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OPINIÃO

Death's Door: mistura de Hades, Zelda e estúdios Ghibli rende um jogaço

Death"s Door - Reprodução/Acid Nerve
Death's Door Imagem: Reprodução/Acid Nerve

Por Marcellus Vinicius

Colaboração para o Start

21/07/2021 04h00

Death's Door não precisa de muito para despertar sua curiosidade. O novo jogo do estúdio britânico Acid Nerve, conhecido pelo sucesso de Titan Souls (2015), já havia chamado atenção só pelo que seu primeiro trailer nos apresentava.

Era algo único: um corvo espadachim que trabalhava como mensageiro da morte em um escritório todo em preto e branco, em uma estética visivelmente inspirada em filmes noir. A princípio, a ação remetia ao gênero roguelike, como o aclamado Hades, e mostrava também elementos de exploração típicos da série The Legend of Zelda.

Mas seria Death's Door simplesmente isso: um sopão de boas referências? Ou há algo nele de especial que é maior do que a soma dos elementos que o inspiraram?

Para responder isso, como no próprio jogo, precisaremos abrir algumas portas.

Death's Door - Reprodução/Acid Nerve - Reprodução/Acid Nerve
Imagem: Reprodução/Acid Nerve

Primeira porta: o legado de Titan Souls

É importante saber que a ideia de Titan Souls, o primeiro sucesso da Acid Nerve, nasceu em uma game jam. Foi uma competição em que os desenvolvedores tiveram apenas dois dias para começar e concluir o projeto, dentro de um tema específico. Por conta dessa limitação, o resultado é bem minimalista - mas jamais superficial.

Como Titan Souls não teve tempo de explorar muitas ideias diferentes, ele se aprofunda tanto quanto pode em uma única proposta, para extrair dela o máximo de possibilidades. A sacada era que o protagonista contava apenas com uma única flecha e precisava encontrar meios de usá-la e reutilizá-la para vencer batalhas contra vários chefes gigantes.

Em Death's Door, os criadores não tiveram essa limitação de tempo. Pelo contrário, o desenvolvimento tomou anos. Mas herdou-se a filosofia de polir e explorar cada nova mecânica do jogo. São várias ideias, armas, inimigos e obstáculos, e tudo parece dançar em um ritmo e sintonia ideais para proporcionar uma experiência de jogo gratificante e requintada, desafiadora sem se tornar frustrante.

Entender esse legado é entender também o amadurecimento do trabalho do estúdio. Mas Titan Souls não é, de forma alguma, a única obra do passado a deixar uma marca visível em Death's Door.

Death's Door - Reprodução/Acid Nerve - Reprodução/Acid Nerve
Imagem: Reprodução/Acid Nerve

Segunda porta: inspirações que transcendem gêneros

Pouco mais de uma semana antes do lançamento, a conta oficial da Acid Nerve disse em um tweet que Death's Door não é um roguelike. Por mais imprecisa que a definição desse gênero possa ser, dá pra observar no jogo algumas decisões que de fato o afastam de referências recentes do gênero, como Hades, Dead Cells e Rogue Legacy.

Pra começar, as fases não são procedurais, ou seja, não são geradas aleatoriamente a cada nova tentativa. Isso dá aos desenvolvedores um controle muito maior sobre como se dará a exploração e também sobre o ritmo em que a história vai se desvendando. Explorar o mundo do jogo e conhecer os detalhes do seu enredo são coisas que andam em conjunto aqui. Então, a comparação mais justa seria com títulos como Hollow Knight e Hyper Light Drifter.

Como já citado, Zelda teve um papel fundamental também. As situações de combate dividem espaço com muitos quebra-cabeças que exigem de você um uso inteligente dos cenários e das armas para conseguir abrir caminho. As habilidades que você consegue durante a exploração te ajudam não apenas a chegar a novos lugares na trama principal, mas também a encontrar segredos, desafios opcionais e itens colecionáveis.

Além da estética noir e dos jogos favoritos dos seus criadores, Death's Door buscou inspiração também em outras mídias e linguagens. As animações do estúdio Ghibli, em particular, parecem ter exercido bastante influência na direção de arte e na caracterização de alguns dos personagens do jogo (spoiler de boa: espere só até você encontrar a bruxa viciada em vasos e panelas!)

Essas referências pavimentam o caminho que o jogo se propõe a trilhar, mas jamais roubam o protagonismo e impedem que Death's Door tenha identidade própria. Sua personalidade e singularidade surgem principalmente da forma como equilibra suas inspirações estéticas e os temas que procura discutir.

Death's Door - Reprodução/Acid Nerve - Reprodução/Acid Nerve
Imagem: Reprodução/Acid Nerve

Terceira porta: falando de morte em tempos sombrios

Em tempos de luto constante como os que vivemos atualmente, é uma tarefa delicada abordar a morte como tema central de uma obra. A forma como Death's Door trata isso é, nas palavras dos próprios desenvolvedores, genuinamente britânica: usar humor para suavizar tópicos sombrios. Mas o jogo vai além e se empenha em transmitir uma visão bastante acolhedora não apenas sobre a vida, mas também sobre a finitude.

Esse equilíbrio entre o macabro e o fofinho é algo que acompanha a experiência de diversas maneiras. O clima opressor dos inimigos que você está caçando (e da própria natureza da sua missão) contrasta com o abraço quentinho que o jogo te dá na trilha sonora, na direção de arte, na gentileza dos aliados que você vai encontrando pelo caminho. Vamos da melancolia ao aconchego, da adrenalina à contemplação, de maneiras que só reforçam a mensagem desejada dentro de um tema tão delicado.

Havia, sim, o risco do jogo discutir isso de forma desastrada e desrespeitosa, ainda mais considerando que seu desenvolvimento já se encontrava em um estágio bastante avançado no começo de 2020, quando a pandemia de covid-19 se espalhou pelo mundo. No entanto, o que acontece é o exato oposto: é justamente o momento que torna a mensagem de Death's Door tão tocante e pertinente.

Death's Door - Reprodução/Acid Nerve - Reprodução/Acid Nerve
Imagem: Reprodução/Acid Nerve

O melhor jogo de corvo espadachim de todos os tempos?

Death's Door é especial. Se crítica e público lhe fizerem justiça, será lembrado como um dos melhores jogos de 2021. Não apenas isso, mas há nele um temperinho caseiro e único capaz de colocá-lo em uma prateleira pomposa, lado a lado com os melhores representantes do seu gênero.

Mas antes de ser isso tudo, ele é essencialmente um convite. Uma porta que se abre para entrar em contato com referências que marcaram a história dos seus criadores, e que passeiam por vários personagens, ambientes e desafios com o intuito de contar uma história. Uma história que, por tratar de finitude, trata também de todos nós.

E portas como essa, uma vez abertas, nunca mais se fecham.
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Lançamento: 20/07/2021
Plataforma: PC e Xbox Series S/X
Preço sugerido: R$50,00 (Steam)
Classificação Indicativa: 10 anos
Desenvolvimento: Acid Nerve
Publicação: Devolver Digital
Jogue também: Titan Souls, Hyper Light Drifter

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL