Conteúdo publicado há 6 meses

Os vencedores do Festival do Rio e os destaques imperdíveis da Mostra SP

O Plano Geral desta semana faz um balanço do Festival do Rio 2023 e traz os destaques e dicas imperdíveis da Mostra de São Paulo 2023, que começa no dia 19 e segue até 1 de novembro.

"O Rio é esta plataforma para o lançamento, a pré-estreia de grandes filmes brasileiros que serão lançados ao longo do ano. E o que é mais bacana, é que praticamente todos os filmes brasileiros que estavam no Festival do Rio também estarão na Mostra SP", começa Thiago Stivaletti.

Encerrado no último domingo, o Festival do Rio trouxe na seção competitiva Première Brasil filmes com histórias de um país que lida com suas questões históricas e contemporâneas.

Este é o caso de "A Batalha da Rua Maria Antônia", de Vera Egito, que venceu o prêmio de Melhor Filme de Ficção. Produção da Paranoid Filmes, o longa conta a história do embate ocorrido na noite de outubro de 1968, que ficou conhecido como a "Batalha da Rua Maria Antônia".

Plano Geral comenta "A Batalha da Rua Maria Antônia"
Plano Geral comenta "A Batalha da Rua Maria Antônia" Imagem: Reprodução/Youtube

Filmado em película 16mm em preto-e-brando, o filme é dividido em 21 planos sequências que retratam o desenrolar dos atos que culminaram com o grande embate.

Para além da relevância do tema em si, mais atual do que nunca, é um filme que merece ser visto no cinema, pois a questão do estilo, a forma como é contada e construída esta história, também roteirizada por Vera Egito, é um deleite para os cinéfilos. Flavia Guerra

No filme, cada uma das sequências traz a tensão e os conflitos vividos por professores e estudantes do Movimento Estudantil de Esquerda, no prédio da Faculdade de Filosofia da USP, que montaram uma vigília para garantir a votação no pleito do movimento estudantil em plena repressão da ditadura militar.

Eles enfrentam os ataques do Comando de Caça aos Comunistas vindos do outro lado da rua, da Universidade Mackenzie. Quando o confronto explode, gritos, molotovs, pedras, paus e bombas caseiras são atiradas, e as 24 horas vividas com a paixão da juventude dos anos 60, em defesa de um ideal, se misturam com a iminência da invasão dos militares ao prédio da USP.

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É um filme que trata deste episódio tão famoso da história de São Paulo, mas também do Brasil. É um tema que estava pairando no ar e Vera Egito fez em um momento muito oportuno. Thiago Stivaletti

"Pedágio"

Dos troféus Redentor de atuação, três foram para o elenco de "Pedágio", de Carolina Markowicz. Maeve Jinkings levou o de Melhor Atriz e Kauã Alvarenga, o de Melhor Ator. O prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante foi para Aline Marta Maia, também de "Pedágio". O Redentor de Melhor Ator Coadjuvante foi para Carlos Francisco, por Estranho Caminho.

Pedágio conta a saga de Suelen (Maeve), uma atendente de pedágio que, inconformada com a orientação sexual do filho Tiquinho (Kauã), comete delitos na tentativa de financiar uma cura para a sua "doença".

Com estilo preciso de Carol Markowicz, "Pedágio" retrata a opressão e violência sofrida pela população LGBTQIA+ diante das incoerências e atrocidades promovidas - de forma mais explícita nos últimos anos - por alguns setores da sociedade.

"Carol vem ganhando destaque desde "Carvão", lançado no ano passado. Agora ela chega com "Pedágio", um filme que vai no nervo do moralismo das classes mais pobres do Brasil", analisa Thiago.

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"Pedágio" ganhou 3 prêmios no Festival do Rio
"Pedágio" ganhou 3 prêmios no Festival do Rio Imagem: Reprodução/Youtube

Flavia pontou ter gostado da premiação, por ter exposto dois filmes que falam muito do que é o Brasil: "Gostei muito desta premiação do Rio porque traz dois filmes que falam muito do que é o Brasil. E gostei muito que "Pedágio" também levou o prêmio de direção de arte (para Vicente Saldanha) porque é um trabalho impecável para se construir este Brasil real sem meias palavras, sem dourar a pílula, com tudo de humano, para o bem e para o mal", explicou.

A Suelen é uma sobrevivente, que não elaborou muito as questões, ela é muito ignorante por falta de acesso também à cultura, educação, informação. É um universo muito complexo. Flavia Guerra

Thiago acrescenta que a questão da sexualidade é um grande tabu no filme, mas a corrupção entra de uma forma muito engenhosa na trama.

"É algo que boa parte da população brasileira tem. O filho é da geração Z, ele já vê a questão da sexualidade de outra forma. Já ela segue aquela velha máxima? de se preferir ter um filho corrupto que um filho gay. Ela flerta com um lance de corrupção que é tipicamente brasileiro, vai entrando no filme e ela aceita isso de uma maneira muito mais tranquila que a sexualidade do filho e isso afeta toda o desenrolar do filme", analisa Thiago.

Em destaque no Plano Geral, o prêmio de Melhor Direção de Ficção, que foi para Lillah Halla, por Levante, além de "Sem Coração", de Tião e Nara Normande, que fez sua estreia mundial no Festival de Veneza e levou o prêmio de Melhor Fotografia para Evgenia Alexandrova. ,

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Mostra SP

"Pedágio", "A Batalha da Rua Maria Antônia", "Levante", "Sem Coração", entre outros filmes brasileiros estão também na programação da Mostra SP, cujos horários e sessões podem ser conferidos no site oficial.

Entre os imperdíveis da seleção internacional, o filme de abertura "Anatomia de uma Queda", de Justine Trier, que venceu o Festival de Cannes 2023 e tem outras sessões para o público ao longo do evento.

"Este filme retrata aparentemente a queda do personagem que faz o marido da protagonista (vivida pela ótima Sandra Huller), mas, na verdade, a anatomia é do caráter dela, do e de quem ela é. É um filme engenhoso, que fala muito do machismo estrutural. Entendo a escolha do júri de Cannes deste ano", pontua Flavia.

Thiago lembra que outro grande filme de Cannes, que foi confirmado há pouco na programação da Mostra SP, também é um dos grandes do ano: "Zona de Interesse", que levou o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes 2023.

É um filme que trata de um tema muito contundente, um dos grandes destaques. Trata da história desta família alemã que vive em uma casa bucólica vizinha ao campo de concentração de Auschwitz, baseado no romance de Martin Amis, que faleceu durante o festival. Certamente vai render muito debate. Thiago Stivaletti

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Confira estes e outros destaques da Mostra SP 2023 no Plano Geral e nas colunas de Flavia Guerra e Thiago Stivaletti, além de toda a cobertura de Splash.

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