Conheça o Caldo de Pinto, receita mineira com fama de afrodisíaca
Iara Siqueira
Colaboração para Nossa, de Cambuí (MG)
09/08/2020 04h00
Minas Gerais é terra de queijos, doces e quitutes de dar água na boca, não é mesmo? Por ali, especificamente nas bandas do sul de Minas, em Cambuí, uma iguaria com nome no mínimo sugestivo tem ganhado os paladares mais exigentes: o Caldo de Pinto.
Principalmente em dias frios, nada melhor do que saborear variação de canja de galinha (só que bem mais amarela).
O nome, a princípio, pode causar certa estranheza. "Os mais conservadores preverem nem pronunciar, na hora de fazer o pedido algumas pessoas gaguejam", diz a cozinheira Elisabeth Rodrigues, de 42 anos, criadora da iguaria. Curiosos, perguntam logo de cara se vai pintinho de galinha na receita.
Contudo, os julgamentos se desmoronam depois de experimentar o alimento a base de frango e mandioca, acompanhado de pão, ervas verdes, pimenta, queijo e até uma cachacinha artesanal.
Caldo da Beth
Na rua São Geraldo, logo na entrada já é possível sentir o cheiro que exala dos tachos e panelas sob a batuta das mãos habilidosas de Dona Beth, como é chamada carinhosamente a cozinheira.
Com sotaque arrastado e risada fácil em quase todas as frases, ela já fez de tudo um pouco: "Trabalhei na área de saúde, indústria. Mas, eu gosto mesmo é de cozinhar", gaba-se.
Natural do norte de Minas, perto de Teófilo Otoni, até hoje o gosto do alimento consumido desde a infância, nas festas juninas e eventos da família, está presente no imaginário da quituteira.
Lá, o caldo era coisa séria. Uma pessoa específica ficava responsável por preparar a estrela da noite, mas sem revelar os ingredientes.
A gente não sabia fazer, e nem o que ia no caldo. Minha cunhada, por sorte, conseguiu a receita, eu fui adaptando e fazendo a olho"
Em família
Devido a pandemia coronavírus, Dona Beth e a filha precisaram se reinventar. Antes da crise, a família tocava um pequeno estabelecimento. "Por causa da covid-19, tivemos que fechar. Minha filha ficou desempregada", lamenta a cozinheira.
"Dia 8 de julho foi meu aniversário de quatro anos de casamento e não estávamos em condição de fazer bolo ou gastar com festa para comemorar. Foi aí que tive a ideia de chamar a família do meu marido e servir Caldo de Pinto para a data não passar em branco", conta.
Aprovado pelos familiares, a produção inicial foi de apenas dois tachos. A fama se espalhou e os pedidos começaram. Com a divulgação boca a boca e as postagens na internet, as encomendas não pararam de chegar.
Todos os dias, rigorosamente depois das 18 horas (horário que Beth chega do trabalho), ela prepara com a ajuda da filha os caldos e o marido se encarrega da entrega dos pedidos por delivery. A sopa, vendida por R$ 10, tem ajudado a engrossar a renda familiar.
Caldo afrodisíaco
Por ter ingredientes fortes como alho e cebola e ser servido pelando, há quem garanta que o caldo esquenta mesmo — e não se refere só a temperatura. Outros dizem que isso é apenas lenda. Porém, o caldo rende muitas brincadeiras. Helson, marido de Beth, conta que o pessoal ainda mexe com ele na rua: " Vai ficar aleijado de tanto fazer caldo!", diverte-se.
O nome escolhido foi uma jogada de marketing que deu certo. "Ficou engraçado", comemora a família orgulhosa pela criação. Outro atributo dado à canja é de que ela curaria resfriado e daria "sustança". Ficou com vontade? O jeito agora é experimentar quando passar lá pelas bandas de Cambuí para comprovar mais esses adjetivos da iguaria.