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Coroação terá rito 'sagrado' que família real não deixa ninguém ver

Rainha Elizabeth 2ª em sua coroação em 2 de junho de 1953 - Getty Images
Rainha Elizabeth 2ª em sua coroação em 2 de junho de 1953 Imagem: Getty Images

De Splash, em São Paulo

05/05/2023 04h00

A coroação do rei Charles 3º e da rainha Camilla acontece no próximo sábado (6), às 7h (horário de Brasília).

A cerimônia seguirá os tradicionais ritos milenares, mas reconhecerá "o espírito de nossos tempos", informou o Palácio de Buckingham.

Apesar dos merecidos toques de modernidade, já que a última coroação aconteceu há 70 anos, um aspecto continuará quase igual: a privacidade no momento da unção.

Esse ato, que virá depois do juramento e antes da investidura e coroação, não será exibido nas transmissões e será "protegido" por uma tela.

Momento sagrado

A unção é o momento em que o Arcebispo toca o corpo do monarca com óleo sagrado: nas mãos, no peito e na cabeça.

Esse é considerado o momento mais sagrado da cerimônia e, historicamente, acontece sob um dossel. O uso de dosséis por monarcas data da Idade Média.

"No momento em que o rei é ungido, ele tem que se despir. Veja bem, essa situação já é um pouco constrangedora. O próprio corpo dele vai ser tocado por alguma coisa que vem de Deus. Ele vai deixar de ser um homem comum, ele vai agora passar a ser uma figura mística. Isso é o que diz a tradição, a lógica da monarquia. [...] É um momento muito sagrado, é um momento íntimo, é um momento da conexão do rei com Deus", explica Francisco Vieira, professor de história, a Splash.

O Arcebispo de Canterbury, Justin Welby, que conduzirá a coroação, afirma que ao ser ungido, o rei Charles "é designado a cumprir sua vocação de serviço e dever".

O dossel de Elizabeth e a tela de Charles

Diferentemente da coroação da rainha Elizabeth 2ª, o rei Charles 3º será coberto por uma tela de três lados, e não um dossel. Em 1953, Elizabeth foi coberta por um dossel dourado. Com isso, quem estava ao redor dela pôde ver, ainda que não claramente, o momento da unção. A tela de Charles será aberta apenas na parte virada para o altar da Abadia de Westminster.

A rainha Elizabeth 2ª, momentos antes de ser ungida em sua coroação, em 1953 - Reprodução/Royal Collection Trust - Reprodução/Royal Collection Trust
A rainha Elizabeth 2ª, momentos antes de ser ungida em sua coroação, em 1953
Imagem: Reprodução/Royal Collection Trust

A tela usada por Charles homenageará a Comunidade das Nações com um bordado. O desenho principal tem o formato de uma árvore com 56 folhas — cada uma delas representando os 56 países membros da Comunidade das Nações.

A tela é sustentada por dois postes de carvalho, cuja madeira foi retirada de uma árvore plantada em 1765 pelo Duque de Northumberland em Windsor. No topo dos postes, há duas águias de bronze cobertas de folha de ouro. A tela tem 2,6 metros de altura e 2,2 metros de largura.

Charles usará óleo vegano que homenageia avó paterna

O óleo usado por Charles foi feito usando olivas do local onde sua avó paterna está enterrada. As olivas foram colhidas no Monte das Oliveiras, no Monastério de Maria Madalena e no Monastério da Ascensão, em Jerusalém, onde o óleo também foi consagrado.

O óleo é vegano e foi perfumado com óleos essenciais de rosa, jasmim, canela, neróli, âmbar, gergelim, flor de laranjeira e benjoim.

O óleo usado por Elizabeth tinha ingredientes de origem animal, retirados do cervo almiscarado, cachalote e gato-civeta. O óleo também continha azeite, flor de laranjeira, jasmim, canela, benjoim e âmbar cinza.

Como será o momento da unção

  • A tela é colocada em volta da Cadeira da Coroação;
  • O Deão derrama óleo da ampola na colher, e o Arcebispo unge o rei nas mãos, peito e cabeça enquanto recita uma oração;
  • O Arcebispo e o Deão voltam ao altar e a tela é retirada;
  • O rei se ajoelha em frente ao altar e, em seguida, se prepara para a investidura e coroação.

O Arcebispo confirmou que essa etapa da coroação não será exibida, assim como aconteceu na coroação de Elizabeth 2ª, em 1953.

Presença inédita de outras religiões

Apesar de ser uma celebração cristã, o discurso da coroação contemplará "pessoas de todas as fés" e, pela primeira vez, representantes do judaísmo, do hinduísmo, do islamismo, do budismo e do sikhismo participarão da cerimônia.