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Especialista avalia Anitta como chefe: 'Ser famosa não dá direito a abuso'

Anitta no documentário Anitta: Made in Honório, da Netflix Divulgação/Netflix

De Splash, em São Paulo

20/12/2020 04h00

Anitta disse que sabia que seria cancelada assim que sua nova série, "Anitta: Made in Honório", estreasse. Ela tinha razão. Cenas da cantora perdendo a paciência com sua equipe viralizaram nas redes sociais e ela recebeu uma chuva de críticas por seu comportamento.

Splash buscou Renato Santos, advogado e especialista em gestão de pessoas, diretor do Instituto de Pesquisa do Risco Comportamental (IPRC), e pediu para que ele assistisse às cenas e avaliasse se o comportamento de Anitta era adequado como líder.

Está aqui o que ele achou.

Em um dos momentos, Anitta fica enfurecida quando duas fãs entram sem sua permissão em seu camarim. Ela questiona o segurança e, ao saber que elas chegaram com o maquiador Renner Souza, sai do sério e fala em tom alto: "Você sai e não volta nunca mais". Renner revela que não era a primeira vez.

Ela me demite todos os dias. Manda embora. Tem imagens aí de ela mandando eu ir embora. Depois, ela me pede para dormir com ela no quarto.

Renner Souza

Segundo Renato, a repetição do comportamento abusivo pode sim configurar assédio moral.

Considerando o depoimento do próprio maquiador, ele diz que ela já falou isso várias vezes, que ia mandar ele embora. Nesse momento, mostra uma repetitividade. É uma das características do assédio moral, a de humilhar a outra pessoa continuamente. Tudo indica que houve um assédio moral.

Renato Santos

Em outro momento, revoltada com a demora para a entrega dos figurinos do Rock in Rio, Anitta sai do sério e solta vários palavrões em mensagem enviada para sua equipe. "Toda vez, falam que sou grossa, escrota, então sou mesmo. Não tem roupa porque vocês não se organizam, não fazem", reclama.

Aquilo mostra um total descontrole emocional dela no momento. Não necessariamente é um assédio moral, mas com certeza é uma violência no trabalho. Uma violência verbal. Algo grave que é passível de indenização por danos morais por quem sofre.

Renato Santos

Como evitar esse tipo de comportamento?

O especialista acredita que o assédio moral e o abuso por parte de pessoas em situações de poder estão sendo mais debatidos do que nunca. A chave para evitar situações como essa, segundo ele, é o respeito que deve existir num ambiente de trabalho.

No caso da Anitta, ela mostra um desrespeito a esses colaboradores. Nada justifica ou dá aval para isso. Nem mesmo extremo estresse ou uma situação em que eles pisaram na bola. O gestor pode tomar medidas enérgicas, sim, causar demissão, até por justa causa, por algo grave. Mas tem que ter respeito

Anitta na série documental Anitta: Made in Honório Imagem: Reprodução / Netflix

Mesmo que trabalhar ao lado de uma artista do porte de Anitta envolva grandes responsabilidades, o status também não pode ser uma justificativa para um tratamento negativo com os colaboradores.

Não cabe mais esse tipo de comportamento na nossa sociedade. Independente de nível hierárquico, se a pessoa é famosa ou não. A base do assédio moral é o abuso do poder. O fato de ela ser famosa não dá direito a esse abuso. Inclusive aumenta a responsabilidade sendo uma pessoa como ela.

Renato Santos

Como proceder em situações de abuso?

Renato aponta para um fato alarmante: muitos funcionários nem mesmo reconhecem que estão sofrendo assédio ou abuso de seus superiores. Assim como chefes não percebem que podem estar sendo abusivos. A comunicação se torna crucial.

A comunicação é a melhor arma para combater o assédio. O primeiro passo é entender o que é ou não é assédio. Não achar que é só o jeito dela e tudo bem. O segundo passo é conversar com quem está cometendo aquele ato. O assediador é retroalimentado com o silêncio do assédio. Ele cresce com isso.

Caso a conversa com o gestor não ajude, é a hora de buscar a área de RH ou compliance da empresa. Se nada disso funcionar, o caso pode parar na justiça. Renato não consegue julgar se o que foi exibido na série de Anitta renderia um processo ganho.

Sempre precisamos de mais detalhes, precisamos ouvir a outra pessoa. Teríamos que ouvir a Anitta também. Todos têm direito de defesa. A justiça está sendo intolerante com casos assim.

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