Doutorando em funk na USP: 'Críticas ao ritmo são racistas e classistas'
De Splash, em São Paulo
21/03/2021 04h00
Esse pensamento de que funk é lixo é sobretudo racista e classista, porque é uma produção de pessoas pretas, de favela.
O que acontece na área de Música é que ninguém tá nem aí para o Funk. O ambiente acadêmico é muito conservador. As pessoas sentem-se confortáveis em deslegitimar o funk.
A única coisa digna de ser ensinada é música de concerto. É historicamente unânime que Bach é um deus, Mozart... Mas, do ponto de vista rítmico, eles são bem pobres.
E para surpreender quem acha que funk é lixo, Thiagson já explicou até que o hino da vacina "Bum Bum Tam Tam", do MC Fióti, é mais complexo que o "todo poderoso" Bach. Ou seja, é sofisticado sim!
Além da formação tradicional e conservadora, também existe o preconceito com questões de raça, classe e gênero no ambiente da acadêmia.
Thiagson fala do funk como fenômeno social:
É um fenômeno cultural extremamente amplo. Ele é uma realidade, é digno de ser estudado. A qualidade musical do funk tem a ver com envolver as pessoas, é um gênero musical social.
Ele diz que conhece muita gente que faz Funk como forma de superar a dureza da vida, ascender socialmente e evitar caminhos que podem ser prejudiciais. E o funk salva muito.
Antepassados vivos
Muita gente não imagina, mas Thiagson conta que há referências africanas no funk feito nas periferias. Esse, aliás, é um dos temas de sua pesquisa.
Tem um funk que chama "Amiga Que é Amiga", é parecido com a percussão de iorubá, com a música do oeste africano, que é exatamente de onde os escravizados vieram para cá.