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Roger Federer: um ano sem a magia

A Laver Cup deste ano trouxe duas importante reflexões para o circuito. A primeira delas diz respeito à ausência de Roger Federer. Com a competição na telinha (para os bravos que viram!), veio a inevitável lembrança da aposentadoria do suíço. Foi nesse fim de semana, um ano atrás, que Roger deu seu adeus ao tênis competitivo. Uma despedida emocionante, que tatuou na memória coletiva dos fãs de esporte a imagem de Federer e Nadal chorando, lado a lado, de mãos dadas.

Mas o que mudou no circuito neste último ano, agora sem Roger Federer? O que o tênis masculino perdeu no match point daquele inesquecível jogo de duplas? Há, basicamente, duas maneiras de medir o impacto da ausência do suíço nas últimas 52 semanas. A primeira, mais fria, é também a mais simples: nada mudou. A lógica por trás desta conclusão é simples: desde que competiu lesionado e sentindo dores em Roland Garros e Wimbledon em 2021, Roger já estava afastado das quadras. Passou mais de um ano sem disputar um torneio e voltou apenas para a despedida, na Laver Cup.

Portanto, o circuito já havia passado por um, digamos, período de transição sem Federer. Em setembro do ano passado, o suíço não era mais um fator no circuito. O que um dia deixou de ser Big Four quando Murray lesionou o quadril também deixou para trás o rótulo de Big Three ainda em 2021. Quando a temporada 2022 começou, restavam apenas Djokovic e Nadal brigando por slams.

A segunda maneira de analisar o pós-Federer no tênis é menos cerebral, mas possivelmente faz mais justiça ao sentimento dos fãs da modalidade. Porque ver Federer, mais do que assistir a um grande campeão, era sentar-se à espera de um momento de genialidade. Mais do que contar vitórias, a experiência de vê-lo em quadra, da arquibancada ou do sofá, era aguardar por aquele momento mágico que surgiria, cedo ou tarde, da varinha mágica que mortais chamam de raquete.

Ter Federer na telinha era ver, rever, ouvir o espanto dos narradores e a admiração de comentaristas que buscavam palavras para qualificar o inqualificável. Ter Federer na quadra, a alguns metros de distância, era o privilégio de respirar o mesmo ar. Era voar nas asas de Ícaro para testemunhar um instante celestial e que não duraria para sempre, mas sim, era de verdade.

O que restava desde aquele Wimbledon em que Federer alcançou as quartas jogando com apenas um joelho bom até a Laver Cup do ano passado era a esperança de algo que nunca ocorreu. Enquanto Nadal fez pequenos milagres conquistando um Australian Open pós-covid, mal treinando e virando um jogão de cinco sets sobre Daniil Medvedev e, mais tarde, vencendo Roland Garros sem sentir a totalidade de um dos pés, o mundo torcia pela volta de um Roger saudável. E o pós-Laver/2022, com Nadal fisicamente destruído e Federer fora de cena, só ressaltou o quanto Djokovic ainda sobra diante do resto, mesmo com a ascensão de Carlos Alcaraz, que destronou o sérvio em Wimbledon.

Coisas que eu acho que acho:

- A segunda importante reflexão (vide primeiro parágrafo) que a Laver Cup de 2023 trouxe diz respeito ao calendário, ao local e à necessidade de estrelas. Encaixada na América do Norte em uma data pós-Copa Davis (combinação que nunca tinha acontecido no novo formato da competição, com uma fase de grupos toda jogada na Europa), a Laver deste ano teve um time europeu deformado, sem Djokovic, Alcaraz, Medvedev, Rune e Tsitsipas, entre outros. Precisou escalar gente como Davidovich Fokina, Monfils e Fils(!), o que deixou o confronto fácil para o time Mundo, composto por sete norte-americanos e o argentino Francisco Cerúndolo.

- Caso não tenha ficado tão claro: é óbvio que muita gente não topou sair do US Open, atravessar o Atlântico para voltar para casa (e a Copa Davis) e cruzar o oceano mais duas vezes (ida e volta) só para disputar a Laver Cup. Mesmo com Federer presente para ações de marketing, o evento perdeu em atratividade. Fica nítido o risco que a Laver Cup corre: tornar-se um "simples" evento a mais, daqueles que os tenistas evitarão se for muito longe de casa. É um perigo que os organizadores terão de domar nos próximos anos.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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