Influencer ensina poses em cadeira de rodas e gera polêmica por não ser PCD

Após fazer um vídeo com ideias de poses para pessoas com deficiência que utilizam cadeira de rodas, a influencer Catarina Leal, 27, dividiu opiniões nas redes. A polêmica se deu justamente porque ela não é uma pessoa com deficiência motora.

Entre os comentários, pessoas que a apoiaram e agradeceram - "achei incrível", "sou cadeirante e já quero fazer", "amei, precisamos ser lembradas. Parabéns!" -, bem como pessoas que a criticaram - "queria, mas não mexo o tronco. Como faz?", "que cadeirante consegue fazer essas poses?". A publicação já soma mais de 3 milhões de visualizações nas suas redes.

Catarina estava em um aeroporto quando teve a ideia e publicou o conteúdo na internet. Ela usava uma cadeira de rodas oferecida por um funcionário do local, já que ela tinha dificuldades de locomoção com as muletas que precisava usar por estar com o pé esquerdo imobilizado.

Para Ecoa, a influencer disse que a ideia do vídeo partiu dos próprios seguidores após ela quebrar o pé.

De fato, não sou cadeirante, não sou PCD. Mas eu me encontro com mobilidade reduzida temporária. Então por que eu não poderia fazer fotos utilizando equipamentos que de fato estou precisando e utilizando? Se meu trabalho é ensinar poses e minha grande paixão é fazer fotos, por que não ajudar quem deseja também?

Catarina Leal, 27, influencer

Especialistas divergem sobre o assunto

Geraldo Nogueira, 65, utiliza cadeira de rodas há 33 anos, é diretor da Diretoria da Pessoa com Deficiência da OAB-RJ e não vê problemas na conduta da influencer por entender que ela não teve a intenção de ridicularizar pessoas com deficiência.

"Isso é bacana porque é uma pessoa alegre, mostrando uma coisa para cima. Numa cadeira de rodas, que para quem não usa, remete a um símbolo de tristeza, prisão e dificuldade, mas para mim que sou cadeirante, me remete à liberdade", diz.

Continua após a publicidade
Ellen Helena, 27, professora de inglês.
Ellen Helena, 27, professora de inglês. Imagem: Maria Paula

O mesmo ponto de vista tem a professora de inglês e criadora da página "Inglês sobre rodas", Ellen Helena, 27, que enxerga o vídeo como algo inclusivo. "É uma inspiração para nós, já que muitas vezes temos autoestima baixa e precisamos lidar com tantas frustrações, principalmente com o nosso visual", disse a professora, que nasceu com hidrocefalia, mielomeningocele e sempre foi cadeirante.

Outra opinião tem Marina Batista, 38, criadora de conteúdo e defensora popular de pessoas com deficiência formada na Edepe (Escola da Defensoria Pública do Estado de São Paulo). Para ela, um dos motivos para o vídeo da influencer ser ofensivo é que sua dificuldade de locomoção é temporária e ela não teria condições de entender as particularidades de pessoas com deficiência.

"A maioria das poses não são possíveis para a maioria das pessoas cadeirantes", diz Marina, que utiliza cadeira de rodas desde que nasceu por conta da doença AME (Atrofia Muscular Espinhal) tipo 2, que não tem cura, mas hoje em dia tem tratamento.

Para a fotógrafa Maria Paula Vieira, 30, que tem deficiência desde os 3 anos e aos 13 foi para a cadeira de rodas devido a uma doença genética nunca diagnosticada, a ideia da influencer é uma espécie de "cripface", quando uma pessoa sem deficiência utiliza a deficiência para representar PCDs.

"Inclusão é colocar pessoas com deficiência para fazer parte de um espaço que sempre é negado a elas. [...] Se houvesse o convite de uma profissional, artista, fotógrafa, modelo, com deficiência ali junto dela, aí sim seria. O que não foi o caso", explica.

Deixe seu comentário

Só para assinantes