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Call of Duty 4: Modern Warfare

07/12/2007 19h00

"Call of Duty" começou sua trajetória em 2003. Em meio a tantos jogos de tiro em primeira pessoa que se passavam na Segunda Guerra Mundial, o título da produtora Infinity Ward se notabilizou pela condução do roteiro. Afinal, se é para limitar o jogador numa narrativa pré-determinada, então, melhor que as situações vividas sejam tão intensas e dramáticas quanto possíveis. Assim, "Call of Duty" fez uma estréia retumbante e as continuações mantiveram a reputação (apenas a terceira edição, feita pela Treyarch, não é exatamente unanimidade).

De lá para cá, a Segunda Guerra Mundial foi revisitada tantas vezes - games com essa temática são quase um subgênero - que começou a cansar. Agora, diante dos desdobramentos da política internacional em face do 11 de setembro e passados tantos anos do fatídico dia, as guerras modernas passaram a entrar na mira das produtoras. "Call of Duty 4: Modern Warfare" seguiu esse caminho, mas fez muito mais que apenas mudar a era retratada.

Se os jogos que se passava na Segunda Guerra pareciam se inspirar em "O Resgate do Soldado Ryan", o clima do novo "Call of Duty" tem um quê de filmes de guerra como "Falcão Negro em Perigo". E cinematográfico é a palavra de ordem em "Modern Warfare", não apenas pelo fato de o visual ser espetacular, por (muitas) vezes foto-realista, mas trazer uma condução de roteiro brilhante, superando até mesmo os antecessores, que faz o jogador ficar imerso dentro do teatro de operações.

Combate ao terror

Fidel Castro comenta o jogo
O enredo se desenvolve em duas frentes. Numa ponta está um soldado novato da SAS, as forças especiais do Reino Unido, enquanto, em outro arco, vive-se um Marine dos Estados Unidos. Os dois exércitos atuam em duas situações que podem levar perigo para o ocidente: numa delas, um país do Oriente Médio sofre um golpe de Estado, e o novo governo militar declara uma guerra santa contra o "Grande Satã"; em outra, ultranacionalistas russos também planejam um grande ataque. O pano de fundo pode não ser dos mais criativos, mas "Call of Duty 4" compensa isso com uma produção bem-cuidadosa, cuja sensação é estar participando de um filme de guerra.

O modo de campanha começa com um treinamento, que tem dois propósitos: explicar os comandos e avaliar a capacidade do jogador. Dependendo do tempo com que conseguir terminar o percurso, o jogo aconselha um dos quatro níveis de dificuldade, que vai do "recruit" até o "veteran". Entrando nas operações de fato, começa a montanha-russa de emoções. Os controles nos consoles são até simples para um game do gênero, mas é prático e funcional, além de ter respostas rápidas e precisas. Melhor que isso, só tendo teclado e mouse, como no PC.

Na linha de fogo

Como os antecessores, a progressão é basicamente linear, mas um design de fases primoroso faz com que o jogador tenha tantas alternativas que faz lembrar games de exploração com mapas expansivos. Essa via larga permite a criação de várias estratégias para derrotar os oponentes. Mais que isso, a utilização de todos os espaços se torna necessária pelo fato de os inimigos serem muito numerosos e, principalmente, mais inteligentes.

É verdade que, na maioria das vezes, eles parecem, no máximo, ficar protegidos atrás de paredes e outros obstáculos, atirando quando tiver chance. O fato de o jogo trazer uma mira automática facilita o serviço, mas nem por isso, a dificuldade é baixa. Ocorre que, ficar parado num mesmo esconderijo não é uma boa idéia. Os adversários possuem lança-foguetes e soltam granadas freqüentemente, para fazer você e seus companheiros saírem de suas posições e, assim, se expor ao perigo. Mas, ainda há uma alternativa: jogar de volta a granada.

Nas dificuldades mais altas, além do poder de fogo implacável, os inimigos começam a pensar em táticas para cercar seu grupo. Enfim, as possibilidades de usar o cenário funcionam para ambos os lados e dominar o recurso é tão importante quanto sua capacidade de mirar e atirar.

Mundo moderno é palco de guerra
Como se esses tiroteios intensos não fossem o suficiente, a produtora acrescenta na receita, a exemplo dos antecessores, inúmeras situações para dar mais variedade à ação. A primeira fase, por exemplo, envolve uma emocionante fuga de um navio em meio a uma tempestade. Depois, o jogador ainda assume artilharias num helicóptero e num AC-130, equipado com três tipos de armamentos, inclusive uma ignorante 105 mm. Esse é um momento em que o jogador se sente extremamente poderoso, tal a capacidade destrutiva desses equipamentos.

Uma das fases mais emocionantes é uma missão de assassinato, no qual o jogador e seu superior se infiltram em campos inimigos, equipados com rifles de precisão. Costurando caminhos, a dupla busca maneiras de passar despercebida em meio ao exército adversário. Mas "Call of Duty 4" também é cultura. Você sabia que, além do vento, um tiro de longa distância também deve levar em conta a influência da rotação da Terra, o chamado efeito Coriolis? E que o custo operacional de um bombardeiro "invisível" B-2 é de US$ 2,2 bilhões?

Encarnando um personagem

Com dito, o sentimento de "pertencimento", de estar dentro de um filme é muito forte. Mesmo sem dizer uma palavra, os protagonistas parecem interagir com os companheiros a todo instante. Não se trata de um game de esquadrão, no qual você dá ordens. Em teoria, você é apenas mais um dentro do pelotão, e cada soldado age com sua própria inteligência artificial. Mas a produtora sabe que o jogador deve se sentir o centro das atenções e lhe deixa as melhores partes. Por exemplo: ao adentrar uma casa, quase sempre sobra alguém para ser eliminado. Ele está ali, bem a vista. E todos os atos heróicos ficam a cargo do jogador.

O termo cinematográfico e a condução da narrativa foram levados tão a sério que existem longas cenas especiais que visam aumentar a dramaticidade. A primeira acontece no começo do game, junto com os créditos, quando o jogador é levado num carro. Dali, pode-se observar pelas janelas todo o caos resultante do golpe de Estado. É inacreditável a riqueza do panorama. A segunda situação é desoladora, que acontece depois de uma explosão (e bota explosão nisso). Poucas vezes uma cena de videogame foi tão rica e impactante.

Jogos bons assim parecem que o tempo passa num instante, mas o fato é que a campanha é curta. Se não encontrar dificuldades, e não perder muito tempo procurando os itens secretos, a modalidade pode ser terminada em cinco ou seis horas. E num game que acontece com um esquadrão, não ter uma modalidade cooperativa parece oportunidade perdida. O único extra que aparece para quem terminou a campanha é um modo arcade, com vidas contadas e pontuação.

Quase um jogo a parte

Mahmud Ahmadinejad em breve análise
Mas aqueles que tiverem uma assinatura Ouro na Live podem desfrutar um dos mais empolgantes multiplayer dos últimos tempos. A modalidade é robusta: suporta até 18 jogadores nos consoles e 32 no computador, e possui 16 mapas e 13 modalidades. E tudo isso pode aumentar com atualizações (que, provavelmente, deverão ser pagas). O desempenho é excelente, e, se ocorrem tropeços de conexão (o chamado lag), é mais provável que o problema esteja em fatores externos ao game. Como sempre, uma partida entre jogadores de vários continentes tende a ser mais problemática do que uma sessão feita só de brasileiros.

Um multiplayer "simples" em "Call of Duty 4" já teria diversão para dar e vender, mas a Infinity Ward colocou mais recheio para deixar tudo mais irresistível. A modalidade conta com um sistema de experiência persistente, que, quando acumulada, libera mais conteúdo. São adicionadas novas classes (arquétipos que definem os equipamentos e habilidades do avatar), por exemplo. Depois de um certo nível, o jogador poderá personalizar o "boneco", atribuindo-lha armas e "perks" (habilidades), e não apenas usar classes pré-fabricadas. E, conforme for avançando e completando os desafios, mais opções são liberadas. É a mesma artimanha que faz alguns RPG online serem tão "viciantes".

Há também bônus que valem apenas para uma partida. Quando se consegue eliminar certo número de adversários sem morrer, ganha-se vantagens especiais. Com três mortes, obtém-se o UAV tracker, que permite o time ver a posição dos oponentes no mapa de forma contínua durante 30 segundos, em vez de só aparecerem quando estão disparando as armas. Eliminando cinco, o jogador tem o direito de chamar um bombardeio aéreo, e, por fim, com sete mortes, pode-se pedir um helicóptero para apoio (mas a aeronave pode ser derrubada com lança-foguetes).

Outras pequenas ações fazem com que os combates sejam mais freqüentes: por exemplo, quando eliminado, o jogador tende a reaparecer perto de um companheiro e, assim, as chances de deparar com uma batalha é maior. Geralmente, em games assim, o sistema manda o jogador para um canto do mapa, tendo que cruzar todo o terreno na esperança de entrar em combate.

Um filme interativo

No geral, a produção visual é de tirar o fôlego. Nem todos os cenários são espetaculares, mas, quando todos os elementos se encaixam - efeito de partículas, fumaça, atmosfera e, principalmente, a soberba iluminação - tem-se um dos gráficos mais primorosos e foto-realistas da atual geração. Vale salientar o excelente trabalho técnico e artístico no que se refere à luz e escuridão, com ótimo aproveitamento das sombras projetadas. Com tudo isso, os ambientes parecem ter vida própria, como se alguém já tivesse morado nas ruínas mostradas pelo jogo, tal a profusão de objetos espelhados. E tudo roda com extrema suavidade; é raro ver alguma lentidão.

A parte sonora não é menos fora de série. Mantendo a tradição, as dublagens estão perfeitas. É como uma superprodução para cinema, com aquelas trilhas sonoras dramáticas, típicas de obras de guerra. O que sobressai é a sonoplastia: cada tipo de arma soa diferente, com clareza e impacto. As explosões são ruidosas, e, num sistema de som poderoso, tudo treme. "Call of Duty 4" faz bonito numa TV comum, mas é daqueles games que revelam todo o potencial em equipamentos sofisticados. Definitivamente, o jogo "pede" uma televisão de alta definição e um home theater.

Nota: 10 (Imperdível)