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Peneiras e engajamento: como é a formação de um atleta de eSports no Brasil

Atletas de eSports da Team Liquid Imagem: Team Liquid/Divulgação

André Zuliani

Colaboração para Splash, em São Paulo

18/10/2023 04h00

Indústria que movimenta bilhões em todo o mundo, o universo gamer atingiu em 2023 uma popularidade que nunca teve. Com centenas de competições no circuito profissional, tornou-se comum ver atletas de eSports terem tanto ou mais engajamento do que jogadores de modalidades mais tradicionais no Brasil, como futebol, vôlei ou basquete.

Antes vista com desdém por parte da sociedade, a profissionalização de um atleta de eSports tornou-se essencial. No Brasil, este mercado movimentou, só em 2022, cerca de R$ 7 bilhões, segundo levantamento feito pela PwC. Para que o ecossistema continue rendendo frutos, os melhores jogadores precisam estar disponíveis e encarar um preparo digno de um astro de futebol.

Para selecionar os principais atletas emergentes, a indústria gamer tem um processo semelhante ao do esporte bretão. As chamadas "peneiras", termo usado no futebol para descrever os testes feitos com jovens nas categorias de base, também dominam o cenário do eSports, com torneios regionais e de menor visualização servindo como trampolim para que olheiros observem possíveis craques dos jogos eletrônicos.

Rafael Queiroz, gerente geral da Team Liquid, uma das maiores organizações de eSports do mundo, explica que, uma vez que o jovem promissor é selecionado, ele passa por processos semelhantes aos de atletas de futebol, como frequentar clubes estruturados e com profissionais encarregados de seu preparo.

"A formação no eSports é bem parecida com a de futebol, na verdade. Uma vez que você encontra um atleta promissor, há uma estrutura de concentração e de desenvolvimento para o acompanhamento deste atleta. Tudo, obviamente, em nível profissional."
Rafael Queiroz, em entrevista a Splash na BGS 2023

De acordo com Queiroz, assim como no futebol, é quase impossível para um atleta de eSports pular etapas de formação. "Você começa jogando em copas de comunidades ranqueadas e vai se destacando. Em seguida, você é visto por essas organizações que já estão nas principais competições do mundo. Quando é dada a oportunidade, é importante agarrar.

Caio Ricci, gerente regional da HyperX no Brasil, aponta que jovens com interesse em se profissionalizar em eSports precisam entender a indústria. "É um movimento muito orgânico. Quem está entrando no segmento é impactado de alguma forma. Sempre foi algo totalmente aberto, e não necessariamente só destinado àquele perfil de pessoa ou que joga aquele tipo específico de jogo.

"O jogador que se destaca sempre pesquisou o conteúdo no qual está inserido. Se ele está minimamente engajado, a gente chega nele com certa facilidade. Essa pessoa tem o poder de decisão, de se inscrever no campeonato certo e entender se a peneira faz sentido."
Caio Ricci, em entrevista a Splash na BGS 2023

Concorrência mundial

Assim como no futebol, os principais atletas de eSports do cenário brasileiro têm sofrido com o assédio de organizações internacionais. Com a expansão do mercado gamer, clubes de todas as partes do mundo - e com mais poderio financeiro - acabam "roubando" os melhores jogadores disponíveis.

"As organizações passam a ser mais exigentes. Por exemplo, quando falamos no line up de Counter Strike, os melhores atletas acabam saindo do país. Por mais que tenhamos grandes times brasileiros, eles acabam indo para os Estados Unidos ou outro país para se aperfeiçoarem. É natural acontecer esse combate", explicou Ricci.

"Eu gostaria de ter respostas mais prontas, mas o que nós fazemos aqui para combater isso é o incentivo ao atleta, construir formas de eles terem mais acesso às marcas. Incentivar a própria organização. São esforços a fim de contribuir mais e fazer com que o nosso ecossistema local seja muito mais amplo."

Estrutura de ponta

No Brasil, clubes de futebol como Palmeiras e Flamengo, dois dos clubes mais vencedores da última década, contam com estruturas milionárias em seus centros de treinamento para que os atletas tenham o melhor preparo possível. No cenário de eSports não é diferente.

Em 2023, a Team Liquid inaugurou o Alienware Training Facility brasileiro, o maior centro de treinamentos de eSports do ocidente. Segundo Rafael Queiroz, o local só não é considerado o maior do mundo por não terem informações oficiais do mercado da China.

Localizado na Av. Angélica, em Higienópolis, bairro nobre de São Paulo, o centro da Team Liquid tem cerca de 3.100 m², três andares e uma estrutura interna construída para dar o suporte necessário aos atletas da organização. Além do espaço para treinos e salas de recreação, o local ainda conta com área para fanfest e loja oficial.

"Entre atletas e funcionários, nosso espaço comporta 82 pessoas. Nós fizémos um projeto para que consigamos sustentar nosso crescimento nesse mesmo prédio por pelo menos 10 anos. Não sei se vai demorar muito para ocuparmos todo o edifício, mas temos muito espaço para crescermos e evoluirmos."

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