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Peixe, ar e água: como se proteger do óleo encontrado no mar do Nordeste

Voluntário com óleo nas mãos; ele usa o EPI (equipamento de proteção individual)  - Arquivo pessoal
Voluntário com óleo nas mãos; ele usa o EPI (equipamento de proteção individual) Imagem: Arquivo pessoal

Bárbara Forte

De Ecoa

24/10/2019 14h39

O desastre ambiental que alcançou nove estados do Nordeste (AL, BA, CE, MA, PB, PE, PI, RN e SE) mobilizou centenas de pessoas, nos últimos dias, na limpeza de praias aonde a mancha de óleo chegou. Por meio de mutirões, voluntários têm removido com as próprias mãos os resíduos que afetaram a costa brasileira. Mas o contato com a mancha de óleo, o banho de mar nas regiões afetadas e o consumo de peixes, crustáceos e moluscos trazem riscos à população.

"A precaução é o melhor remédio neste momento", afirma Cláudio Sampaio, professor de biodiversidade e conservação da pós-graduação da UFAL (Universidade Federal de Alagoas). Segundo ele, há uma série de ações que a população deve tomar para evitar problemas de saúde - imediatos e futuros.

Contato e descarte de óleo

"O contato com o óleo é o maior risco imediato à população. É preciso usar o EPI (equipamento de proteção individual), composto de máscara, bota impermeável e luvas resistentes. Além de protetor solar e roupa apropriada", diz.

De acordo com Francisco Kelmo, diretor do Instituto de Biologia da UFBA (Universidade Federal da Bahia), respirar próximo dos resíduos também pode fazer mal à saúde: "Há uma grande preocupação com a inalação dos compostos tóxicos".

"O mesmo vale para o banho de mar em áreas contaminadas", completa o especialista. Segundo ele, onde há óleo, há riscos, e a população deve ficar atenta: "Comunidades locais e turistas devem evitar as localidades apontadas pelo Ibama como atingidas pelo óleo".

Um texto divulgado nesta semana pelo Ministério da Saúde alerta para os sintomas. "A curto prazo, a inalação de vapores advindos do óleo cru pode causar dificuldades de respiração, pneumonite química, dor de cabeça, confusão mental e náusea. Em caso de contato dérmico, podem aparecer irritações na pele, rash cutâneo [manchas na pele com possíveis bolhas ou escamações], queimação e inchaço, podendo haver danos sistêmicos. A ingestão pode causar dores abdominais, vômito e diarreia", diz o comunicado.

Em caso de qualquer um desses sintomas, é importante procurar orientação médica.

Descarte de resíduos

Os riscos apontados pelos especialistas devem ser levados em consideração, também, após o descarte do material coletado em praias - tanto pelas prefeituras, quanto pelo Exército e voluntários.

"Há uma preocupação grande de que esses sacos com óleo sejam enviados para ambiente fechado e de controle das autoridades. Ali o material deve ser reciclado, reutilizado de alguma maneira pelas universidades, por exemplo, ou inativados por meio de reações químicas", explica Francisco Kelmo.

Consumo de peixes

Outro pedido dos especialistas tem relação direta com a saúde não apenas de voluntários, mas de toda a população: o consumo de peixes, crustáceos e moluscos.

"Aqui na UFBA temos analisado a contaminação dos peixes e mariscos de regiões aonde o óleo chegou. Caso um animal tenha tido contato com o óleo, com algas marinhas que estão sujas e com a água que pode ter diluído parte desse resíduo, ele poderá passar ao humano uma série de elementos que fazem mal à saúde", comenta Kelmo.

"O ideal é que as pessoas evitem o consumo e busquem uma forma alternativa de alimentação, pois só é possível atestar a qualidade do pescado com testes toxicológicos. Entretanto, sabemos que há comunidades que não têm condições de seguir a recomendação. Para elas, há uma lista de cuidados a se tomar", afirma Cláudio Sampaio (veja abaixo).

Recomendações ao consumidor

Uma nota informativa divulgada pela Gvisa-AL (Gerência de Vigilância Sanitária Estadual de Alagoas), da Suvisa (Superintendência de Vigilância em Saúde), orienta sobre os cuidados que a população precisa ter ao adquirir pescados:

  • Não consumir peixes e demais frutos do mar que apresentem manchas, furos ou cortes na superfície;
  • Não consumir crustáceos temporariamente, porque eles filtram a água do mar e irão acumular mais resíduos de óleo;
  • Evitar pescados com odores fortes, sabor e cor não característicos da espécie.

Para identificar que os peixes estão em boas condições, observar se:

  • As escamas estão bem firmes, resistentes, translúcidas (parcialmente transparentes) e brilhantes;
  • A pele está úmida, firme e bem aderida;
  • Os olhos ocupam toda a cavidade, são brilhantes e salientes, sem a presença de pontos brancos ao centro do olho;
  • A membrana que reveste a gueira é rígida e resistente à sua abertura, com a face interna brilhante e os vasos sanguíneos cheios e fixos;
  • As brânquias estão com a coloração de rosa a vermelho intenso, úmidas e brilhantes, sem presença de muco (líquido pastoso);
  • Se o abdome está aderido aos ossos fortemente e com elasticidade marcante.

Importante:

  • Em hipótese alguma aproveite pescados que estiverem mortos ou boiando;
  • Evite realizar pesca nas praias afetadas pelo óleo até posterior recomendação dos órgãos competentes.