Quem veleja está acostumado com a ideia de que a força da natureza é que diz para onde o vento leva. Durante os primeiros dias de agosto, Santiago Lange estará em Tóquio disputando sua sexta Olimpíada, mas sem saber aonde vai chegar. Sua única certeza é que, na volta, vai matar a saudade do neto. E, se tudo der certo, velejar pela primeira vez com o bebê no barco que construiu em sua homenagem.
Lange, 59 anos, é um herói do esporte argentino. Da mesma geração de Torben Grael, que é só um ano mais velho, hoje vê seus filhos competirem contra os do brasileiro. Com a diferença de que, enquanto Torben vai a Tóquio como treinador, e Marco e Martine como atletas, na família Lange é o pai quem compete, e o filho quem dá treino.
"Cada vez que vou treinar me surpreendo com a gana que tenho. Ao longo da minha trajetória desportiva, fui mudando a gana de ganhar para o prazer em desfrutar o processo", disse o velejador em uma conversa com UOL Esporte de Buenos Aires, onde mora.
Depois de cinco Olimpíadas competindo em classes mais tradicionais, Lange ganhou enfim sua primeira medalha de ouro, no Rio de Janeiro, na classe mais radical da vela, a Nacra 17, um barco que parece voar. E ele venceu com um pulmão só, meses depois de se recuperar de um tratamento de câncer. Classificado para Tóquio, quer repetir o feito no Japão, enquanto já pensa nos Jogos de Paris e não vê a hora de ensinar a pescar o neto, Silvestre, um bebê que ainda não completou um ano.
A única coisa que eu queria era ganhar e ganhar. E agora quero ser um homem feliz. E, se continuo competindo, é porque amo fazer isso."
Santiago Lange, medalhista de ouro na vela