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Do Palmeiras aos EUA: Como futebol ajudou Fabio Brazza a ser rapper

Fabio Brazza jogou nas categorias de base do Palmeiras e ganhou bolsa para estudar nos Estados Unidos por conta do futebol Imagem: Reprodução/Instagram

Flavio Latif

Do UOL, em São Paulo (SP)

12/02/2021 04h00

Fabio Brazza é um rapper que ficou conhecido no início de sua trajetória como cantor pelas batalhas de rima no canal do Desimpedidos no YouTube — ele fazia rimas defendendo e contando as histórias de algumas equipes do futebol brasileiro. Hoje, aos 31 anos, vive a carreira como músico buscando relacioná-la com uma paixão antiga: o futebol.

Antes de se jogar no mundo da música, o artista tentou ser jogador de futebol profissional. Em entrevista ao UOL Esporte, Brazza contou que sempre se destacou dos demais quando era adolescente, e os campeonatos que disputava pelo seu colégio já não eram mais desafio para ele.

Quando tinha 14 anos, Fabio passou em um teste nas categorias de base do Palmeiras — onde permaneceu até os 17 anos — e foi no clube que percebeu que não teria futuro na carreira como jogador profissional.

"Passei em um teste na base do Palmeiras e dos 14 aos 17 fiquei lá. Foi aí que percebi que não era mais o melhor, eu era só mais um, peguei banco e tinha muito cara bom, do Brasil inteiro, percebi que não era o melhor como eu pensava", afirmou.

"Quando saí do Palmeiras torci meu tornozelo em um teste na Portuguesa e tive que operar, voltei e machuquei de novo. Passei dois anos seguidos a virada do ano de muleta. Me desiludi com o futebol, tanto as lesões, quantos nos resultados negativos nos testes. Você começa a perceber que já está ficando velho e talvez o futebol não fosse rolar mesmo", completou.

Fabio Brazza e seu companheiro Anderson 'Tripa' quando jogavam nas categorias de base do Palmeiras Imagem: Arquivo pessoal

Apesar de desilusão com o futebol, Brazza diz que o esporte foi fundamental para a sua consciência social e a formação como rapper. Ele justificou dizendo que seus colegas de equipe nas categorias de base viviam a realidades que o rap da época trazia em suas letras.

"Eu tenho gratidão enorme pelo futebol porque, acima da música, o futebol moldou meu caráter, ele me trouxe a consciência social. Antes da música e do rap, o futebol fez isso. A primeira vez que convivi com pessoas de outras realidades, negras e pobres, foi no futebol. A convivência que eu tinha com essas pessoas era servil, meu mundo era limitado e o futebol me abriu o mundo", analisou.

"O futebol me aproximou de tudo isso, o rap nasceu ali. Meus amigos do futebol vivam a realidade que o rap contava. Eu comecei a frequentar a casa dos meus amigos, conhecer essa realidade e querer conhecer mais do Brasil que o rap me contava, que eu não via no meu bairro. Quando me joguei nas batalhas de rap, conheci o samba e vi a chance de dar certo, aí a caiu a ficha: eu não vou ser mais jogador de futebol, agora eu tenho a música", acrescentou.

No entanto, após desistir do futebol e encontrar um caminho na música, Brazza recebeu um convite que o faria reencontrar o esporte: uma bolsa de estudos na Universidade Wingate, na Carolina do Norte, por conta do futebol. Ele revelou que não queria ir, até discutiu com seu pai na época por conta disso, não queria mais jogar bola, queria seguir seu sonho na carreira musical.

"Quando eu recebi a primeira proposta eu falei pro meu pai que eu não ia, não queria mais jogar futebol. E ele disse pra mim: 'Vai fazer o que da sua vida? Você precisa estudar'. O que fez me decidir ir foi uma frase do meu pai: 'Se você não for pode se arrepender, mas se você for e não gostar, você volta'. Acabei indo e foi uma experiência absurda", contou.

Brazza fez comunicação nos Estados Unidos. Lá, começou a perceber que tinha muitas matérias que não estava indo bem, mas em outras que se destacavam. As que ele se evidenciava eram relacionadas com o discurso e a fala — o que em sua opinião ajudou muito na carreira como rap.

"Tive aula de discurso, aula de teatro, aula dos maiores discursos da humanidade [Theodore Roosevelt, Martin Luther King, Mahatma Gandhi...], era muita coisa interessante e que agregou no meu rap, porque o rap é discurso, é comunicação", relatou.

Hoje, o rapper afirma que a sua missão de vida é usar esse privilégio de poder ter estudado em grandes escolas dentro e fora do Brasil para fazer com que seu público crie uma consciência social. Brazza diz ser grato ao futebol por tê-lo tornado o músico que é hoje.

"Eu quero contar para os meus amigos 'da bolha' [pessoas com privilégios] que existe uma luta do outro lado, precisa de cota sim. Por que você só aplaude o negro quando ele marca um gol para o seu time? No meu rap, a minha missão é trazer isso para a essa 'bolha'. Todo mundo fala que eu sou branco e quero usar o meu protagonismo na luta da pele, mas não é isso, de forma alguma. Vocês que são negros sabem muito mais do que eu. Eu só quero usar o meu privilégio, porque eu sei que eles vão escutar. E isso tudo começou quando entrei no Palmeiras por isso eu falo que o futebol é o Brasil que deu certo, porque ele une as pessoas, no nosso samba na nossa seleção no campo, estamos sendo representados de verdade no nosso Brasil", concluiu.

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