Celular ao volante: comando de voz é solução para evitar distração?
As tecnologias de comando de voz não são nenhuma novidade nos automóveis de primeira linha. Mas, com a popularização dos smartphones nas mais variadas classes sociais, a indústria automobilística tem investido cada vez mais para levar esse recurso aos carros tidos como populares --embora os preços não sejam tão acessíveis assim (cerca de R$ 40 mil). Mas será que a função é realmente eficiente?
Segundo um estudo do NHTSA --departamento de Trânsito dos Estados Unidos--, o uso de dispositivos móveis ao volante aumenta em até 400% o risco de acidente. Um risco maior inclusive do que o causado pela embriaguez. Ainda assim, como aponta uma pesquisa feita pela Sbot (Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia), 32% dos motoristas cariocas e 28% dos paulistas assumem não desgrudarem do celular enquanto dirigem.
O comando de voz --recurso que já integra a maioria dos smartphones, mas que também pode ser encontrado em rádios com bluetooth, em quase todos os carros top de linha e em alguns veículos mais populares-- possibilita teoricamente que o usuário use o celular sem a necessidade de manter as mãos e o campo de visão ocupado. A grande dúvida, no entanto, é em relação a atenção. É possível usar o recurso e se manter atento ao trânsito?
Para responder a essa questão, o UOL Tecnologia convidou dois especialistas ligados ao Laboratório do Movimento da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) para testar o Novo Ka, bem como a tecnologia SYNC Applink --que conecta aplicativos Android e iOS ao sistema de comando de voz.
"Não há dúvida que o comando de voz é bem mais seguro do que o uso do celular em si", afirma Angelica Castilho, pesquisadora da área de biomecânica do movimento, com ênfase em avaliação funcional. "As mãos e os olhos realmente tendem a ficar mais dedicados ao dirigir, mas a atenção acaba sendo dividida entre as duas funções", acrescenta.
A divisão da atenção, como ela explica, não é muito recomendada. "Isso porque comandos simples e essenciais de trânsito --como dar seta ou parar em uma faixa de pedestre-- podem ser esquecidos." Para evitar esse tipo de problema, o pesquisador Marcos Maurício Serra orienta que o motorista sempre priorize a atenção no trânsito. "Se você não estiver bem treinado com o uso da tecnologia, você acaba se distraindo e até se irritando."
Uso com restrição
Apesar das possíveis distrações, tanto Angélica como Serra recomendam o uso do recurso com algumas restrições. "Primeiro, domine a tecnologia antes de começar a dirigir", afirmou a pesquisadora, que acrescenta que o uso do recurso tende a não favorecer os idosos. "Eles têm mais dificuldade em usar tecnologias e, principalmente, ter a sua atenção dividida. Estudos mostram que os reflexos dessa geração ficam muito mais lentos pelo simples ato de falar enquanto dirigem."
Outra recomendação da especialista é que os usuários evitem ter conversas que possam afetar o seu humor enquanto dirigem. "A irritação com o conteúdo da ligação tende a ser descontada no trânsito, o que não é algo nada legal. Portanto, saiba escolher com quem e o tipo de conversa que vai se ter na direção", diz Angelica. Recomendações que, segundo Serra, não são específicas à tecnologia do Novo Ka.
Uma crítica específica ao Novo Ka --mas que não deixa de se aplicar às demais tecnologias existentes no mercado—está relacionada à falta de aplicativos considerados excessivos para os usuários. "Hoje o principal meio de comunicação é por mensagens: WhatsApp, Facebook, Messenger. Portanto, enquanto essa tecnologia não incluí-los, vai ficar quase impossível fazer com que o usuário deixe de usar o celular enquanto dirige."
Limitação que também foi constata durante os testes feitos pelo UOL Tecnologia. Embora a tecnologia do Novo Ka permita a realização de chamadas de voz e o envio de SMS [algo que tem se tornado cada vez mais raro com os apps de mensagens instantâneas], não está conectada à apps considerados básicos pelos motoristas, entre eles o aplicativo de trânsito Waze ou qualquer outro com funcionalidade semelhante.
O SYNC Applink, atualmente, é compatível apenas com aplicativos de localizador (Glympse), estações de rádio (Aupeo!), músicas (Spotify) e vagas de estacionamento (Onde Parar). A ausência de apps relevantes talvez possa ser justificada pelas limitações do painel, que tem uma visualização bastante restrita devido ao seu tamanho. Também não é muito simples de se usado. Para conseguir compreender seu funcionamento, o manual é de grande valia. Talvez se a tela fosse touch grande parte dos problemas de usabilidade seria resolvido.
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