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Em texto, site não oficial Xiaomi que sumiu segue sem solução para clientes

Imagem: Reprodução

Marcella Duarte

Colaboração para Tilt

17/01/2020 17h40

A loja online Mi Store Brasil, que desapareceu da internet com centenas de encomendas a serem entregues, voltou ao ar na quinta-feira (16) com um comunicado em texto em um novo domínio, o www.mistorebrasil.com.br, alegando ter encerrado suas atividades este ano "por força maior". Ao mesmo tempo, o site —que não tem nenhum vínculo oficial com a fabricante chinesa de celulares Xiaomi— não trouxe soluções imediatas para os clientes deixados na mão.

No texto, a loja aconselha os clientes lesados a obterem o dinheiro de volta junto ao intermediador do pagamento (PagSeguro, Mercado Pago ou PayPal). A orientação causa estranhamento, já que a loja poderia, ela própria, ter solicitado o cancelamento da compra e estornado os valores depositados pelos clientes.

"A empresa, se tivesse a melhor das intenções, poderia até entrar em contato com os clientes e depositar o dinheiro na conta deles, para que a devolução fosse agilizada. Mas imagino que, neste caso, é algo impossível de acontecer", diz Marcelo Bulgueroni, advogado especialista em direito digital.

"Intermediadores, em geral, têm responsabilidade se tiverem sido alertados da fraude e continuaram aceitando pagamentos. Uma disputa é para você dizer que o débito foi indevido. Normalmente para casos em que alguém usou sua conta sem autorização, por exemplo", complementa.

Abrir uma disputa nesses meios não é uma tarefa simples quanto a nota faz parecer. E nem garantia de ressarcimento. Há um prazo para reclamações de fraude ou não recebimento serem feitas —depois disso, o dinheiro é liberado para o vendedor. Esse prazo, em geral, varia de 30 a 45 dias para compras no cartão de crédito.

Cada intermediador tem um tipo de relação estabelecida com a empresa e uma política de proteção diferente. No caso do Mercado Pago, por exemplo, apenas compras realizadas dentro do Mercado Livre estão protegidas. Com a MiStore Brasil, não há nenhum vínculo além do próprio pagamento. E eles já deixaram bem claro para os clientes que os procuraram que "o valor é liberado automaticamente (...) como uma transação bancária convencional (...) não podemos ressarci-lo caso seu vencedor não retorne".

No PagSeguro —principal intermediador de quem pagou por boleto— apesar de sinalizações positivas de que a disputa seria encerrada a favor do comprador, ainda não houve nenhum final feliz. Eles também dizem estar em contato com o vendedor "para buscar uma solução para a reclamação".

A outra possibilidade para os clientes é recorrer ao banco/operadora do cartão de crédito, como Visa, Mastercard e Elo. Há relatos de pessoas que receberam um "crédito de confiança" do PayPal e do NuBank - o dinheiro foi devolvido na fatura, mas não é uma situação definitiva: ele ainda pode ser cobrado novamente, dependendo da análise do caso.

O número de clientes lesados pode passar de 1.000, com prejuízo médio de R$ 1,2 mil (compra de um smartphone), totalizando um golpe que pode passar de R$ 1,5 milhão.

Tive certeza de que eu havia sido vítima de um golpe assim que a Mi StoreBrasil deletou seus perfis das redes sociais. No mesmo dia iniciei o pedido de moderação do meu pagamento feito via cartão de crédito junto ao MercadoPago que, dias depois ao responder, já se adiantaram a dizer que minha compra não era protegida por eles e que NÃO ESTORNARIAM o pagamento mesmo diante de todas as provas de fraude, alegando que somente o vendedor poderia fazer isso
Maria, uma das consumidoras lesadas pela Mi Store Brasil

Conexão com loja física

A MiStore Brasil era o principal site não oficial de compra de celulares Xioami até o retorno da gigante chinesa ao Brasil, em maio de 2019. Durante dois anos, ele entregou os produtos normalmente, apesar de alguns problemas de atendimento, procedimentos nebulosos e informações cadastrais suspeitas.

A MiStore Brasil pertencia à MEI (Micro Empreendedor Individual) Action Sales Companhia Digital LTDA, de propriedade de Anderson Figueredo dos Santos. O CNPJ da Action foi desativado no domingo (12).

Mais uma empresa aparecia como criadora do e-commerce: a JCell, que tem lojas físicos onde vendem aparelhos Xiaomi e Apple. Há uma loja de rua em Timbó (a matriz), uma em um shopping de Blumenau, e quiosques chamados MiStore Brasil (sim, o mesmo nome do site) em Joinville, todos em Santa Catarina.

A nota insinua que as lojas físicas sejam franquias. Mas, boa parte das faturas de clientes lesados, em geral dos que pagaram via cartão de crédito, foram emitidas pela JCell (JH Eletrônicos), mais uma MEI em nome de Jorge Juarez Krause. É a única empresa envolvida cujo CNPJ continua ativo.

Apuramos que duas apreensões da Receita Federal foram realizadas na JCell de Timbó no final de 2019. Veja as notícias no site da própria Receita aqui e aqui. A imagem abaixo seria de uma dessas operações.

Foto de operação da Receita Federal na loja JCell, associada à Mi Store Brasil, em Timbó (SC) Imagem: Reprodução

Dois processos aduaneiros (problemas com importações) em nome da JCell constam em consulta no Ministério da Fazenda. Segundo moradores de Timbó que nos enviaram imagens, a matriz está fechada desde o início da semana, apenas com as luzes internas acesas.

O site da JCell também foi tirado do ar e não conseguimos contato por telefone ou redes sociais —o Instagram ainda está ativo mas não recebe postagens há meses. Os domínios de ambos os sites, da JCell e da MiStore, estavam relacionados a uma terceira pessoa: Julio Cesar Hintemann Filho.

Dois ex-funcionários ouvidos pela reportagem garantiram que Julio, de 25 anos, é o verdadeiro dono do negócio, tanto das lojas físicas como do site. "Ele que comandava todas as operações. O Jorge era um dos laranjas dele, eles sempre andavam juntos, se não me engano são cunhados", afirmou uma das fontes.

A foto abaixo, postada por Jorge Krause, mostra ele no colo de Júlio Hintemann (que está com um uniforme laranja da MiStore Brasil), dentro de uma das lojas físicas.

Imagem: Reprodução/Instagram @jorginhodabike

Na quinta (16), quando reativaram o site apenas para publicação da nota, o domínio da MiStore Brasil e da JCell (que continua fora do ar) foram editados para nomes de outras pessoas. Mas, continuam sob os CPFs de Júlio e de sua esposa, Tainá. No campo de contato, ambos remetem ao email duvidosapessoa@gmail.com. Bem duvidoso, mesmo.

A maioria dos clientes que pagaram com boleto relatam que o beneficiário era uma terceira empresa: a PAD Eletrônicos. É uma MEI aberta em novembro de 2019 e já fechada também no domingo (12), em nome de Paulo Andrey Silva Dias.

A PAD é proprietária de outra loja online falsa, a Huawei Store Brasil, que também foi retirada do ar esta semana. Ela também se declarava parte da Action Sales, "gestora da conceituada loja www.mistorebrasil.com".

A reportagem tentou falar com Julio Cesar Hintemann Filho e com Jorge Juarez Krause, pelos telefones das empresas, emails fornecidos no cadastro do CNPJ e também por mensagens em seus perfis nas redes sociais.

Até o momento, apenas Julio retornou, com a seguinte mensagem: "Inicialmente agradeço o contato, e desde já informo que nosso departamento jurídico já foi acionado e está analisando a situação como um todo, sendo que em breve lançaremos uma nota pública, tencionando esclarecer todos os equívocos que vem sendo divulgados pela mídia digital".

A operação oficial da Xiaomi no Brasil ressalta nenhuma conexão com a Mi Store Brasil. "A DL, importador e distribuidor oficial dos produtos da Xiaomi no Brasil, informa que tomou ciência do caso a partir das matérias publicadas na imprensa e que não tem qualquer envolvimento com a operação e a loja online em questão", diz.

Se você também foi lesado por uma das falsas lojas, deixe seu comentário abaixo e entre no um grupo de Telegram criado pelas vítimas.

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