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Diretor de '007' é acusado de perseguir e assediar mulheres nos bastidores

O diretor Cary Fukunaga - Jeff Spicer/Getty Images
O diretor Cary Fukunaga Imagem: Jeff Spicer/Getty Images

De Splash, em São Paulo

01/06/2022 09h14Atualizada em 01/06/2022 09h14

Cary Fukunaga, 44, diretor de "007 - Sem Tempo Para Morrer" (2021), foi acusado de assediar mulheres nos bastidores de seus filmes e séries.

A revista americana Rolling Stone publicou uma reportagem em que quase doze pessoas denunciaram as atitudes de Fukunaga. Ele teria ultrapassado os limites profissionais com frequência, usando sua posição de poder para perseguir mulheres mais jovens e membros de sua equipe.

Um dos episódios teria acontecido no set da minissérie "Masters of the Air" (AppleTV). Segundo duas fontes da produção, o diretor pediu para fotografar duas figurantes — uma delas com apenas 18 anos — que interpretavam prostitutas na produção.

Fukunaga solicitou que elas fizessem poses sensuais na parede e ficassem ajoelhadas, e alegou que precisava das imagens para manter a continuidade da cena, tarefa que geralmente não cabe ao diretor, principalmente em uma produção com mais de 600 funcionários. A situação, segundo as testemunhas, foi desconfortável para quem assistia.

"Foi muito além do limite. Não há nenhuma justificativa de que isso é ok de alguma forma. É um abuso de poder absoluto e claro", disse uma das fontes, que pediu para não ser identificada.

Em uma declaração fornecida por meio de seu advogado à Rolling Stone, Fukunaga disse que "tira fotos de atores — homens e mulheres, jovens e velhos — em seus sets o tempo todo" e, reconhecendo que tirou fotos dessas atrizes, diz que "implicar qualquer coisa imprópria sobre isso é falso e difamatório".

Outra fonte afirmou que a insistência do diretor beirava a assédio no local de trabalho, e ela ficou preocupada de que sua carreira fosse prejudicada ao negar as investidas. A situação chegou ao ponto dos colegas "ficarem de olho", já que ele a abordava na frente dos outros.

"Foi humilhante para mim porque tentei passar despercebida (...) Acredito completamente que ele estava abusando de seu poder. É realmente desconfortável. É horrível… A única razão pela qual permiti que durasse tanto tempo é porque estou absolutamente preocupada com minha carreira."

Uma outra mulher disse que Fukunaga a retirou de um projeto do qual ela estava escalada e ofereceu um encontro romântico ao invés do trabalho. "Eu me senti muito estranha com o fato de que estava tipo: 'Deixe-me levá-la para beber em vez disso'", ela afirmou.

De acordo com a resposta do cineasta por meio de seu advogado, Fukunaga "fez amizade com homens e mulheres, jovens e velhos" nos bastidores.

Várias das outras fontes corroboraram para as acusações de que o cineasta perseguia mulheres mais jovens nos bastidores.

Denúncias

No início de maio, a atriz Rachelle Vinberg, da série "Betty" (HBO), afirmou em uma longa publicação no Instagram que foi diagnosticada com estresse pós-traumático após ter "uma amizade que acabou se tornando sexual" com Fukunaga. Ela conheceu o diretor em 2016 em um comercial da Samsung, um dia depois de completar 18 anos.

Ela contou que eles ficaram diversas vezes e, na presença de outras pessoas, Fukunaga pedia para que eles fingissem ser parentes. Rachelle afirmou que ele batia "aleatoriamente" em sua bunda, contava experiências sexuais com outras pessoas e perguntava das fantasias sexuais que ela tinha.

"Tinha que ser um segredo porque ficaria ruim para ele, porque as pessoas não entenderiam, porque o fariam parecer um predador. [...] Mais tarde, ele se gabou para algumas pessoas de que ele era a segunda pessoa com quem eu já estive".

Em nota, a defesa de Fukunaga afirmou que ele "teve um relacionamento romântico muito breve e consensual com [Rachelle] que terminou. A Sra. Vinberg claramente não está feliz com o Sr. Fukunaga, mas como todos sabem, os relacionamentos terminam o tempo todo e muitas vezes uma pessoa (ou ambas) está infeliz."

Logo após a postagem de Rachelle, as irmãs gêmeas Cailin e Hannah Loesch fizeram um post em apoio a atriz. Elas afirmaram que conheceram Fukunaga nos bastidores da série "Maniac" (Netflix), em 2017, quando tinham 20 anos. Ele teria convidado as duas para um ménage a trois e sugerido que "o incestou seria bom se todos estivessem ok com isso".

A defesa do diretor nega que o episódio tenha acontecido.

Algumas fontes ainda apontaram hipocrisia do diretor, que, nas redes sociais, se posiciona a favor dos direitos das mulheres e de movimentos como o #MeToo.

O cineasta é um dos diretores mais jovens de Hollywood, com carreira na TV e no cinema. Ele ganhou um Emmy em 2014 por dirigir a primeira temporada de "True Detective" (HBO). Após o sucesso de "Beasts of No Nation" (Netflix) em 2015, estrelado por Idris Elba, Fukunaga se tornou o primeiro americano a dirigir um filme de James Bond com "Sem Tempo para Morrer" lançado ano passado.