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Gradius Collection

26/06/2006 20h16

Os "jogos de nave" são raros hoje em dia, mas este foi o gênero que mais produziu clássicos no começo da história dos videogames. Um dos primeiros de que se tem notícia, "Spacewar!" (1962), era um "shooter", como se diz na gíria em inglês, como os clássicos "Space Invaders" (1978) e "Xevious" (1982).

Em 1985, "Gradius" ("Nemesis", à época, nos EUA) veio para engordar a lista de jogos de tiro clássicos, trazendo muita inovação. Mas, mais que as novidades, foi o sistema de jogo, que equilibrava dificuldade e desafio, que mais atraiu os fãs, que ainda hoje consideram os jogos da série alguns dos melhores da história. Agora, após mais de 20 anos, a Konami juntou cinco games da série - um deles inédito nos EUA - e compilou uma coletânea econômica, que é uma aula de como projetar jogos bem ajustados.

Originalidade à toda prova

"Gradius Collection" reúne as versões arcade de "Gradius" (1985), "Gradius II" (1988), "Gradius III" (1989), "Gradius IV" (1998) e um jogo original para PSOne "Gradius Gaiden" (1997). O jogo mais recente da série, "Gradius V", para PlayStation 2, infelizmente não foi incluído na compilação.

Quando o primeiro game da série foi lançado, causou espanto por subverter o paradigma da época. Os jogos de tiro, geralmente, tinham visão de cima, com a tela correndo na direção vertical, mas "Gradius" optou por uma visão lateral. É verdade que outros jogos já usaram do expediente, mas não ficaram tão famosos como o clássico da Konami.

A vantagem dessa visão é poder usar o ambiente como obstáculo - não que não pudesse ser feito em títulos de "scroll" vertical, mas não combinavam tão bem. Nesse quesito, "Gradius" misturou belos cenários com terrenos acidentados, obrigando o jogador a se preocupar tanto com o ambiente como os inimigos e seus ataques.

Mas, a maior característica do game é o seu sistema de "power up", ou seja, de melhoramento da nave: geralmente, em outros jogos de nave, eles adicionam automaticamente novas armas e itens. Em "Gradius", existem cápsulas especiais que fazem avançar um medidor especial com diversos compartimentos. Em cada um deles, há um "power up" correspondente.

Ou seja, para pegar o primeiro melhoramento, que geralmente é o "Speed" - ele aumenta a velocidade da nave -, basta pegar uma cápsula e apertar o botão correspondente. Nesse instante, a barra volta a ficar vazia. É possível, então, pegar mais uma cápsula para ativar outro aumento de velocidade ou fazer avançar a barra para opções mais interessantes.

As posições seguintes - a barra tem seis ou sete seções - são ocupadas por mísseis, tiro amplo, lasers, "options" e um escudo. Esse penúltimo item é outra característica da série. Com ele, sua nave ganha uma espécie de sombra, que segue sua nave, e faz os mesmos ataques. Como eles são indestrutíveis e atravessam os cenários, podem ser usados de forma estratégica, e acertar os inimigos que se escondem em locais de difícil acesso. O jogador pode ter até quatro "options".

Ou seja, com esse sistema de "power up", o game ganha um componente estratégico, cabendo ao jogador estabelecer prioridades. Você pode querer aumentar o poder ofensivo ou aguardar mais um pouco para pegar um escudo para se proteger melhor. O sistema foi tão marcante que poucos jogos tentaram copiá-lo. Mas, para quem não consegue lidar com a escolha dos "power ups" no meio de um tiroteio intenso, o game traz um recurso que escolhe automaticamente os melhoramentos.

Cinco em um

Naturalmente, o primeiro jogo, sendo um título de mais de 20 anos, é bastante simples para os padrões atuais. O som também denuncia sua idade, com aqueles "instrumentos" bem eletrônicos, típicos de consoles como o NES. Mas as músicas são uma das mais marcantes, como eram muitos dos clássicos da época.

Mas o jogo já dava uma amostra da mecânica de jogo e muitas das características que marcariam a série. Os perigos são muitos: naves espaciais, artilharias e robôs terrestres, além de perigos naturais, como vulcões, e artefatos artificiais, como estátuas que imitam as da Ilha da Páscoa, um tipo de fase recorrente na série.

O avanço para o segundo jogo, um dos melhores da coletânea, é estupendo, e mesmo pelos padrões de hoje possui gráficos bem detalhados e com cores vibrantes, ajudados pela excelente qualidade da tela do PSP. A trilha sonora, além de marcante, também tinha uma tecnologia muito melhor, incluindo vozes, um recurso e tanto para a época (1988).

Mas, além de tudo, traz fases muito bem planejadas, com uma variedade muito grande de situações. A primeira fase, que traz uma porção de pequenos sóis, e deles saindo dragões de fogo, é uma perfeita combinação de visual de grande impacto e equilíbrio de jogo, com ambientes bem projetados e colocação de inimigos em locais estratégicos. E cada fase é fechada com chefes impressionantes, como a fênix de fogo da primeira fase ou o olho gigante da segunda. Agora, há opção para escolher configurações de "power up".

O terceiro da série veio originalmente no final de 1989, sem a mesma evolução vista entre o primeiro e segundo jogos. Apesar de homônimo, esse "Gradius III" é da edição para arcade, muito diferente da versão que foi lançada nos primeiros meses do Super Nintendo. A qualidade do jogo ainda é consistente, mas já não se vê a mesma genialidade dos dois primeiros títulos. A música, porém, continua excelente e é um dos mais difíceis.

O próximo da franquia sairia apenas 1997, com "Gradius Gaiden", um capítulo exclusivo para o PSOne japonês. Agora, essa preciosidade - uma das melhores da série - está ao alcance dos americanos. Mais uma vez, o jogo combina cenários e inimigos variados, além de uma série de naves para escolher. No original, o jogo tinha opção para dois jogadores simultaneamente, mas na edição para PSP, esse recurso foi retirado.

O mais recente é "Gradius IV", que já traz sinais de modernidade, como gráficos em 3D - apesar de a mecânica de jogo continuar em 2D -, porém bem rústico. A troca de grafismo não foi boa idéia, pois perdeu muitos dos belos detalhes que a franquia costumava ter. Alguns efeitos são interessantes, mas a impressão é mesmo que perdeu um pouco da magia e o próprio jogo não está tão inspirado como os antecessores. Esse parece ter sido o episódio do "um passo para trás", pois a série voltou em todo o esplendor em "Gradius V", que, mais uma vez, não está nesta compilação.

Igual, mas adaptado

A complicação para PSP é basicamente igual aos jogos originais, mas traz alguns recursos extras. Um deles é um modo que amplia o campo de visão da tela, tornando os jogos mais "espaçosos" para os lados. Isso, naturalmente, muda o equilíbrio do jogo - em geral, fica mais fácil - e os puristas não deverão gostar nem um pouco. Nesse modo, ainda, há alguns erros de programação, como objetos que somem e aparecem de repente em outro lugar.

O jogador pode escolher usar toda tela, "esticando" os pixels, deixando uma impressão de estar "embaçado". Se estiver usando o aspecto de tela original (chamado de 4:3), o modo de tela cheia deixa os gráficos mais "achatados". Há uma modalidade que usa uma parte menor da tela, mas com definição é perfeita. Porém, assim é mais difícil ver os objetos, principalmente os que movem rapidamente e são menores, pois a tela do PSP - assim como todos os monitores com tecnologia LCD - tem um tempo de resposta mais lento que as TVs tradicionais, de tubo, e isso cria alguns fantasmas. Cada um dos modos de tela possui altos e baixos e cabe ao jogador escolher como quer ver o jogo.

O jogador pode também mudar o número de vidas ou mudar a área de colisão da nave. No "small", os tiros precisam pegar no meio da nave para seja considerado um acerto. É possível também decidir se o jogo terá "slowdown", ou seja, a câmera lenta não-intencional que acontecia nos games originais. A configuração do jogo vem ajustada para ser mais fácil que o arcade, mas o jogador pode optar pela configuração padrão do original, que deixa o jogo bem mais difícil.

Os games são naturalmente difíceis, pois basta apenas um tiro para que sua nave seja destruída. Quando isso acontece, você é obrigado a voltar para um dos "checkpoints" das fases e jogar tudo de novo, perdendo todos os melhoramentos. Mas a edição para PSP traz um recurso que permite salvar a qualquer hora e retomar o jogo quantas vezes quiser. Mesmo que morra, você pode recuperar o "save" e recomeçar com todos os melhoramentos.

O game também traz uma galeria com três vídeos, que foram produzidas para a coletânea de PlayStation 2, além de todas as músicas dos cinco games, um dos pontos fortes da série.

Imortal dos games

Nota: 10 (Imperdível)