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Mural de Kobra de R$ 400 mil derrete; prefeitura e artista são investigados

Luiza Stevanatto

Colaboração para Splash, em São Paulo

22/07/2022 16h50

A Prefeitura de Boa Vista (RR) é alvo de uma operação que investiga supostas irregularidades na contratação do artista Eduardo Kobra para a pintura de um mural no Parque Rio Branco, na orla da cidade.

De acordo com o MPRR (Ministério Público de Roraima), as investigações tiveram início em agosto de 2021. Em 2020, a prefeitura contratou Kobra para a pintura do mural, que foi inaugurado em dezembro de 2020, mas que, seis meses depois, derreteu.

O serviço custou R$ 400 mil aos cofres públicos e, de acordo com a apuração do MPRR, não foi executado por Eduardo Kobra e, sim, por sua equipe. Ainda de acordo com o MPRR, a licitação para a obra foi dispensada para que o mural fosse pintado exclusivamente pelo artista.

A Operação Aquarela foi deflagrada na manhã de sexta-feira pelo MPRR com o apoio do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), a Polícia Civil e a Segurança Institucional do MPRR.

Kobra - Reprodução/Globo - Reprodução/Globo
Mural de Kobra de R$ 400 mil derrete em Boa Vista
Imagem: Reprodução/Globo

Foram cumpridos três mandados de busca e apreensão em Boa Vista, um deles na sede da Fundação de Educação, Turismo, Esporte e Cultura (FETEC). Além disso, um mandado de busca foi cumprido em São Paulo.

Segundo o MPRR, os crimes investigados são fraude em licitação, peculato e falsidade ideológica.

Splash tenta contato com a Prefeitura de Boa Vista, a Polícia Civil de Roraima e a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. Assim que houver um retorno, a nota será atualizada.

O que diz Kobra?

Em nota enviada para Splash, o artista afirmou que o "problema é no muro, é estrutural. E não tem relação com a qualidade das tintas ou com a técnica utilizada". Mesmo assim, ele mandou uma equipe ano passado para fazer um restauro na obra.

Kobra também afirmou que o valor cobrado é "compatível com uma obra de tais dimensões e a minha trajetória", e que todo o valor está declarado conforme a lei.

Leia abaixo a nota completa:

Em atenção ao noticiado nesta sexta-feira, a respeito de obra de minha autoria inaugurada em dezembro de 2020 na cidade de Boa Vista, cumpre-me esclarecer os seguintes pontos:

1 - Eu, Eduardo Kobra, atuo há mais de três décadas como muralista. Já pintei murais em diversos estados brasileiros e em mais de 40 países. Em todos os trabalhos - dos murais pequenos aos de grandes dimensões - agimos com profissionalismo, transparência, paixão e respeito pela arte e pelo público.

2 - Fui contratado pela prefeitura de Boa Vista para executar o trabalho. De minha parte, como sempre em minha carreira, todo o valor está declarado, com os impostos e taxas pagos conforme a lei. Sobre isso, informo que toda a documentação referente à minha contratação, bem como os comprovantes de recebimentos e de pagamentos pertinentes ao caso estão à disposição de autoridades que precisem confirmar o caráter lícito,.

3. O valor da minha contratação é compatível com uma obra de tais dimensões e a minha trajetória. Além disso, um trabalho assim envolve diversos custos de materiais, equipamentos, deslocamentos da equipe e remuneração dos diversos profissionais envolvidos.

4 - O fato de eu não ter executado a obra de forma presencial não é e nem nunca foi ocultado. Criar e executar com uma equipe é prática habitual no mundo artístico contemporâneo. Devido à Pandemia, como foi amplamente divulgado pela imprensa, cancelei ou adiei em 2020 e parte de 2021 os trabalhos que faria no Exterior e em alguns estados brasileiros. Nesse trágico período, profissionais não apenas no Brasil, mas em todo o mundo, tiveram que adaptar seu cotidiano e modo de trabalho. Meu caso não é diferente. Eu não poderia viajar até Roraima por respeito ao isolamento e pelo fato de eu pertencer a um grupo de risco, o que aumentava exponencialmente meu perigo de contrair Covid. Durante a Pandemia fizemos poucos trabalhos, quase todos foram beneméritos, para arrecadar fundos para pessoas necessitadas e entidades que atuam na área da Saúde. Destaco também que o trabalho de execução da obra não foi terceirizado para outra empresa: foi realizado por artistas da minha equipe, que sempre pintam comigo. Todo o processo de pesquisa, estudo, criação das artes, assim como preparo de moldes e stensils foram feitos por mim no meu estúdio. Isto foi previamente combinado com a contratante e sempre tratado de forma transparente.

5. Sobre a pintura, sempre existe um processo natural de desgaste. Eu mesmo tenho um projeto, amplamente noticiado em jornais, sites e televisões, chamado "A Arte de Restaurar", que visa restaurar algumas das obras que se tornaram pontos icônicos das cidades. Esse desgaste leva anos para acontecer. Em Boa Vista ocorreu em quatro meses! Nunca em nossa trajetória havia acontecido nada do gênero. O problema é no muro, é estrutural; não tem relação com a qualidade das tintas ou com a técnica utilizada. Mesmo assim, embora não fosse parte do meu contrato, destaquei uma equipe própria para efetuar um restauro no ano passado, quando o problema surgiu. E sigo à disposição para discutir, junto à equipe técnica da contratante, possíveis soluções para que, mais do que remediado, o problema possa ser resolvido de forma definitiva.

6. Por fim, reafirmo o meu compromisso com a lisura das informações e o meu respeito ao patrimônio público. Toda a minha carreira foi pautada pela ética e por condutas socialmente corretas e estou seguro que esses mesmos valores também nortearam este trabalho. Estou à disposição para quaisquer esclarecimentos que se façam necessários, seja por parte de autoridades, seja por parte da imprensa.

Eduardo Kobra