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Festival Atlas das Juventudes: "Falhamos quando jovem negra é assassinada"

André Luiz, co-fundador da TV DOC CAPÃO, foi convidado do Festival Atlas das Juventudes - Divulgação
André Luiz, co-fundador da TV DOC CAPÃO, foi convidado do Festival Atlas das Juventudes Imagem: Divulgação

Giacomo Vicenzo

Colaboração para Ecoa, de São Paulo

10/06/2021 09h56

O primeiro dia do Festival Atlas das Juventudes foi marcado pela apresentação da pesquisa Atlas das Juventudes, mesas de debates e show do rapper Emicida, que fechou a programação online ontem (9). Marcus Barão e Mariana Resegue, coordenadores do estudo, apresentaram dados importantes sobre a população jovem do Brasil e apontaram que existem lacunas de dados sobre esse público, o que impede a realização eficaz de políticas públicas no Brasil.

"Fizemos um mergulho nas principais bases de dados do Brasil. Quando falamos em lacunas, é porque esses dados não existem ou não estão atualizados. O último Censo que tivemos foi em 2010 e isso prejudica muito a fomentação de políticas públicas", apontou Barão.

"Temos a maior geração de jovens do Brasil, são quase 50 milhões de pessoas com idade entre 15 e 29 anos. Nunca fomos tão jovens e muito provavelmente nunca mais seremos de novo. Significa que vivenciamos um fenômeno chamado bônus demográfico, é quando uma grande parcela da população entra em uma etapa da vida que participa ativamente da economia e da sociedade em diferentes esferas", completou.
Resegue alertou que é preciso passar por uma transformação importante para que se diminuam os riscos de perder essas gerações por conta da violência. "Precisamos apoiar o desenvolvimento dessas juventudes", disse a pesquisadora.

Para André Luiz, co-fundador da TV DOC CAPÃO, que integrou a mesa 'O que pensam as juventudes?', o cenário da pandemia de covid-19 evidenciou ainda mais as desigualdades e mostrou ausência de lideranças para os jovens de todo o país. "Como jovens negros e periféricos não somos representados em nenhum lugar do Brasil", comentou.

"Olhando para a pesquisa vemos como a pandemia agravou a saúde mental da juventude. Iremos entrar em uma fase em que a juventude vai ter que pegar o que sobrou do nosso país para traçar novos caminhos", completou.

Luiz ainda destacou que essa é a primeira vez que se tem dados importantes para juventude, mas estamos falhando em não olhar para os jovens como uma potência. "Falhamos quando uma jovem negra é assassinada, quando um jovem negro não tem perspectiva de futuro. Estou falando do governo, da iniciativa privada, do terceiro setor e de nós como cidadãos. Essa corresponsabilidade é um ciclo sem fim em que todos participam", completou.

Também participaram da mesa como debatedores Ubiraci Pataxó, palestrante, educador, terapeuta, aprendiz de Pajé e graduado em matemática, Luma Nascimento, artista visual e pesquisadora de empreendimentos alternativos e feiras livres do Brasil, Leandrinha Du Art, midiativista, escritora, militante LGBT & PCD e Iago Hairon, vice-presidente da Plant For The Planet Brasil e conselheiro na Engajamundo, que mediou o debate.

O evento também contou com a apresentação do Poetry Slam da paraibana Bixarte, que recitou versos ácidos sobre resistência LGBTQIA+ e evocou protestos contra o atual governo Bolsonaro.

A programação do Festival continua hoje com mais debates, slam com Meimei Bastos, poeta e escritora de Ceilândia (DF), e show de Nayra Lays.