Vítimas até na Bolívia: 'Camarote' em SP deixa fãs do RBD sem ingresso

Os ingressos para a turnê do RBD no Brasil esgotaram em poucos minutos. Mas o que era um sonho logo se tornou pesadelo para quem investiu no "Camarote do Pinguim" do Allianz Parque, palco dos shows em São Paulo nos dias 16 e 17 de novembro.

Clientes que desembolsaram ao menos R$ 3 mil ficaram desconfiados com a falta de informações meses depois da compra e descobriram que, na verdade, o camarote não existe.

Fã do grupo desde 2005, Tiko Fagundes conta que comprou o ingresso em janeiro, pelo site Leve Ingresso, depois de ver o vídeo de um influenciador no mesmo camarote, mas no show do Coldplay no Morumbi.

Com medo de ficar sem ingresso, ele decidiu comprar o ticket pela plataforma alternativa — com a Eventim sendo a oficial.

"Teve gente que comprou direto com o Pinguim pelo Instagram, pelo WhatsApp. O ano inteiro eu achei que estava tudo certo, mas agora, mais próximo do show, comecei a ver denúncias no Twitter", detalha Tiko.

"Pinguim" é o apelido do empresário Dorival Perez Junior. No Instagram, nesta terça (17), ele afirmou que aguarda "os vouchers do show do RBD do camarote Fanzone" para repassá-los aos fãs.

Até o momento, alguns poucos nomes foram agraciados com os tickets — mas todos para o Fanzone, segundo Tiko.

O espaço pertence ao empresário Leo Rizzo e não tem ligação com o que era ofertado por Pinguim, o que gerou revolta dos clientes, que afirmam que a operação feita por ele é semelhante à de um cambista.

O Pinguim sempre deu respostas bem genéricas, de que foi um erro da equipe, de que foi um overbooking. Mas, na realidade, ele vendeu um camarote como se fosse dele, e não era."
Tiko Fagundes, 29

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Dono de fãs-clubes, o paulista ajudou a montar um grupo com quem ainda não recebeu o ingresso. São mais de 200 pessoas, incluindo até mesmo um fã da Bolívia - que virá para São Paulo apenas para o show.

"Ele chegou a reembolsar algumas pessoas, mas agora fica falando que está em tempo hábil para o show e que ele vai entregar. Eu falei com o Leo Rizzo e ele me respondeu que não tem mais espaço nos camarotes do Allianz", afirma.

O fã diz que também procurou a Leve Ingresso para pedir a devolução da taxa de conveniência, de R$ 300, mas ainda sem retorno.

Universitária vem do Ceará e comprou outro ingresso

Juliana Cordeiro, de 24 anos, é fã de Rebelde desde os cinco. Na época, a jovem de Fortaleza fazia tratamento para uma doença reumatológica no Hospital das Clínicas de São Paulo e se distraía assistindo à novela, exibida no SBT.

"Acabei descobrindo por um influenciador esse Camarote do Pinguim, que prometia também dar acesso à pista premium, ou seja, teria a visão privilegiada e o conforto - que por eu ser uma pessoa com uma doença é ótimo, porque canso muito rápido", explica.

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Ela fez uma pesquisa no Instagram de Dorival e, após ver os comentários positivos sobre seu trabalho, decidiu desembolsar R$ 3.850 em um ingresso no camarote, também pela Leve Ingresso.

Dois meses depois, em março, Juliana recebeu um dos poucos e-mails falando da compra. A equipe do Pinguim pedia alguns dados da fã, que ficou com medo e chegou a se comunicar com Dorival.

"Eu perguntei: 'Oi, você enviou um email perguntando os nossos dados?'. Porque eu não queria enviar sem saber se era de confiança. Ele confirmou que enviou e disse: 'Fiquem tranquilos, vocês vão receber as informações (sobre a entrada no show) em breve'."

Apesar da promessa, em setembro, a jovem cearense recebeu o mesmo email que Tiko, em que a Leve Ingressos afirmou ter sido enganada.

"Recebemos três emails consecutivos deles dizendo que não tinham responsabilidade após sete dias de compra. Fiquei desesperada e fui logo pesquisar no X (Twitter). Achei mais pessoas que já tinham percebido que não existia ingresso pra todo mundo", conta.

Para não perder a viagem a São Paulo, Juliana não esperou o reembolso e comprou ingresso para um outro camarote do Allianz.

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A banda me ajudou muito durante o meu tratamento, a me distrair e não pensar que eu poderia estar morrendo. Mas agora não tenho mais dinheiro pra esse mês, pra nada."

A fã também abriu um BO e procurou o Procon, mas destaca que o grupo tem a intenção de resolver o problema sem precisar entrar com uma ação judicial.

"Não sei se vou pegar dinheiro emprestado, mas preciso ir"

O "Camarote do Pinguim" foi a última opção para Amanda, 28, que tentou comprar ingressos pela Eventim, mas não conseguiu nem mesmo para as datas extras.

Foi então que ela também viu um vídeo do camarote no show do Coldplay e pediu o cartão de um colega de trabalho para parcelar a entrada. Com juros, o gasto ficou em R$ 4.600.

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"Quando descobri que eles iam fazer show aqui, fiquei louca e decidi comprar o camarote. Minha mãe até falou que era loucura, mas era meu sonho", detalha.

Amanda descobriu que algo estava errado apenas na semana passada, quando uma amiga virtual que também ia ao camarote falou do e-mail avisando sobre um overbooking — quando uma empresa vende mais ingressos do que tem.

"Chamei o Pinguim na semana passada e ele simplesmente não respondeu. Mas eu não tenho outro dia pra ir, eu preciso do reembolso", afirma.

Depois do problema, Amanda começou a procurar mais relatos na internet e descobriu que os imprevistos ligados ao nome do empresário não são inéditos.

"Dá certo pra muita gente, mas eu vi relatos no Reclame Aqui de pessoas que não conseguiram entrar no Coldplay. Não sei se vou ter que pegar dinheiro emprestado pra comprar outro, mas é meu sonho, eu preciso ir."

Splash tentou contato com páginas do camarote Fanzone e com o empresário Leo Rizzo, mas não teve retorno.

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Um representante da Leve Ingressos informou que foi na sexta-feira (20) à Delegacia do Consumidor para abrir um Boletim de Ocorrência sobre a falta de vouchers, já que prestou serviços para Dorival. "A investigação vai apurar de quem é a responsabilidade pela falta de ingressos", concluiu.

Já Dorival Perez, o "Pinguim", afirmou que "repassou os valores para Leo Rizzo, onde adquiriu alguns cotas de camarotes para shows futuros". Ele não deu detalhes de quantos ingressos teriam sido adquiridos e nem do valor repassado.

"Tenho uma relação comercial com Leo Rizzo de anos, acredito que iremos buscarmos em junto uma solução amigável para os adquirentes do SHOW RBD", concluiu.

Processos dependem das provas de fãs

O advogado Mozar de Carvalho recomenda que os clientes do camarote reúnam todos os documentos relacionados à compra dos ingressos, como comprovantes de pagamento, confirmações de compra e e-mails ou mensagens de comunicação com o vendedor.

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Além disso, se os fãs solicitarem, a Leve Ingresso tem, sim, a obrigação de fornecer todas as informações que tenha para ajudar a resolver o problema.

"Também é importante registrar um boletim de ocorrência na delegacia de polícia local. Isso cria um registro oficial do incidente, o que pode ser útil em processos legais futuros", explica Mozar.

O mais importante é que as vítimas ajam rápido, mesmo que com uma reclamação nos órgãos de defesa do consumidor, como o Procon, para buscar assistência na resolução do problema e alertar outras pessoas sobre a fraude."

Sobre uma possível responsabilização da Leve Ingressos, Mozar explica que tudo depende das políticas e termos de serviço apresentados antes da compra.

"Os clientes devem verificar os termos de uso da plataforma e considerar incluí-la em suas ações legais, se aplicável."

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