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Empresa esconde torneio com 80 atletas na pandemia para evitar denúncias

Divulgação do Classic Contest, campeonato de fisiculturismo de Goiás - Reprodução
Divulgação do Classic Contest, campeonato de fisiculturismo de Goiás Imagem: Reprodução

Adriano Wilkson

Do UOL, em São Paulo

04/04/2021 04h00

A organização do Classic Contest, um campeonato para fisiculturistas, adotou uma operação "abafa" para evitar críticas por manter o evento que reunirá 80 atletas em um teatro de Goiânia hoje.

Na competição, fisiculturistas de diversos estados se apresentam diante de juízes, que dão nota para seus corpos. O torneio é classificatório para outros maiores, como o Arnold Classic South America e Mr. Olympia Brasil. Além dos atletas, o evento contará com seus técnicos e cerca de 15 funcionários da organização.

Diante do agravamento da pandemia de covid-19, que já matou 328 mil pessoas no país e 11 mil em Goiás, a empresa NPC/IFBB Pro League Goiás recebeu críticas nas redes sociais por manter a competição, mas resolveu seguir em frente.

Na quinta-feira passada, o fisiculturista goiano Djalma Batista morreu após ficar uma semana internado com covid, o que causou consternação no esporte local. Ele participava de torneios regionais e nacionais.

"Diante das circunstâncias, usaremos o plano B", escreveu a promotora Kenia de Sousa em um grupo de Whatsapp com atletas. "Mudamos o local da pesagem e também do evento. De hoje em diante todas as informações do campeonato só serão passadas a atletas inscritos", avisou a organizadora.

A pesagem do torneio aconteceu ontem no hotel Bristol Evidence, em Goiânia. O local do torneio em si, marcado para hoje, não foi divulgado publicamente pela organização.

Evitem - Reprodução - Reprodução
Atleta aconselha companheiros a não postar sobre torneio para evitar denúncias
Imagem: Reprodução

Em privado, a empresa informou que o campeonato ocorrerá em um teatro da PUC (Pontifícia Universidade Católica) de Goiás.

"Evitem ficar postando stories sobre o campeonato, pessoal. Isso pode gerar mais denúncias ou tentativas de boicote. Segurem isso para o domingo, quando não haverá mais chance de fazerem nada. Contem somente a quem deva contar", escreveu o atleta mineiro Caio Lacerda no grupo com organizadores, de acordo com prints aos quais a reportagem teve acesso.

Procurado, Caio afirmou que participou do torneio em 2020 e que não sabia nada sobre a edição de 2021. Confrontado com a mensagem que enviou ao grupo, afirmou que seu telefone havia sido hackeado.

Campeonato é autorizado pela prefeitura, diz organização

Procurada pelo UOL Esporte, a empresário Kenia de Sousa afirmou que o evento segue "todos os protocolos de segurança" e que tem autorização da prefeitura de Goiânia. Não conseguimos contato com a prefeitura para confirmar a informação.

Em um decreto publicado no dia 27 de março, o prefeito Rogério Cruz flexibilizou medidas restritivas de combate à pandemia. No sétimo parágrafo, o decreto afirma que "estabelecimentos destinados à prática de esportes coletivos" devem ter "a participação de no máximo 4 (quatro) integrantes."

Segundo a empresária, a prefeitura fez exigências para autorizar o torneio. "Todos os atletas estão usando máscara N95 e tiveram que apresentar teste de covid. Sem o teste, eles não conseguem nem se inscrever", afirma. A organização também afirma ter limitado a participação de técnicos e dividido os competidores em grupos para evitar maior contato entre eles.

Sobre a morte recente de um fisiculturista conhecido no estado, a empresária disse que não poderia adiar o campeonato por causa dela.

"Quando ele faleceu, a gente já tinha tudo agendado. É um pesar muito grande, mas como a gente faz? Para tudo? Vamos parar tudo? Como eu vou justificar pra 70 pessoas que estão inscritas: 'Olha não vai acontecer porque o Djalma faleceu e vamos ter que adiar'?"

Procurada, a PUC, sede do torneio, não se pronunciou até a publicação dessa reportagem.