Nas mãos de Weverton

Goleiro do Palmeiras tenta repetir passos de São Marcos na busca do Palmeiras pela 2ª Libertadores

Thiago Ferri UOL, em São Paulo Marcelo Alvarenga/AGIF

O Palmeiras inicia hoje (5) a disputa por uma vaga na final da Copa Libertadores, contra o River Plate (ARG), às 21h30, no estádio Libertadores da América, em Buenos Aires (ARG). Em busca do segundo título na competição, o Verdão tem, assim como na conquista de 1999, seu goleiro como um dos pilares da equipe.

Naquele título, era Marcos quem liderava o time. Acabou, inclusive, eleito o melhor jogador da competição. Weverton, fã declarado do pentacampeão mundial, tenta seguir o mesmo caminho.

Ainda que tivesse alguma desconfiança da torcida quando chegou, no início de 2018, o goleiro foi ganhando importância e tornou-se um dos líderes no vestiário. Há três anos no Verdão, completados ontem (4), tornou-se o quarto atleta do elenco com mais partidas pelo clube (144) e uma voz importante no vestiário.

Weverton é um dos capitães do Palmeiras, atrás de Felipe Melo e Gustavo Gómez, é quem faz o último discurso nas preleções e um dos responsáveis por facilitar a recepção dos garotos da base ao elenco profissional. Em momentos importantes da temporada, ele tomou a palavra para motivar seus companheiros. Foi assim na semifinal da Copa do Brasil, contra o América-MG, em que o Verdão venceu por 2 a 0 (veja no vídeo abaixo).

Marcelo Alvarenga/AGIF
Cesar Greco/Palmeiras

De olho em recorde de Marcos

Dos 144 jogos que disputou pelo Palmeiras, Weverton não foi vazado em 74 deles. Ele é o terceiro goleiro no clube com mais partidas sem levar gols no século, atrás de Fernando Prass (101) e Marcos (107). O atual titular, contudo, caminha para bater este número (e outros mais). Para isso, só cumprir seu contrato, que vai até o fim de 2024.

Em 2020, o goleiro campeão olímpico pela seleção brasileira não foi vazado em 27 partidas, quebrando o seu próprio recorde de 26, obtido em 2019. Caso mantenha a média neste ano, atingirá os 107 jogos de Marcos no início de 2022.

Frequentemente convocado pela seleção brasileira, Weverton já é o décimo goleiro com mais jogos pelo Palmeiras e tem a terceira menor média de gols sofridos na história do clube — 92 gols em 144 jogos (0,63 gol/jogo). Os únicos a sua frente atuaram bem menos: os paraguaios Benítez, com 13 gols em 24 jogos em 1978 (0,54 gol/jogo), e Gato Fernández, com 22 gols em 35 jogos em 1994 (0,62 gol/jogo).

Mauro Horita/Conmebol Mauro Horita/Conmebol

Da "12 ao contrário" à promessa de Marcos

Weverton vestiu a camisa do Palmeiras pela primeira vez em sua apresentação no clube, no dia 4 de janeiro de 2018. Fernando Prass era o 1, Jailson, o 42. O reforço, então, pediu para usar a 21. Ao explicar o motivo, brincou dizendo ser a "12 ao contrário".

Ele era o camisa 12 no Athletico-PR e, no Palmeiras, o número ficou eternizado por Marcos. Desde sua aposentadoria, o clube decidiu que apenas atletas de linha poderiam usá-lo — Mayke é o atual dono.

O que mais me chamava a atenção no Marcos era a simplicidade. Ele nunca fazia firulas, era decisivo na hora que precisava. Isto é o que mais me chamou a atenção para me espelhar nele, de o admirar como pessoa e jogador. Hoje, estar aqui e passar nos corredores do clube e ver a história dele me motiva para buscar algo parecido. A história dele e de outros está eternizada e nunca será comparada, mas podemos fazer nossa história aqui também. Vim para isto, para fazer bonito, com esta alegria e disposição".

Weverton, em sua apresentação no Palmeiras

Em 2020, com a saída de Prass, Weverton usou a 1 na Libertadores, que tem numeração fixa, mas depois a assumiu também nas competições nacionais. Até que, em outubro, conversou com Wesley — que havia ficado com seu antigo número — e pediu para voltar a usar a 21, pelo menos no Brasileiro e na Copa do Brasil. Na Libertadores, teve de seguir com a 1.

Após a classificação contra o Libertad para a semifinal do torneio sul-americano, Marcos chegou a mandar uma mensagem no Instagram ao atual titular: "Paredão, traz essa para nós, a Libertadores. Arrumo um jeito de tirar a 12 da linha e fazer ela voltar pro gol, entrego na sua mão".

Weverton agradeceu, mas afirmou que a camisa "merecia continuar eternizada" por tudo que o pentacampeão fez no Verdão.

Cesar Greco/Ag. Palmeiras/Divulgação

Desbancou campeões e virou unanimidade

Os torcedores não gostaram quando o Palmeiras preferiu pagar R$ 2 milhões ao Athletico-PR para ter Weverton já no início de 2018, em vez de esperar seu contrato acabar, em maio. Ele chegou para disputar posição com Fernando Prass e Jailson, muito identificados com o clube após serem vitais em títulos da Copa do Brasil e do Campeonato Brasileiro, mas já em idade avançada. No primeiro semestre, apesar do esforço feito pela diretoria, chegou a ser a terceira opção.

Isto fez com que ele não tivesse chances de realizar o sonho de disputar a Copa do Mundo de 2018, mas após a pausa para o Mundial, com a dupla em baixa, tornou-se o titular e não saiu mais.

Jailson e Fernando Prass ainda permaneceram para 2019 e, na temporada passada, o clube decidiu liberar o antigo camisa 1, maior ídolo dos três, mas o mais velho, também (42 anos de idade). Jailson ainda hoje é o reserva (39) e atua esporadicamente, quando Weverton é convocado por Tite. Vinicius Silvestre, formado no clube, é a terceira opção.

Ormuzd Alves/Folhapress

Atuação inspiradora do ídolo

Para o torcedor palmeirense, a visão de um grande goleiro enfrentando o River Plate é marcante. Afinal, Marcos foi um dos grandes personagens dos duelos da Libertadores de 1999. Na partida de ida, na Argentina, o Verdão foi bombardeado e perdeu "só" por 1 a 0. O placar poderia ser pior, não fosse a atuação inspirada do goleiro, com pelo menos três defesas difíceis.

Gallardo, hoje técnico do River, esteve em campo naquela noite pela equipe argentina. O Verdão reverteu o placar na volta, e fez 3 a 0 no estádio Palestra Itália, com dois gols de Alex e outro de Roque Júnior.

Na final, o Palmeiras venceu o Deportivo Cali (COL) nos pênaltis, e Marcos acabou eleito o craque da competição — prêmio que até então nunca havia sido vencido por um goleiro. Aquela conquista começou a pavimentar o caminho para que o Santo se tornasse um dos maiores ídolos do Palmeiras. Já campeão brasileiro e paulista, Weverton tem uma grande inspiração para o duelo desta noite e sua sequência no Verdão.

"Argentino nunca está morto"

Em entrevista exclusiva ao UOL, Marcos ressaltou a importância daquela partida para a construção de sua imagem:

Qual a sua primeira memória daquele jogo contra o River em 1999?

Marcos: Eu lembro que, na época, o River já era um time experiente, com muitos títulos. A gente sabia que ia ter muita dificuldade para jogar. A gente achava que eles eram o bicho papão daquela Libertadores. Mas por termos passado por Vasco e Corinthians, a gente tinha confiança para entrar naquele jogo.

Qual a defesa que você mais gosta daquele jogo de ida?

A defesa que eu mais gosto daquele jogo é a primeira, cara a cara com o Saviola, logo no comecinho. Depois dessa primeira defesa, a gente pega confiança para seguir na partida. Eu fiz uma primeira defesa muito boa e fiquei confiante para o resto do jogo. Sabia desde o princípio que vinha muita bola no gol. A gente estava jogando fora e fiquei muito feliz de ter feito essa primeira defesa importante.

Nota da redação: A defesa a que se refere Marcos é a primeira no vídeo abaixo da Conmebol.

Qual a importância daquele jogo para a construção da sua imagem de ídolo e santo?

A importância é total. Não só do jogo, mas da conquista. Para minha imagem, foi... Nossa, antes da Libertadores, eu era reserva, não era ninguém. E fiz a Libertadores boa aquele ano, jogamos contra rivais fortes, não só os do Brasil, mas os de fora também, como o River. A partida é lembrada pelos torcedores do Palmeiras até hoje. Para a construção da minha imagem com os torcedores, esse jogo foi muito importante, extremamente importante.

Como você enxerga o jogo desta terça? Tem alguma semelhança? O fato de não ter torcida equilibra as coisas?

Eu acho que cada jogo é uma história. Naquela época, foi um grande jogo e eu acho que também vai ser um grande jogo o desta terça. O River hoje em dia é muito, muito, muito forte. Chega em todas as Libertadores, com Gallardo no comando há muito tempo, com uma equipe muito bem montada. O fato de não ter torcida é ruim, é chato, deixa o jogo frio, não tem calor do torcedor e cobrança que movimenta o jogo. Mas, com essa história da pandemia, é o que tem para hoje. Eu acho que está equilibrado e é tão importante e vai ser tão bom quanto o de 1999.

Há sempre os debates que o argentino é mais preparado mentalmente para a Libertadores. Você concorda? O que falaria se fosse fazer uma palestra no vestiário na terça?

Jogar contra argentino é sempre muito difícil. Acredito sim que eles são muito bem preparados psicologicamente, você vê pela cara, pelo semblante deles. Eles estão ganhando ou perdendo e estão com mesma aparência. Eles sempre mantêm o sistema tático igual, ganhando ou perdendo. E o fato de o River ter chegado a muitas semifinais e finais os deixa muito confiantes para isso. É diferente do Palmeiras, que há muitos anos não chega na final, né? Mas tudo isso pode ser revertido dentro de campo. Se cada jogador fizer a sua bem feita, tudo se equipara na hora. No jogo, tem o aspecto do grupo e tem o individual. O Palmeiras está vivendo um bom momento e tem tudo para conseguir a classificação. Como a gente sempre brincava na minha época: "cuidado com os argentinos que eles nunca estão mortos". Eles são bem psicologicamente, fisicamente e sempre são muito fortes em mata-mata.

(Por Danilo Lavieri, do Blog do Lavieri)

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