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Castlevania: Symphony of the Night

22/03/2007 20h04

A Xbox Live Arcade nasceu para atender a uma fatia maior de público, trazendo uma biblioteca de jogos clássicos ou casuais. Assim, são enxutos em tamanho e se adaptaram bem ao sistema de distribuição digital.

Mas "Castlevania: Symphony of the Night" inaugura uma nova era na Live Arcade. Sendo o primeiro game a ultrapassar a barreira dos 50MB, o tamanho máximo dos games até então, o clássico da Konami foge do arquétipo tradicional do serviço, mesmo porque, afinal, apenas uma geração separa o título da atualidade.

O momento para o lançamento não poderia ser mais propício: o jogo faz exatos dez anos de vida - o original saiu para o PSOne em 20 de março de 1997. O game mostra por que é considerado um dos melhores títulos do primeiro videogame da Sony: mesmo depois de uma década, resiste ao implacável teste do tempo.

Sugando a essência de 'Metroid'

"Castlevania: Symphony of the Night" é um jogo em 2D que mescla combates, ação em plataforma e quebra-cabeças, além de também ter alguns elementos de RPG. Esse episódio foi um divisor de águas na tradicional série sobre Drácula, pois mudou radicalmente de estilo em relação aos antecessores.

Se até este episódio a série trazia um esquema tradicional de "fase após fase", a partir de "Symphony" a aventura aconteceria num único mapa gigantesco. Na verdade, "Castlevania II: Simon's Quest" já tinha essa veia mais de exploração, mas não tão bem organizado.

O toque de genialidade do mapa único é que nem todas as áreas são acessíveis de início. Na verdade, o raio de ação é bastante limitado no começo, mas aumenta à medida que o personagem consegue novos itens ou habilidades. Essa percepção de evolução é que infla o ânimo do jogador. Na verdade, a fórmula não é original de "Symphony of the Night", mas adaptada de "Metroid", clássico da Nintendo.

O game começa com a batalha final entre Richter Belmont e Drácula em "Castlevania: Rondo of Blood", um game lançado apenas no PC Engine, videogame japonês que nos EUA tem o nome de TurboGrafx-16. Quase cinco anos depois, Alucard, filho de Drácula e de uma humana, acorda de seu sono induzido devido à nova aparição de Castlevania, a morada do rei das trevas.

Sendo uma continuação direta, muitos dos personagens de "Rondo" também aparecem aqui. O desenvolvimento da trama é minimalista e acontece em locais pontuais, em forma de diálogo. No entanto, dependendo de suas ações e do desempenho, o jogador tem acesso a quatro finais diferentes, sendo que para acessar dois deles é preciso investir quase o dobro do tempo.

Em constante evolução

Apesar de ter nascido numa era em que quase todos os jogos já eram 3D, "Symphony" manteve-se fiel à sua tradição, com visão lateral e personagens desenhados pixel a pixel. Aliás, a tridimensionalidade seria quase uma maldição para a série, visto que os episódios posteriores feitos com essa tecnologia ficaram muito aquém das expectativas.

O que faz de "Symphony of the Night" um clássico é seu equilíbrio no design de jogo: mescla magistralmente os combates, a ação de plataformas e os quebra-cabeças. O nível de dificuldade está no ponto certo, servido a uma grande população de jogadores - e, como tem elementos de RPG, é possível substituir a habilidade pela força bruta, se investir tempo em evoluir o personagem.

Além disso, o ritmo de jogo é excelente: o jogador sente que a toda hora está evoluindo, seja por obter itens, equipamentos e habilidades, ou pelo fato de Alucard em si ficar cada mais forte - há um esquema como o dos RPGs em que, quanto mais se derrota os oponentes, melhor fica o personagem, aumentando sua força ou poder mágico. Há muitos chefes e subchefes espalhados por todo o castelo.

Itens para recolher são o que não faltam: alguns dos mais importantes são os que aumentam a capacidade máxima de energia e de coração, este necessário para usar as armas complementares. Além disso, há uma série de armas, armaduras e outros tipos de equipamentos, além de consumíveis, cujo tipo mais comum é aquele que recupera a energia. Há também vários pergaminhos, que liberam magias (acionados com comandos que imitam games de luta), e itens mágicos que trazem ajudantes para Alucard.

Cruz, alho e controle

Com o toque de um botão, a tela mostra todo o mapa do castelo, mas existem salas secretas além do que é revelado ali. Em vários pontos há paredes, tetos e chãos quebráveis, que revelam localidades escondidas, e as recompensas costumam ser boas. Enfim, um dos únicos contratempos do game é que, às vezes, o jogador pode ficar perdido num local tão grande. Muitas vezes, dá-se voltas para saber se uma localidade passou a ser acessível naquele momento. Mas como essa andança é acompanhada por vários inimigos pelo caminho, o personagem acaba evoluindo.

"Symphony of the Night" é, de longe, o game para a Live Arcade com mais conteúdo até agora. Tem entre 10 e 12 horas de jogo, ao menos para aqueles que o estão experimentando pela primeira vez. E ainda vale jogar mais de uma vez, pois aparece mais um personagem e sua aventura gera pontos de conquista. Não há nenhum modo multiplayer - a Live é usada apenas para a lista de recordes -, mas não se sente falta disso.

Por falar no gamescore, os objetivos são equilibrados: alguns privilegiam a habilidade (como derrotar Drácula sem tomar nenhum dado), outros, a perseverança (juntar todas as transformações ou os ajudantes, por exemplo). Alguns são fáceis, basta derrotar dez inimigos em seqüência usando determinados tipos de ataque, outros, nem tanto (terminar o modo extra com o nível máximo de exploração).

Os controles estão perfeitos, com respostas instantâneas. A configuração dos botões também está equilibrada: é fácil acessar todas as transformações e o mapa - todos estão localizados nos botões de ombro e nos gatilhos. Apesar de poder ser jogador com os dois direcionais, em geral, o analógico acaba tendo mais vantajoso, principalmente na hora de usar as magias.

Trabalho de artesão

No plano visual, "Symphony of the Night" é uma obra de arte feita de pixels. É impressionante como a Konami conseguiu representar os personagens num "boneco" tão pequeno. A animação, principalmente a do protagonista Alucard, é suave, e a beleza é ampliada pelas sombras que o seguem. Os cenários também são bonitos e há uma variedade incrível de inimigos. É verdade que alguns são reciclados de outros games e outros mudam apenas de cor e em algum detalhe, mas o capricho dá o tom: cada um dos monstros tem uma animação de morte diferente uns dos outros.

Numa TV de alta definição, o serrilhado do modo "original" pode incomodar, mas é bem menor que em outros títulos clássicos da Live Arcade, como "Teenage Mutant Ninja Turtles" (é verdade que eles têm idades muito diferentes). O modo "melhorado" suaviza os contornos, mas, por outro lado, perde-se muito dos detalhes. Enfim, trata-se de uma questão de gosto, mas vale dar uma chance para a arte original sem filtros.

Na configuração inicial, a tela é mostrada numa janela. É possível esticar livremente até ocupar toda tela, mas fica muito desproporcional, principalmente numa TV com widescreen. Para esses equipamentos, seria melhor se houvesse um jeito de usar toda a tela de maneira mais natural, reconfigurando os menus, por exemplo, ou usando o restante da tela para outros fins que não um simples papel de parede (um mapa cairia bem).

Graças ao novo limite da Live Arcade, a bela trilha sonora de Michiru Yamane se manteve quase intacta. Há até dublagens em alguns dos diálogos, mas se a qualidade técnica é ruim, a interpretação é pior ainda. O mesmo pode ser dito nas falas incidentais que aparecem quando se usa determinadas magias.

Obra-prima de uma série de sucesso

"Castlevania: Symphony of the Night" mostra por que é considerado um dos melhores "Castlevania" de todos os tempos. Mesmo passados dez anos de seu lançamento original, encanta com uma boa produção e, principalmente, pelo design de game primoroso, que alia variedade, ótimo ritmo de jogo e a sensação de que o jogador está constantemente evoluindo. Custando apenas 800 Microsoft Points (US$ 10) e por seu volume de jogo, é de longe a maior pechincha da Live Arcade até o momento.

Nota: 10 (Imperdível)