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As miçangas conquistam de vez o mundo da moda; até Sabrina Sato aderiu

Sabrina Sato veste look de miçangas assinado por Kevin Germanier Imagem: Reprodução/Instagram

Gabriela Dourado

Colaboração para Nossa, de Fortaleza

29/01/2023 04h00

Quando Sabrina Sato surgiu em um vestido de pedrarias ultracoloridas no palco do TikTok Awards, no final de 2022, estava mais do que determinado: as miçangas se tornaram pop.

O vestido, no caso, era assinado por Kevin Germanier, estilista sueco com trabalho focado em upcyling e sustentabilidade. Mas, ao contrário dos tecidos crus e poucas variações de cores comumente atreladas a marcas e coleções pautadas por essas vertentes, o trabalho de Germanier envolve uma explosão de brilhos, tons e estética over.

Com isso, além da apresentadora brasileira, o designer também é queridinho de nomes como Ivete Sangalo, Lady Gaga, Björk e Taylor Swift.

Além do look da apresentadora, você já deve ter visto por aí bolsas, colares, tops e outras peças feitas de continhas que tomaram as ruas e as passarelas, principalmente no verão.

A Chanel, por exemplo, levou uma bolsa de miçangas para a sua primavera/verão 2022. No Brasil, Jade Picon costuma apostar em colares divertidos e até apostou nas continhas em um look ousado repleto de recortes.

Bolsa de miçangas na coleção da Chanel Imagem: Victor VIRGILE/Gamma-Rapho via Getty Images
Jade Picon e look Bold Strap com recortes e miçangas Imagem: Reprodução/Instagram

Sustentabilidade na moda

Mas, apesar do hype envolver materiais em plástico, as miçangas de vidro carregam um caráter sustentável e se tornam grandes estrelas de diferentes criações na moda contemporânea.

Diferente do plástico (inimigo número um do meio ambiente por seu alto poder de poluição), o vidro triturado, se bem descartado, se torna areia e entra novamente no ciclo da natureza. E essa consciência ambiental atrelada à informação de moda atinge não só Satos e Germaniers, mas também marcas e criadores de outros pontos do Brasil.

Larissa Lopes criou a Tropicana Imagem: Divulgação

Em Fortaleza, a designer Larissa Lopes criou a Tropicana e decidiu investir na criação de peças diversas a partir do uso de miçangas.

"Em minhas pesquisas na criação da marca, fui descobrindo outras formas trabalhar as miçangas, especialmente as de vidro e madeira, bem como outras formas de construir com elas. Não necessariamente apenas um colar de miçangas, mas uma roupa, uma coroa, uma bolsa? Eu vi que é uma matéria-prima original, autoral e sustentável", relata a cearense.

A preocupação com a sustentabilidade é, aliás, fundamental pra a Geração Z. Quem afirma é a pesquisa de tendências para 2023 feita pelo Instagram.

Hoje existe uma demanda muito alta por conta da tendência da moda. Mas, daqui a pouco, quando ela passar, as miçangas de plástico irão gerar um volume altíssimo de lixo", reflete.

Ancestralidade afro-indígena

Peça da Tropicana Imagem: Divulgação

Mais do que uma tendência fashion ou um apelo sustentável, as miçangas ainda carregam a ancestralidade brasileira em cada continha que passa pela linha.

Desde os longos colares utilizados pelas religiões de matriz africana até às tradições indígenas em formato de pulseiras, colares ou instrumentos musicais, as contas contam um pouco da história do Brasil.

Um material especial do Google and Arts revela que a Miçanga é derivada de [masanga], palavra de origem africana que significa "contas de vidro miúdas".

Mais do que um objeto ou um conceito, a miçanga é pura relação: sua definição se faz no encontro entre mundos distantes. Deste modo (...) poucas ou muitas miçangas de todas as cores, transportadas por caravelas, mulas e aviões, são transformadas em enfeites, fetiches e obras de arte".

Peças da Tropicana Imagem: Divulgação

Foi essa relação também que influenciou Larissa em seu trabalho com as pedrinhas. Filha de um homem negro e uma mulher indígena, a cearense se considera "afro-indigena" e deseja carregar todas essas referências em suas criações.

"As contas de vidro são muito utilizadas por indígenas, inclusive por sua capacidade de serem energizadas, podem se tornar amuletos? é uma conexão com a ancestralidade", reforça.

Peças da Tropicana Imagem: Divulgação

Os grafismos, os tecidos e até instrumentos musicais, como o Xequerê, fazem parte das referências da designer para a criação de suas peças.

"Me inspiro em nomes como Bispo do Rosário, a designer Silvania de Deus aqui de Fortaleza e até na escritora Carolina Maria de Jesus, que relata em seu livro as produções que ela fazia a partir de miçangas que encontrava no lixo", comenta, salientando ainda a importância das artesãs nesse trabalho.

Continhas agora se espalham

O trabalho de Larissa Lopes com a miçangas de vidro e de maneira resultou em várias parcerias. No final do ano passado, ela se uniu à Isaac Silva em uma collab de moda afro e indígena lançada pelo Instituto C&A em parceria com a C&A Brasil.

Já em Fortaleza, recentemente trouxe a simbologia das contas para a coleção "Babaçu" da marca cearense Açude.

Coleção da Açude Imagem: Reprodução/Instagram
Coleção da Açude Imagem: Reprodução/Instagram

"A referência para peça era a flor do Pequi, uma fruta típica do Cariri, minha terra natal. Como é uma fruta pequena que tem uma espécia de agulha saindo dela, percebi que a miçanga seria perfeita para representar. Optei pela de vidro justamente por carregar essa característica sustentável", revela a designer Ana Beatriz, natural de Juazeiro do Norte (CE).

Do look de uma celebridade à semanas de moda internacionais, as miçangas, no fundo, contam histórias de ancestralidade, sustentabilidade e tradições brasileiras, muito mais do que tendências passageiras de modas. E você, vai aderir?

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