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Mauricio Stycer

Estudo mostra que 80% dos entrevistados de Bial são brancos e 19%, negros

O jornalista Pedro Bial, apresentador do "Conversa com Bial", exibido de segunda a sexta na Globo - Reprodução / Internet
O jornalista Pedro Bial, apresentador do "Conversa com Bial", exibido de segunda a sexta na Globo Imagem: Reprodução / Internet

Colunista do UOL

29/10/2020 07h01Atualizada em 30/10/2020 16h10

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No segundo estudo que divulga sobre a diversidade racial na mídia brasileira, o coletivo LójúKojú se debruçou sobre os entrevistados do "Conversa com Bial", exibido de segunda a sexta na Globo. De forma semelhante ao que mostrou o primeiro levantamento, sobre o "Roda Viva", da TV Cultura, os convidados de Bial são, em sua grande maioria, brancos.

Foram analisadas 563 edições do programa, entre 2 de maio de 2017, quando estreou, e 30 de junho de 2020, com a presença de 1.293 entrevistados.

O resultado mostra que 1.036 (80,12%) são brancos e 241 (18,67%) são negros.

O estudo sobre o "Roda Viva", divulgado no início de outubro, mostrou que mais de 92% de entrevistadores e entrevistados nos últimos quatro anos eram brancos. Entre entrevistados, 184 eram homens e 21 mulheres. Dos 185 entrevistadores analisados, 151 eram homens e 34 mulheres.

O coletivo se diz "movido pelo propósito da pesquisa, organização e disseminação de dados sobre as desigualdades estruturais no Brasil". O nome LójúKojú vem do yorubá, e significa: cara a cara, abertamente. "E é exatamente desta forma, de maneira aberta, que pretendemos encarar e expor cada dia mais as consequências das opressões no país", dizem.

"A presença branca é majoritária e constante no 'Conversa com Bial'. Dos 563 programas, houve 396 em que exclusivamente pessoas brancas foram entrevistadas. Brancos ainda estiveram presentes em 100 programas junto com entrevistados de outra cor ou raça", registram. "Apenas 66 programas do total de 563, ou um em cada nove, não tiveram a presença de brancos(as)".

A falta de diversidade não é apenas racial. De 1.293 entrevistados, 905 (70%) são homens e 388 (30%) são mulheres.

Na avaliação da cientista social Tainá Medeiros e do publicitário Douglas da Nóbrega, que lideram a pesquisa, "esse é mais um exemplo da contradição entre o discurso e a prática da diversidade na mídia brasileira".

Eles observam ainda: "Apesar da crescente exigência por representatividade, que as mídias dizem compreender e apoiar, os mesmos meios de comunicação não parecem ter interesse real em retratar a pluralidade de seu país".

Tainá reconhece que o estudo analisa uma questão superficial. "É a mais visível. Mas o debate não se encerra aí. Quem está produzindo este programa? Será que esse padrão não se repete dentro da redação?", pergunta.

Consultada sobre o estudo do coletivo, a Globo reconhece que "há muito por avançar" e afirma que está "atenta a isso". A emissora afirma que triplicou as contratações de talentos negros nos últimos cinco anos, Reproduzo abaixo a longa e detalhada resposta enviada pela empresa:

É importante destacar que a Globo sabe que, para ser escolhida todos os dias pelos brasileiros, precisa estar conectada com eles, contar histórias que os representem e representem o Brasil. Ela sabe que só consegue fazer isso retratando a pluralidade da sociedade brasileira. E é com o olhar cada vez mais aberto para isso que as nossas equipes têm trabalhado. Todas elas. As de produção, as de seleção em geral e as de seleção de talentos. No Jornalismo, no Esporte e no Entretenimento, nas áreas corporativas e de negócios.

Sabemos que há muito por avançar e estamos atentos a isso. Queremos trazer, cada vez mais, a diversidade do Brasil para a composição do nosso quadro e das nossas obras. Diante e por trás das câmeras. Olhando para diferentes regiões do país, histórias de vida, gêneros, sotaques, etnias, classes sociais e experiências diversas.

Assim, para refletir a diversidade brasileira, tanto na criação quanto na produção de seus conteúdos, a Globo triplicou as contratações de talentos negros nos últimos cinco anos, por exemplo. É dessa maneira que buscamos enriquecer as nossas obras com olhares e contribuições críticas variadas.

É daí também que nascem iniciativas como o programa de mentoria para jovens roteiristas que temos com a Flup (Festa Literária das Periferias) desde 2017 - o Laboratório de Narrativas Negras para o Audiovisual, um projeto de formação e inclusão no mercado de novos roteiristas autodeclarados negros. Por esse Laboratório, passaram mais de 100 alunos e muitos já estão atuando em projetos de audiovisual, sendo que cerca de 20 estiveram em diferentes projetos na Globo, entre eles Cleissa Martins, autora do especial de Natal de 2019, "Juntos a Magia Acontece", que acaba de ganhar o Prêmio Sim à Igualdade Racial 2020.

Assim como outras iniciativas, como a oficina Afrobrasilidade, que fizemos com Lázaro Ramos e Kiko Mascarenhas; a presença constante em festivais de cinema e de teatro de todos os estados brasileiros na busca de talentos regionais; os Diálogos Negro e Negritude na Mídia que fizemos no Entretenimento e no Jornalismo, com mediação da Flavia Oliveira, entre outras ações.

Vale mencionar ainda que a questão racial tem sido, há muitos anos, tema de diferentes campanhas da Globo, como "Tudo Começa pelo Respeito". E de matérias nos telejornais, programas de entretenimento e cenas educativas nas novelas. A dramaturgia, aliás, com o seu grande alcance, tem discutido bastante as desigualdades sociais nas últimas décadas, em obras e enfoques variados.

Atuações como a do coletivo Lójúkojú são importantes para enriquecer a reflexão e o debate tanto no audiovisual quanto na sociedade brasileira.