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Salvador: Homens armados expulsam equipes de TV durante cobertura de crime

Equipe saiu correndo ao ouvir disparos - Reprodução/TV Band Bahia
Equipe saiu correndo ao ouvir disparos Imagem: Reprodução/TV Band Bahia

Alexandre Santos

Colaboração para Splash, em Salvador

01/02/2022 18h54

Um grupo de homens armados expulsou e ameaçou equipes das TVs Band Bahia e Aratu (afiliada ao SBT) que realizavam reportagem sobre um homicídio ocorrido na manhã de hoje, no bairro de Águas Claras, em Salvador.

Segundo relatos dos profissionais, eles foram surpreendidos por suspeitos empunhando pistolas e dando tiros para o alto. O cinegrafista da Band Jeferson Alves foi agredido com coronhadas e teve sua câmera destruída. Alves foi encaminhado para uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento), mas já foi liberado e passa bem. Ninguém foi preso.

Para Splash, o repórter da Band Toni Junior contou que ele e os demais profissionais conversavam com a mãe de um jovem assassinado na região quando foram avisados de que deveriam deixar o local.

"Estávamos na varanda na frente do imóvel da mãe do rapaz, que nos chamou para falar sobre o caso. A gente se preparava pra gravar quando percebi os disparos. Como eu estava perto do portão, saí correndo junto com o cinegrafista da TV Aratu. Jeferson, que acabou saindo por último, infelizmente, levou coronhadas e chutes na altura da costela direita ", declarou o jornalista, que registrava a matéria para a versão baiana do programa "Brasil Urgente".

Segundo ele, mesmo machucado, o colega conseguiu reaver o equipamento de trabalho, que foi danificado e atirado ao chão. Splash não conseguiu contatá-lo.

Toni Junior diz que, em quatro anos atuando na cobertura policial, é a primeira vez que vivenciou uma situação dessas. "A gente acaba se acostumado a conviver com situações perigosas que fazem parte do dia a dia da nossa profissão. Eu já fui 'convidado', por exemplo, a deixar um determinado local por pessoas com arma em punho, mas não sob disparos de tiros", detalhou.

O jornalista explicou que costuma usar colete à prova de balas. Dessa vez, porém, deixou a proteção no carro ao supor que policiais já estivessem no local do suposto homicídio.

Ainda nervoso, Toni Junior chegou a narrar o que havia presenciado durante transmissão ao vivo da emissora concorrente. "A gente estava fazendo a matéria e, de repente viu, os disparos de arma de fogo vindo em nossa direção. Corremos e acabamos deixando o nosso equipamento dentro da casa onde ocorria a situação", disse ele ao ser entrevistado pelo repórter Fábio Gomes, da Aratu.

Procurada por Splash, a Polícia Militar da Bahia informou que, após serem acionados, agentes fizeram incursões e abordagens, mas os suspeitos não foram encontrados.

"A instituição orienta os cidadãos que, caso testemunhem um crime ou desconfiem de atitudes suspeitas de pessoas desconhecidas, acionem a polícia pelo 190 para que uma guarnição seja imediatamente encaminhada para atendimento", diz o texto enviado pela assessoria da corporação.

Band e ABI repudiam ataque

Em nota, a Band Bahia afirmou repudiar as agressões sofridas pelas equipes de reportagem. "As equipes estavam na rua Santa Teresa, no bairro de Águas Claras cumprindo seu papel de bem informar, quando foram recebidas a tiros e tiveram seu equipamento danificado por bandidos", diz.

Procurada pela reportagem, a TV Aratu ainda não se manifestou.

A ABI (Associação Bahiana de Imprensa), por sua vez, lamentou o episódio e o relacionou ao avanço da criminalidade no estado.

"A crescente ostentação da violência resultante das disputas entre organizações criminosas alvejou a imprensa, enquanto instituição fundante da sociedade civilizada com a qual estamos eticamente comprometidos. Os profissionais das TVs Bandeirantes [sic] e Aratu agredidos e ameaçados por marginais no bairro de Águas Claras, em Salvador, representam toda a imprensa baiana e a estes colegas e suas emissoras, prestamos a mais irrestrita solidariedade", disse em nota.

De acordo com a entidade, somente quem não aceita as leis e regras de convivência numa sociedade civilizada e democrática recusa e agride o jornalismo. Para a ABI, a resposta a qualquer agressão ao livre exercício da nossa atividade profissional não pode ser outra senão mais jornalismo.

"Mantido o bom senso dos colegas das equipes de reportagem, a melhor resposta é a mais ampla e qualificada cobertura dos fatos violentos que hoje alvejaram a imprensa, mas diariamente ameaçam a todos, jornalistas ou não, dentro e fora da segurança do lar", prossegue o comunicado.

"O imprescindível distanciamento crítico em relação à atuação de órgãos públicos responsáveis pelas políticas de segurança pública não dá margem a qualquer dúvida. O olhar da imprensa pode e deve estar atento ao cumprimento das leis pelos agentes da lei, sem que isso se confunda com qualquer antagonismo: estamos todos do mesmo lado, e do outro lado estão os que escolhem viver à margem das leis e das regras de convivência civilizada. A ABI estará sempre ao lado de quem defende a vida", finaliza a ABI.