Para diminuir monotonia, Fórmula 1 tenta estimular ultrapassagens em 2018
Não deixa de ser irônico: a principal categoria do automobilismo, esporte em que o objetivo primordial é se impor na velocidade e deixar adversários para trás, sofre com a escassez de ultrapassagens. Trazer um pouco mais de vitalidade às corridas da Fórmula 1 com trocas de posições entre os pilotos é um dos principais desafios para a temporada deste ano, com início na madrugada deste domingo (25), em Melbourne, na Austrália.
A preocupação baseia-se em dados da Pirelli. Segundo a fornecedora de pneus da Fórmula 1, as 20 etapas do calendário de 2017 registraram 435 ultrapassagens, média de 21,8 trocas de posições por GP. O número foi 49,7% inferior na comparação com 2016 - 886 manobras, sendo 41,2 por corrida.
O GP da Rússia foi o reflexo dessa queda de competitividade, com uma mísera ultrapassagem, contra 29 em 2016. Aqui cabe uma explicação: o finlandês Valtteri Bottas, vencedor da prova em Sochi, era o terceiro no grid e deixou para trás as Ferraris de Kimi Raikkonen e Sebastian Vettel logo após a largada, mas para os critérios de análise da Pirelli elas não contam como trocas de posições "reais" porque os carros ainda não estão em ritmo de corrida.
Em 2017, a etapa que mais registrou manobras foi a do Azerbaijão, com 42 - coincidentemente (ou não), a prova mais empolgante vista no campeonato passado. No ano anterior, o GP da China trouxe ao público exatas 128 ultrapassagens, mais do que o triplo.
O vilão na queda de embates por posições na pista é o regulamento técnico da Fórmula 1 adotado na temporada passada. Os carros são largos, com pneus maiores, provocando mais pressão aerodinâmica (downforce) e turbulência na parte traseira. Esse pacote dificulta a vida dos pilotos na hora de pressionar o adversário e tentar manobras mais agressivas.
A situação gerou reclamações dos competidores, mas a Federação Internacional de Automobilismo (FIA), naquela ocasião, não adotou nenhuma medida alternativa.
Para 2018, a situação é outra. A FIA tomou uma decisão inédita na Fórmula 1 para o GP da Austrália, aumentando para três (o máximo sempre foi dois) o número de trechos do circuito em que estará liberado o uso da asa móvel traseira, o DRS, artifício aerodinâmico que aumenta a velocidade dos carros.
Na pista de Albert Park, que de modo geral tem poucos trechos de ultrapassagem, essas áreas ficarão concentradas na reta de chegada/largada e entre as curvas 2 e 3 e 12 e 13.
Além do aspecto esportivo, o lado comercial também influencia nesta decisão. A Liberty Media, grupo que adquiriu o controle da Fórmula 1 em 2016, tem como objetivo central promover a expansão mundial da categoria, deixando-a cada vez mais próxima do entretenimento para, desta forma, rejuvenescer o público que a acompanha.
Mas nada adiantará trazer elementos pirotécnicos para deixar o show mais atrativo se a atração principal, que ainda são as corridas, se transformar em um monótono desfile de carros em alta velocidade.
A ampliação da zona de uso de DRS será a solução imediata para a Fórmula 1 gerar mais ultrapassagens? A primeira impressão será dada a partir da largada do GP da Austrália, às 2h10 (de Brasília).
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