Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Sem medo do golpismo e mobilizadas frente a novas ameaças
Na terça de 7 de setembro, data que tradicionalmente eu, minha irmã e nossos pais, junto a lideranças da Igreja Católica e de favelas nos reunimos para participar do Grito dos Excluídos, precisei ficar em casa. Meu sentimento naquele dia foi de preocupação. Preocupação por não saber ao certo o que poderia acontecer caso eu saísse de casa e fosse para as ruas, preocupação com minha sobrinha, filha da Marielle que estava nas ruas e preocupação por todas as amigas e amigos que foram disputar com uma extrema-direita o espaço que sempre ocupamos.
Mesmo não podendo ir às ruas, acompanhei e apoiei de casa e com preocupação, e hoje quero usar meu espaço nesta coluna para refletir os acontecimentos da última semana. O que aconteceu no feriado, com Bolsonaro fazendo três discursos em tom absolutamente antidemocrático, ameaçando o Supremo Tribunal Federal ao dizer de forma clara em plena avenida Paulista que "qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes, esse presidente não mais cumprirá" é um absurdo. Essa fala o enquadra, mais uma vez, em crime de responsabilidade, segundo nossa Constituição, e dá mais um motivo (entre tantos) para que seja aberto um pedido de impeachment contra o mesmo.
Mesmo assim, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, parece não se importar e está disposto a tudo para manter seu apoio ao governo Bolsonaro. Nada disso me surpreende, já que como falei em algumas colunas, o presidente da Câmara dos Deputados e toda a base de partidos políticos que vão do centro à direita, são igualmente responsáveis e coniventes com os atos que vimos na terça, dia 7 de setembro.
Logo após o episódio, a partir da reação da sociedade brasileira e dos chefes do poder judiciário, o presidente voltou atrás em seu pronunciamento e tentou diminuir o que havia dito, contando ainda com a ajuda do ex-presidente golpista Michel Temer (PMDB). A partir daí vimos acontecer o já conhecido jogo de morde e assopra do presidente.
De qualquer forma, nenhum pedido de desculpas em formato de carta poderá desfazer a ameaça que o mesmo tem representado para a democracia brasileira desde que foi eleito, e o peso que suas ações tem na vida de milhares de pessoas que lutam diariamente pelo que deveria ser essencial: saúde, trabalho, educação e valorização da vida.
Hoje, mais uma vez, nós, defensores de direitos humanos, ativistas e representantes do movimento negro brasileiro temos o dever não apenas de consolidar e apresentar o projeto político de país que queremos daqui para frente, mas também de garantir um ambiente para que ocorram as eleições onde nossas candidatas e candidatos poderão concorrer com condições justas.
É necessário seguirmos em um movimento que defenda a democracia brasileira e garantam as condições necessárias para sua efetivação, sem perder de vista a agenda política que defendemos, onde a proteção da vida, a participação popular e a equidade de gênero e raça estejam disponíveis para todos. É necessário alcançarmos esses objetivos sem perdermos de vista o que defendemos em prol de um suposto objetivo maior e sem aceitar alinhamentos com frentes que não compreendam e nem se comprometam com a vida das pessoas negras para o fortalecimento da democracia brasileira.
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