Já havia brigas ligadas ao futebol antes das organizadas, diz especialista
A temática das torcidas organizadas no Brasil muitas vezes é cercada de polêmicas em relação à violência de integrantes dos grupos uniformizados e foi abordada pelo sociólogo Bernardo Buarque de Hollanda, professor e pesquisador da Escola de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV-CPDOC), além de autor de vários livros sobre torcidas organizadas, que foi o entrevistado de Mauro Cezar Pereira no programa Dividida, no Canal UOL.
O especialista explicou as origens das torcidas organizadas, afirma que já existiam as brigas relacionadas aos jogos de futebol e que no período de criação dos grupos de torcedores uniformizados, eles eram vistos como se pudessem ajudar a evitar as brigas, em um período no qual não havia divisão nos estádios entre os apoiadores de times que estavam se enfrentando.
"Esse é um tema também que ainda é bastante envolto em controvérsias e eu acredito que a dimensão histórica ajuda a gente a perceber como isso assiste a uma dinâmica específica, em que a gente pode compreender melhor à luz do tempo. Então, um aspecto que é importante assinalar é que sempre teve brigas relacionadas às partidas, aos jogos, mesmo no período amador, mesmo no período em que não havia torcidas organizadas", afirma Buarque.
"Inclusive, o surgimento das torcidas organizadas foi visto como elemento inibidor das brigas nos estádios, até porque quando não havia a divisão entre torcidas nos estádios, justamente muitas brigas ali individuais, de pessoa a pessoa, a partir de uma provocação, de um insulto, aconteciam justamente porque os públicos eram mesclados e isso começa a ser mais delimitado com a criação das torcidas uniformizadas e a figura do chefe de torcida era vista como uma figura que contribuiu para conter, inibir e tentar minimizar esses problemas", completa.
O sociólogo afirma que o crescimento das torcidas nos anos 1970 e 1980 tornou mais difícil o controle, assim como o acirramento das rivalidades entre os torcedores de diferentes clubes, o que levou a um patamar maior e mais complicado em relação às brigas.
"Na virada dos anos 1960 para os anos 1970 e os anos 1980, a gente começa a ver aí uma certa espiral e a autonomização dessa violência. Enfim, essa ação de rivalidade e aí uma rivalidade que parte dessa gozação, dessa provocação, esse limiar entre uma rivalidade positiva e uma negativa e aí, pouco a pouco, as torcidas que tinham esse elemento de contenção da violência das massas, elas começam também a canalizar justamente porque ela tem esse elemento grupal", diz Buarque.
"Também porque elas começam, como a gente mencionou, a crescer quantitativamente muito nesse momento. E aí essa dimensão de grupo, essa ideia de que um grupo se sente forte quando ele está ali constituído como coletivo passa a autonomizar essas brigas, ou seja, o que era visto em função do jogo, em função de uma partida, começa a ter uma vida própria nessa dinâmica de enfrentamento", conclui.
O Dividida vai ao ar às quintas-feiras, às 14h, sempre com transmissão em vídeo pela home do UOL e no canal do UOL Esporte no Youtube. Você também pode ouvir o Dividida no Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts e Amazon Music.
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