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Proposta do Rio chega aos R$ 270 milhões e complica ofensiva de SP por GP

Projeto do Autódromo na região de Deodoro, no Rio de Janeiro - Divulgação
Projeto do Autódromo na região de Deodoro, no Rio de Janeiro Imagem: Divulgação

Julianne Cerasoli e Demétrio Vecchioli

Do UOL

07/12/2019 12h00

A confiança dos governantes de São Paulo de que o GP Brasil continua na capital paulista a partir de 2021 já não é a mesma. Se diversas vezes desde que se iniciou o leilão pelos direitos da corrida de Fórmula 1 o governador João Doria (PSDB) e o prefeito Bruno Covas (PSDB) demonstraram otimismo, agora os dois parecem reconhecer que, se o leilão for mesmo no modelo "quem paga mais leva", a continuidade da etapa brasileira em Interlagos é cada vez mais difícil.

Como mostrou o UOL Esporte, o governo do Estado do Rio de Janeiro aprovou uma renúncia fiscal de R$ 302 milhões apenas para as duas primeiras etapas de um possível contrato de nove anos. Isso significa que o governo fluminense aceita que todo o dinheiro da Lei de Incentivo ao Esporte do estado, R$ 151 milhões ao ano, seja utilizado para pagar o direito de ter a corrida.

O estado de São Paulo até tem uma Lei de Incentivo ao Esporte, mas voltada a projetos pequenos, principalmente de caráter social. No passado recente, Doria e Covas anunciaram que fariam contas para calcular quanto poderiam investir para manter uma corrida que, nas contas da prefeitura, movimenta R$ 334 milhões na cidade. Os R$ 151 milhões oferecidos para o Rio parecem ser acima do que o teto dos paulistas.

Tanto Covas quanto Doria, porém, fugiram do padrão de comportamento e não responderam os questionamentos enviados pela reportagem ao longo dos últimos três dias. Com o Rio cada vez mais perto de ganhar o leilão, não deve sair deles nenhuma demonstração de otimismo tão cedo.

A proposta do Rio à Liberty Media prevê o pagamento de US$ 35 milhões como taxa de realização da corrida, além da possibilidade de a Liberty Media comercializar 5 mil lugares do paddock club, área mais cara e exclusiva do autódromo, a US$ 6 mil. Como isso representaria mais US$ 30 milhões para a empresa, a Rio Motorsport diz que sua proposta é de 65 milhões de dólares, o equivalente a quase R$ 270 milhões por ano. Nas contas da prefeitura do Rio, a corrida injetaria R$ 670 milhões ao ano na cidade, o dobro do que movimenta em São Paulo.

Do lado de São Paulo, a primeira proposta à Liberty foi de US$ 8 milhões e, a segunda, de US$ 20 milhões. Ainda que a prefeitura já invista cerca de R$ 40 milhões ao ano, o mais provável é que a Interpub, que organiza a corrida em São Paulo, busque na iniciativa privada, usando o capital político de Doria, o dinheiro para apresentar uma proposta mais competitiva à Liberty, sabendo também que a pista carioca ainda precisa passar por algumas etapas para que a construção seja iniciada.

O projeto de lei que autoriza a Parceria Público Privada (PPP) entre a prefeitura do Rio e a Rio Motorsport precisa ser votado. Houve uma tentativa de fazer isso na última quarta-feira, mas a oposição apresentou requerimentos de informação e a prefeitura terá de respondê-los para destravar a votação. Paralelamente a isso, o projeto passará por audiências públicas, que podem ser marcadas já para janeiro depois que o Estudo de Impacto Ambiental recebeu o aceite do INEA, órgão responsável (Instituto Estadual do Ambiente do Rio de Janeiro), o que ocorreu na última semana.

O porquê da briga Rio x São Paulo

A disputa começou devido ao fato do acordo atual de São Paulo ser ímpar no calendário da Fórmula 1: desde 2017, a prova não paga a taxa para receber a categoria, assim como Mônaco, corrida que esteve presente em todas as temporadas, desde 1950. Além disso, São Paulo fica com o dinheiro da comercialização do Paddock Club.

Esse acordo foi estabelecido em um momento diferente da Fórmula 1, quando a categoria ainda era comandada por Bernie Ecclestone. Na época, os ganhos com os direitos de TV superavam a receita com as taxas pagas pelos promotores. Com a queda vertiginosa do dinheiro vindo das TVs, a nova dona da F-1, a Liberty Media, passou a estabelecer metas mais altas para os promotores. Assim, todos os contratos que foram renovados desde 2017 seguem a mesma linha: o pagamento de pelo menos 30 milhões de dólares de taxa por etapas que exijam deslocamento por navio e avião (ou seja, fora da Europa) e o direito da Liberty comercializar 5 mil lugares no paddock club.

Paralelamente a isso, a Liberty tenta convencer as equipes a aumentar o calendário, assim de fomentar, também a receita. Os norte-americanos trabalham com o teto de 25 corridas e enfrentam grande resistência do time. Mesmo assim, conseguiram chegar ao recorde de 22 etapas para ano que vem. Porém, se Liberty e as equipes não chegarem a um acordo, há a possibilidade de corridas que paguem menos que 30 milhões de dólares por ano saírem do calendário, uma vez que há interessados dispostos a pagar mais do que isso, como a China, que pleiteia um segundo GP a partir de 2022.

Além da questão da necessidade da Liberty, que tem visto os lucros da F-1 caírem nos últimos três anos, aumentar a receita, há o pano de fundo político: o presidente Jair Bolsonaro e o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, defendem que a prova vá para o Rio, enquanto o governador de São Paulo, João Doria, que deve disputar as eleições presidenciais, já colocou como uma de suas prioridades manter a prova em São Paulo, onde a estimativa é de que o evento, que é o maior do calendário da cidade, injete R$ 344 milhões na economia.

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