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Mauricio Stycer

Carioca comenta banana a repórteres: "Estou num personagem; sem julgamento"

Bolsonaro ao lado do humorista Carioca no Palácio da Alvorada - DIDA SAMPAIO/ESTADÃO CONTEÚDO
Bolsonaro ao lado do humorista Carioca no Palácio da Alvorada Imagem: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO CONTEÚDO

Colunista do UOL

04/03/2020 18h21

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O humorista Marvio Lucio, o Carioca, estreia este domingo (08) na Record, dentro do "Domingo Espetacular", exibindo uma entrevista com o presidente Jair Bolsonaro realizada nesta quarta-feira (4) no Palácio da Alvorada.

Segundo Carioca, foram mais de três horas de conversa. "Uma entrevista inusitada e de humor com o presidente da República", disse o humorista ao UOL.

Caracterizado como o personagem Bolsonabo, que começou a fazer em 2017 no "Pânico", o humorista diz que surpreendeu a primeira-dama, Michelle, ao entrar no palácio presidencial. "Dona Michelle tomou maior susto achando que eu era ele porque entrei do nada. Tá maravilhoso", contou.

Carioca não revelou maiores detalhes sobre a entrevista, mas contou que cantou músicas de Caetano Veloso e Chico Buarque no ouvido do presidente.

Após a entrevista, ainda caracterizado como Bolsonabo, Carioca dirigiu-se ao local cercado onde ficam os jornalistas que cobrem o dia-a-dia da Presidência. E ofereceu uma banana aos profissionais enquanto pedia que fizessem perguntas a ele. Apenas uma foi feita. "Foi o presidente que pediu pra você dar banana pra gente?"

Carioca não gostou. "Não vem com esse papo, não. Foi ideia minha. Foi ideia minha. Foi ideia minha. Foi ideia minha. Foi ideia minha. Isso aqui se chama humorista. Próxima pergunta", respondeu. Nenhum jornalista fez qualquer outra pergunta, apesar dos insistentes pedidos do humorista.

Em contato por telefone, eu disse a Carioca que a piada não funcionou. Ele respondeu: "Uns vão amar, outros vão odiar... Faz parte!" Em seguida, ele disse: "Eu, como humorista, estou de personagem. Não posso pensar em julgamento social. Imbuído do espírito do cara. (Dei) a banana simplesmente porque ele vem dando banana", disse, numa referência ao gesto que o presidente Bolsonaro já fez mais de uma vez aos jornalistas.

Segundo Carioca, é preciso separar ficção da realidade. "Quem matou Odete Roitman? O negócio tá tão louco hoje em dia que daqui a pouco a polícia vai abrir inquérito para apurar quem matou Odete Roitman. É piada, simplesmente isso", disse.

Após a tentativa mal-sucedida de ser entrevistado pelos repórteres, Carioca se afastou do local. Instantes depois, Bolsonaro chegou e levou o humorista novamente para a área cercada. Ali, o presidente usou Carioca para não responder aos jornalistas sobre o resultado do PIB, que havia sido anunciado pouco tempo antes.

Repórter: Presidente Bolsonaro, o senhor falará sobre o PIB?
Bolsonaro: PIB? O que é PIB?
Carioca: O que é PIB? Paulo Guedes, Paulo Guedes...
Repórter: A pergunta é para o presidente, não pro senhor.
Bolsonaro: Posto Ipiranga.
Carioca: Posto Ipiranga.
Bolsonaro: Outra pergunta.
Carioca: Outra pergunta, outra pergunta.
Repórter: Presidente, comenta o PIB conosco.
Carioca: Mas é o Paulo Guedes, é o Paulo Guedes.

Como o presidente não respondeu a mais perguntas sobre o PIB, os repórteres deixaram de fazê-las.

Carioca afirma que a sua referência no encontro com Bolsonaro foi a personagem Salomé, de Chico Anysio (1931-2012), que telefonava para dar conselhos gaiatos ao presidente João Figueiredo, chamando-o de "João Batista", nos últimos anos da ditadura militar. Apesar do tom crítico das piadas, o presidente era fã do quadro e, em dezembro de 1979, Chico se apresentou no Palácio do Alvorada, caracterizado com Salomé, para um grupo de 30 pessoas, entre os quais Figueiredo.

Em suas memórias, "Sou Francisco" (1992), Chico se recorda assim da noite: "O show no Palácio da Alvorada foi beleza. Elizeth Cardoso cantou lindamente depois da cena da Salomé falando ao presidente e citando figuras presentes no auditório. Ninguém ficou ofendido com as brincadeiras (...) e depois do show participei, a convite do presidente, do jantar de fim de ano. Era o recibo definitivo da abertura, a comprovação de que não havia mais aquele cerceamento miserável à criação. O Brasil começava, mesmo, a entrar numa nova fase."