora sou mãe e profissional registrada com todos os meus direitos", diz. "O mais velho já disse que vai estudar para ser programador."

Falande Etienne veio do Haiti para o Brasil na busca de uma vida melhor Imagem: Arquivo pessoal

A haitiana Falande Loiseau Etienne, de 35 anos, chegou ao Brasil com o marido há cinco anos em busca de uma vida melhor. Ela entrou como refugiada pela fronteira com o Peru e conseguiu permanência provisória de um ano no Acre. Antes mesmo de o prazo expirar, ganhou permanência definitiva por dez anos e seguiu para Blumenau (SC), onde está até hoje.

Em seu país natal, ela trabalhava como professora de crianças com idades entre sete e oito anos e tinha estudado arquitetura. "Meu conhecimento em tecnologia se limitava a enviar emails", diz Etienne.

Mas, vendo na área de TI uma oportunidade de crescer profissionalmente, começou a fazer vários cursos. Ainda assim, sentia dificuldades em ingressar no mercado. Mulher, negra e estrangeira, precisava mostrar o seu potencial e se posicionar a todo o momento —o marido conseguiu entrar na área rapidamente, e ela seguia buscando um trabalho em TI.

"Cheguei a desanimar, pois a situação estava bem difícil. Mesmo assim foi muito bom ter vindo ao Brasil. Tive a chance de conhecer a cultura e a tecnologia, que em meu país ainda está bem atrás do que vejo aqui", afirma. Etienne atualmente prepara os documentos para pedir a naturalização brasileira.

Decidida a não ter o mesmo destino de suas amigas, que precisaram trabalhar em condições desfavoráveis aqui no Brasil, ela continuou insistindo e estudando até que um trabalho apareceu. Assim como Dorane Antunes, foi selecionada em março para a primeira edição feminina do programa de formação de talentos Padawan, na unidade de Blumenau (SC) da Ambev Tech. Recentemente, foram enfim contratadas, assim como as outras 18 alunas do programa.

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