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Indicado ao Oscar, Belfast traz descoberta, melancolia, incerteza e medo

Em "Belfast", Buddy é o alter ego do diretor Kenneth Branagh - Divulgação
Em 'Belfast', Buddy é o alter ego do diretor Kenneth Branagh Imagem: Divulgação

Domingas Person

Colaboração para Splash, em São Paulo

10/03/2022 04h00

Estamos testemunhando as disputas religiosas entre católicos e protestantes da Irlanda do Norte no verão de 1969 pela perspectiva de Buddy — o alter ego do diretor Kenneth Branagh, interpretado pelo cativante Jude Hill. Vemos e ouvimos as coisas do jeito dele: em sussurros, em partes, pelas janelas e portas entreabertas, do topo da escada, por corredores estreitos e na pequena sala da casa, onde a TV parece estar sempre ligada. A bela fotografia em preto e branco de Haris Zambarloukos, com pinceladas esporádicas de cores, faz ótimos enquadramentos destas perspectivas e nos aproxima ainda mais de Buddy.

Belfast

Lançamento: 2022 Duração: 98 minutos Pais: Irlanda do Norte Status: Em Cartaz Direção: Kenneth Branagh Roteiro: Kenneth Branagh
splash
4,6 /5
ENTENDA AS NOTAS DA REDAÇÃO

Fizemos uma análise geral de cenário, figurino, direção de arte e fotografia

A diversão é uma nota na qual propomos, que independente das notas técnicas, a produção vale ser vista

Pontos Positivos

  • Trilha do mestre do rock Van Morrison
  • Atuações primorosas
  • Linda fotografia
  • História baseada na vida pessoal do diretor Kenneth Branagh
  • Ótimo roteiro e direção

Pontos Negativos

  • Não espere entender profundamente o que foi este período político na Irlanda do Norte somente através do filme

É um cenário modesto, de famílias protestantes da classe trabalhadora, mas Buddy vê seus pais como estrelas de cinema glamorosas — como os atores dos filmes que ele aguarda ansioso para ver todo fim de semana no cinema local. Sua mãe (Caitriona Balfe) é elegante e mal-humorada, já seu pai (Jamie Dornan) é carismático e calmo. Em uma cena (realidade ou imaginação do Buddy?), eles cantam e dançam como verdadeiros ídolos. Judi Dench e Ciáran Hinds são excelentes como seus avós, um casal que levou uma vida inteira junto, continua se provocando mutuamente, e, nas nuances e nas mágoas, ainda transborda o amor e o carinho que não foram embora com o passar do tempo. E isso se vê em algumas das grandes cenas de destaque do filme.

Lembrando que Branagh ganhou fama como ator shakespeariano antes de se lançar na direção, é de se esperar que ele reúna performances calorosas e autênticas de um elenco de primeira linha. E, não à toa, tanto a "dama" Judi (aliás, irreconhecível) como Ciáran estão indicados ao Oscar como atores coadjuvantes.

Belfast teve mais 5 indicações: Melhor Diretor, Roteiro, Som, Filme e Canção Original (da lenda do rock Van Morrison, que também é de Belfast).

Ao relembrar os dias de infância na sua cidade natal, Branagh fez um filme íntimo, talvez até ambicioso — dá para relembrar de "Roma", de Alfonso Cuarón —, mas que é provavelmente seu melhor filme até hoje, e que traz ressonância universal.

É uma "carta de amor" a um período e um lugar cruciais na sua infância e às pessoas que ajudaram a moldá-lo; um retrato de como a chegada do perigo iminente interrompeu a camaradagem, a tranquilidade que conectou as famílias naquele bairro, naquele quarteirão, por décadas, independentemente das suas crenças religiosas ou políticas.

Há descoberta, melancolia, incerteza e medo, mas também há amor, resistência e esperança na tela de Branagh.