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Novo 'Exorcista' não quer te assustar, ele quer te converter

"O Exorcista — O Devoto" tem a difícil missão de continuar a história de "O Exorcista", um clássico dos filmes de terror que, ao ser lançado em 1973, mudou o rumo do horror no cinema. O longa, que chega ao Brasil no dia 12 de outubro, esquece (assim como o público) os outros dois títulos lançados na "franquia Exorcista" e abre um novo caminho para produções futuras.

Se os grandes heróis do filme original são os padres Karras e Merrin, agora, a Igreja Católica parece não acreditar nos próprios feitos do passado. Se, assim como a instituição, o público também está descrente do poder do diabo, "O Exorcista — O Devoto" passa todo o longa tentando te convencer que não importa a religião, é preciso ter fé para vencer o mal.

A produção acompanha Angela e Katherine, duas meninas de 13 anos que se perdem em uma floresta da cidade. Elas voltam três dias depois, mas completamente diferentes, com comportamentos erráticos e violentos. Gradualmente, ambas vão se transformando em novas versões de Regan, a garotinha possuída do longa de 1973.

Em 'O Exorcista', Regan é possuída pelo demônio Pazuzu
Em 'O Exorcista', Regan é possuída pelo demônio Pazuzu Imagem: IMDb/Reprodução

Desesperadas, as famílias de ambas não sabem o que fazer e, após tratamento psiquiátrico, não enxergam outra saída além de pedir ajuda religiosa. No entanto, diferente do que aconteceu no original, a Igreja Católica acaba não sendo a solução, pois nem mesmo ela acredita que a cura das garotas acontecerá por meio da crença.

Este primeiro ato de "O Exorcista — O Devoto" acerta em desenvolver suas personagens de maneira a nos apegarmos e torcemos por elas. No entanto, o mistério que o roteiro tenta criar não existe, afinal, se você sabe do enrendo de "O Exorcista", já sabe o que está acontecendo.

Sem ver saídas para as garotas, a alternativa é procurar Chris MacNeil, interpretada novamente por Ellen Burstyn. Como mãe de Regan, ela se torna a única saída e resposta para a possessão de Angela e Katherine. Trinta anos após sua filha ser possuída por Pazuzu, a ex-atriz se tornou uma especialista em exorcismo (não uma exorcista, função designada apenas a padres). Inclusive, há um momento no qual Chris diz acreditar que não assistiu ao exorcismo de Regan por ser uma mulher, e o patriarcado não deixaria.

É neste ponto que o filme muda e mostra que, para conseguir ganhar do demônio, é preciso ter fé. Para isso, o processo de exorcismo apenas funciona se todos os credos se juntarem: religiões africanas, católicos e evangélicos. O que importa é acreditar, não importa em que.

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O foco de "O Exorcista — O Devoto" é mostrar ao personagem ateu — e em consequência, o público — que errado é não acreditar em Deus. Assim, o terror e os sustos ficam de lado. Os elementos existem, mas são apenas muletas e pouco trabalhados.

Ao focar em outras religiões, o longa trunfa em quebrar a tradição dos heróis da Igreja Católica que sempre vemos nos filmes de exorcismo. Agora, é preciso de uma "iniciativa Vingadores" de diferentes credos para vencer.

'O Exorcista - O Devoto' foca na religião
'O Exorcista - O Devoto' foca na religião Imagem: Reprodução

Para os fãs do longa original, um aviso: a curiosidade de vocês será recompensada. É tudo o que direi para não estragar as surpresas.

No geral, "O Exorcista -- O Devoto" pode ser considerado um título corajoso e com um final inesperado. Possivelmente ele desagradará uma boa parte do público ao mudar o foco da história, e tudo bem. O filme é menos sobre história e mitologia, e mais sobre ação. E fé. O filme também é muito sobre ter fé.

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Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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