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Opinião

No Dia da Mulher, lembremos: misoginia não prescreve

POR LEONARDO BESSA*

Mal assessorado, Cuca perde chance atrás de chance de reparar um erro do passado. Que não será esquecido. O argumento da prescrição no Tribunal de Justiça Suíço não basta, visto que a questão não é de ordem legal. Cuca deveria falar.

Confirmado como treinador do Athletico Paranaense na Semana da Mulher, informação revelada em primeira mão pelo Podcast Sul, antes que o clube a tornasse oficial, o técnico logo tratou de avisar que não queria saber de entrevistas. E assim foi sua apresentação, via imprensa oficial do Athletico.

Enquanto se mantém calado, Cuca reforça o recado da impunidade. Não sabemos o que se passa na mente do treinador, se tem algo a dizer para a família da adolescente, que já morreu, e estava no quarto com ele, Eduardo, Fernando e Henrique, colegas da delegação gremista que disputou a Copa Philips em Berna, em 1987.

Ao jornal Zero Hora, ainda em 1987, Cuca declarou: "jamais pensei que uma coisa assim pudesse acontecer comigo. Não sei se foi ato infantil, um passo em falso. Se tivesse que ficar preso, eu preferia morrer. Eu pensava na minha mulher, quase nunca dormia. Tive medo de ficar traumatizado sem saber qual a reação das pessoas, dos torcedores, dos dirigentes".

Ao Jornal dos Sports, em 1989, nova entrevista, minimizando o caso e fazendo pouco da vítima: "A tal menina, a Sandra Pfaffli era do tamanho de um armário e não tinha carinha de menina, não. Ela subiu para fazer sexo com um de nós no apartamento. O nome, reservo-me o direto de omiti-lo. Estavam em pleno ato quando apareceu o pai dela e armou todo aquele escândalo".

O tempo passou e Cuca deixou de tocar no assunto. Não sabemos se, além de pensar na mulher, Rejane, ele também pensava em Sandra Pfaffli, que, sim, tinha 13 anos e estava com os atletas, maiores de idade, no quarto 204 do Hotel Metropole.

A declaração dada ao Jornal dos Sports, com a intenção de desacreditar a vítima, é uma característica comum ao comportamento misógino, que cala e mata mulheres há séculos. Enquanto esse comportamento não mudar, a única preocupação do treinador será a demonstrada na entrevista de 1987, com o que pensam dirigentes, pessoas e torcedores.

Fato é que Cuca precisa fazer uma análise profunda, sem moralismos, do que aconteceu naquela noite. Sentir genuinamente tristeza pelo que infligiu à moça. Chamar a imprensa, expor os fatos, não se omitir do contraditório. E só assim terá paz para seguir.

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Algo impensável em um clube comandando por Mario Celso Petraglia, que no universo dos dirigentes está para Maquiavel, em que uma taça justificaria todos os meios.

*Leonardo Bessa é jornalista, formado pela PUC-PR em 2006, foi repórter esportivo das rádios Banda B e CBN Curitiba, além de trabalhar em outros veículos de rádio e TV. Hoje comanda uma assessoria de imprensa.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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