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"Daemon X Machina" tenta resgatar a era de ouro dos mechas

Daemon X Machina - Divulgação
Daemon X Machina Imagem: Divulgação

Makson Lima

Colaboração para o START

22/09/2019 04h00

É difícil lidar com expectativas. Como alguém que curte bastante robôs gigantes, eu queria muito jogar "Daemon X Machina", ainda mais quando soube do envolvimento de Kenichiro Tsukuda, um dos principais nomes por trás da franquia "Armored Core". A demo, liberada há algum tempo, serviu como um alerta que eu fingi ignorar: tinha algo de errado ali.

Agora, depois de jogar, os problemas ficaram claros. "Daemon X Machina" tem uma história nada interessante, e mesmo os combates de mechas, que foram vendidos como a grande atração, são uma parte muito pequena do pacote todo. O jogo da Marvelous tenta resgatar a era de ouro dos mechas, mas fica no meio do caminho.

O apocalipse de cada dia

Daemon X Machina - Divulgação - Divulgação
Você e seu arsenal, um caso de amor
Imagem: Divulgação

Fragmentos da Lua despencaram em nosso planeta, dando início a uma nova era de caos e destruição. Desses nacos, uma substância começou a vazar. Chamada Femto, criou uma legião de inimigos, os Immortals, cujo objetivo sempre pareceu a total aniquilação de nossa espécie. Os sobreviventes, Reclaimers, se uniram em grupos, formando frentes de defesa com robôs gigantes, os Arsenal, como principal arma. Acontece que Femto está em todas as coisas: corrompendo máquinas, o planeta em si e até, de forma mais lenta, esses corajosos salvadores da humanidade. O que tem início como pura sobrevivência, escalona para algo profético, com a evolução da espécie no centro do universo.

"Daemon X Machina" é desinteressante, para colocar da forma mais direta possível. São inúmeros personagens surgindo por minuto, cuspindo suas frases de efeito, tão cansadas quanto seus próprios apelidos e motivações. Abyss é a sociopata, Grief é o taciturno, Savior, o pedante, Johnny G, o empolgado e por aí vai. Até Four, a IA que nos concede objetivos e funciona como mediadora entre os diferentes conglomerados que regem o mundo, cansa. Nosso personagem, chamado apenas de Rookie, surge de súbito em meio a esse antro de clichês em mechas e, apesar das várias opções na hora de criar seu avatar, funciona como o cansado "protagonista mudo", sempre presente, sempre ausente, demasiadamente importante.

A trama poderia ser vista de forma totalmente secundária, caso não tomasse tanto de nosso tempo. São intermináveis sequências de troca de mensagem entre os mercenários antes de as missões terem início, e isso assombra as longas quinze horas da campanha, porque não são poucas as vezes que esse mesmo papo furado atropela até o calor da batalha. Intercalam cutscenes nada inspiradas, de plano/contra-plano, e blocos de diálogo, como num aplicativo de conversa, como se o orçamento fosse mesmo baixo. A dublagem segue a mesma linha de raciocínio, e, muito estranhamente (pois há a opção de vozes em japonês) só funcionou em inglês em nossa cópia digital. Ou seja, nada além de embaraçoso.

Bem-vindo ao seu campo de batalha

Daemon X Machina Infos - Reprodução - Reprodução
Sim, é muita informação, mas você vai acabar agradecendo
Imagem: Reprodução

Mas tudo bem, porque o que importa mesmo são os combates, certo? "Daemon X Machina" foi vendido de forma um tanto quanto enganosa, para ser sincero. Os confrontos com máquinas gigantes, até robôs ainda mais colossais, serviram de foco ao marketing, e são uma fração ínfima do jogo final, ainda que os gráficos, simples, se sobressaiam por conta de sua paleta de cores vivas e espalhafatosas, mesmo compondo cenários, na maior parte das vezes, genéricos e pouco inspirados. Por sorte, a trilha sonora é ótima: metal empolgante e de peso, cortesia de Junichi Nakatsuro, veterano da Namco e de franquias como "Tekken" e "Soulcalibur".

A curva de aprendizado, como grande parte dos jogos de robô gigante, é íngreme. Leva um certo tempo para dominar o quão vertical é a movimentação de seu Arsenal, como o sistema de lock-on é solto e a forma de se acionar diferentes manifestações do Femto, e isso faz toda diferença do mundo. O que intimida, a princípio (ou atraí, depende mesmo do seu nível de fetiche), é o quão poluída é a interface de usuário. É tanta informação na tela, que é fácil perder noção do que é o quê. De forma inteligente, a Marvelous tornou o HUD o mais personalizável possível, acontece que você precisa daquelas informações. Como está a perna esquerda do seu robô? Quanto de munição de bazuca ainda há disponível? E a estamina? Preciso acelerar a movimentação, mas tenho que atentar ao resfriamento, fora a barra de Femto, importantíssima.

Talvez para tornar a experiência acessível, a dificuldade tenha sido atenuada a ponto de gerar tédio. Apesar de as IAs inimigas, por vezes, encherem a tela (e o Switch segura bem a taxa de quadros), eliminá-las é como brisa de Femto. A variedade de missões já conversa com essa ideia tediosa, isso quando não se torna constrangedoramente frustrante, como quando precisamos deixar o Arsenal e seguir de forma furtiva, a pé. No todo, raramente fogem do "aniquilar todos os inimigos da área", ou "escoltar a carga", ou ainda "investigar aquela região, com a certeza de que seu objetivo vai bater de frente ao de outros mercenários". Inclusive, há problemas sérios de continuidade quanto a esse choque de egos, pois travar batalhas com outros pilotos num momento, significa absolutamente nada noutro. E preciso ressaltar o seguinte: cheguei até o último chefão do jogo sem ver a tela de "game over" uma única vez. No entanto, tive aí uma batalha nível "Sekiro". Que diabos foi isso?!

Mercenários unidos e personalizados

Daemon X Machina Mecha - Reprodução - Reprodução
Existem muitas opções na hora de montar o seu mecha
Imagem: Reprodução

A melhor parte de "Daemon X Machina", sem dúvida, é o quão personalizável nosso Arsenal é e o quanto isso interfere na forma com o jogamos. Cada parte do robô é intercambiável, da cabeça aos braços e pernas, e até seis armas diferentes podem ser levadas ao campo de batalha. Intercalar entre espadas, escopetas, mísseis teleguiados e lasers, em concomitância, é nada além de prazeroso, e fazê-lo em alta velocidade, fugindo dos ataques furiosos de um verme mecânico colossal, é o que "Daemon X Machina" tem de melhor a oferecer.

Como também convidar amigos ou desconhecidos para missões. Online, você e mais três pessoas podem acessá-las fora da campanha principal, de forma cooperativa, a fim de juntar dinheiro e equipamento extras. Já que a loja do hangar quase nunca oferece algo de realmente válido para comprarmos, sucatear restos dos Arsenal derrotados é a melhor maneira de conseguir novos armamentos. É possível, ainda, criar equipamentos tendo como base algo relativamente menos potente, assim como gastar dinheiro com prostéticos para o piloto e robô também funcionam como evolução.

"Daemon X Machina" tenta resgatar a era de ouro dos jogos de ação em mecha, mas os efeitos colaterais foram muitos. Com seus controles destrambelhados, pouca variedade nas missões e nos inimigos, o jogo não consegue reviver os dias de glória do gênero, que teve em "Zone of the Enders - The 2nd Runner" sua obra-prima. Talvez esses jogos tenham mesmo lugar cativo no passado, funcionando melhor como uma memória querida? Cabe a você (e seu amor a Gundam) responder a essa pergunta.

Daemon X Machina

Dameon X Machina capa - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação
"Daemon X Machina" tenta resgatar a era de ouro dos jogos de ação em mecha, mas falha com seus controles destrambelhados, pouca variedade nas missões e nos inimigos. Uma história pouco interessante também compromete o resultado final.

Lançamento: 13/09/2019
Plataformas: Switch
Preço sugerido: R$ 250,79
Classificação indicativa: 12 anos (Violência, Linguagem Imprópria)
Desenvolvimento: Marvelous First Studio
Produtora: Marvelous/Nintendo

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