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Mulher negra tem foto usada em falso anúncio de venda de bebê no Facebook

Raíssa Gomes, 25, teve uma foto usada em falso anúncio de venda de criança. Raíssa acredita que a imagem tenha sido roubada após uma busca no Google - Arquivo pessoal
Raíssa Gomes, 25, teve uma foto usada em falso anúncio de venda de criança. Raíssa acredita que a imagem tenha sido roubada após uma busca no Google Imagem: Arquivo pessoal

Jéssica Nascimento

Do UOL, em Brasília

13/05/2015 09h57

Uma jornalista brasiliense foi vítima de racismo e difamação em um post publicado no Facebook nesta segunda-feira (11). "Vende-se um bebê! R$ 50. Como não achei Cytotec - remédio abortivo -, eu e minha mulher resolvemos vender a criança", diz a mensagem divulgada em um grupo de compra e venda de produtos em Salvador (BA). Para ilustrar a notícia, o autor identificado como "Laio Santiago" - que apagou o perfil no mesmo dia - utilizou a foto de Raíssa Gomes, 25, quando estava grávida de nove meses.

A jornalista denunciou o caso à 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte) no final da tarde de segunda. A Polícia Civil do Distrito Federal informou que só irá se manifestar após o término das investigações.

"Espero que a Justiça encontre o responsável e que ele responda legalmente por isso, mas, acima de tudo, espero que isso sirva de exemplo para outras pessoas e que possamos nos unir como uma sociedade que lute contra opressões racistas, machistas e de todas as naturezas", disse.

Raíssa conta que a foto foi tirada há cerca de dois anos e que ficou surpresa ao saber da publicação. "Um amigo estava no grupo e me alertou. Fiquei mal. Nós, negros, sofremos preconceito em vários momentos da vida. Mas episódios como esse, de utilização da minha imagem, foi o primeiro."

Ela acredita que o autor da ação tenha pego a imagem da busca do Google. "Em 2013, fiz um texto para o 'Blogueiras Negras' contando um episódio de racismo institucional que sofri durante a gestação. A foto estava na publicação", conta.

Para Raíssa, o responsável pela postagem é mais uma pessoa da sociedade brasileira que tem o pensamento moldado a partir de referenciais racistas.

"Desconstruir esse imaginário é um desafio árduo e cotidiano. A postagem dele, não é só dele. Carrega um peso e um significado que é moldado desde antigamente. As pessoas ainda consideram os negros como seres inferiores", desabafa.

Além do boato, vários comentários racistas foram publicados na postagem. "Nego tá pensando que é ken?", diz uma das mensagens. Raíssa também sofreu retaliações dos internautas. Ela foi chamada de assassina de crianças.

"Não recebi mensagens porque o meu perfil não estava associado ao post. Porém, nos comentários, pude observar muitas pessoas raivosas acreditando que eu queria vender a criança. Lembrei imediatamente do caso da dona de casa Fabiane Maria de Jesus, que foi linchada no Guarujá (SP) depois de ter sua imagem associada a um boato espalhado pelo Facebook e que também envolvia crianças", lamenta.

Internet não é "terra sem lei"

A advogada Suelen de Souza explica que muitos daqueles que praticam crimes por meios virtuais ainda agem como se a internet fosse uma terra sem lei ou território sem dono.

"Todo ato praticado ou tudo o que é falado em meios virtuais pode ser rastreado, ainda que seja um perfil falso. Nenhuma identidade é desconhecida na rede. A depender do caso, quem divulga a informação, sem averiguar a veracidade ou gravidade do conteúdo, também pode responder com o autor do fato", informa a especialista em crimes na internet.

Segundo a advogada, o autor da postagem pode responder, principalmente, pelos crimes de calúnia - cuja pena prevista é a detenção de seis meses a dois anos e multa -, seguido pelos crimes de difamação e injúria, ambos com sanção de três meses a um ano, também com inclusão de multa.