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Prejuízo bilionário: como tragédia no RS tem afetado vendas de carros novos

Carros arrastados pela correnteza na BR-116, em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, durante enchente de maio de 2024 Imagem: NELSON ALMEIDA/AFP

Julio Cabral

Colaboração para o UOL

27/05/2024 04h00

A tragédia humana no Rio Grande do Sul envolve perdas de vidas humanas e animais, além de danos patrimoniais gigantescos.

Não tem sido diferente com a cadeia automotiva. Alguns fabricantes sofreram impactos na distribuição de veículos, mas a situação mais grave é das concessionárias do estado.

Segundo Jefferson Fürstenau, presidente do Sincodiv (Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos) e da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores) no RS, uma grande proporção das lojas foi afetada pela enchente.

"Somos 720 concessionárias. Dessas, pelo menos 300 foram atingidas com danos estruturais. Eu tenho uma que está debaixo da água, só é possível acessar via caminhão ou barco", conta Jefferson.

De acordo com o presidente, o valor estimado para recuperá-las é acima R$ 1 bilhão, cifra que diz respeito somente às instalações, sem contabilizar os veículos perdidos.

Não há condições de iniciar qualquer recuperação agora, afirma o empresário.

"Neste momento, ainda temos muito medo, não há tempo de fazer investimentos. As águas haviam baixado, mas voltou a chover intensamente, principalmente em Porto Alegre. Começou o alagamento em áreas que ainda não tinham sido atingidas. É uma catástrofe que nunca passou pela cabeça, tenho 55 anos e nunca vi nada parecido, não tenho como descrever", lamenta o presidente.

Para termos uma ideia da situação de vendas de veículos, até o Detran-RS está sem operar, ou seja, o mercado caiu violentamente.

"Além do mês represado de vendas, temos 30% de colaboradores que não podem vir trabalhar, seja porque não têm residência ou porque suas casas estão isoladas", conta.

No cálculo do executivo, foram mais mil carros 0 km atingidos.

Se levarmos em consideração os usados e seminovos, estamos falando de mais de 200 mil unidades, número projetado pela consultoria Bright Consulting. Segundo a empresa de leilões Copart, desse total, apenas cerca de 30% segurados.

Queda brusca nas vendas

Concessionária Fiat tomada pela água com veículos novos no seu interior no Rio Grande do Sul Imagem: Reprodução

De acordo com Jefferson, o Rio Grande do Sul vende, em média, cerca de 15 mil veículos por mês - entre automóveis, motos e caminhões. Até o dia 6 de maio, haviam sido vendidos e licenciados somente 749 exemplares.

Uma licença provisória permitiu a reabertura de vendas, no entanto, até quarta-feira passada (22), tinham sido comercializados 1.300 veículos - neste momento, só é possível vender à vista, não há financiamento.

Lojas se mobilizam, mas tem fabricante que não colabora

Mesmo com todas as dificuldades geradas pela tragédia, instalações de concessionárias têm sido usadas para ajudar as vítimas das cheias.

"Nós transformamos as concessionárias como pontos de arrecadação de alimentos, roupas e outras necessidades. Usamos os nossos veículos para distribuir tudo. Também estamos fazendo manutenção dos veículos oficiais de forma gratuita. Não podemos perder a mobilidade, que está complicada. São pontes e vias interrompidas, mas você tem que ter ambulância, carro de polícia", conta.

E quanto à relação com os fabricantes? "A grande maioria dos fabricantes está ajudando, mas cada um age de uma forma. Alguns estão prorrogando o vencimento dos títulos, estão mandando carros que seriam pagos à vista com títulos para a frente. A maioria das montadoras está sensível nesse momento", diz o executivo.

Produção de veículos também foi prejudicada

A Volkswagen chegou a fechar suas fábricas por causa de problemas com fornecedores cujas fábricas ficam no estado gaúcho.

"Em função das fortes chuvas que acometem o estado do Rio Grande do Sul e o povo gaúcho, alguns fornecedores de peças da Volkswagen do Brasil, com fábricas instaladas no estado, estão impossibilitados de produzir nesse momento. Por esse motivo, a Volkswagen do Brasil iniciou no dia 20/5 férias coletivas nas fábricas Anchieta, Taubaté e São Carlos [em São Paulo]. Anchieta e Taubaté terão dez dias de férias coletivas. A fábrica de motores de São Carlos terá férias de 11 dias para parte do time de produção. A fábrica de São José dos Pinhais, neste momento, seguirá produzindo normalmente", informa a montadora, por meio de nota.

De acordo com um vendedor de uma concessionária da marca em São Paulo, "a maior preocupação da loja é com modelos que costumam ter muita saída, como o Polo. Mas ainda tem estoque. O problema é a situação continuar assim por mais tempo". A fonte não quis se identificar.

Outra atingida foi a Toyota, que contornou o problema de distribuição de utilitários feitos em Zárate, Argentina. O Centro de Distribuição local da marca é localizado em Guaíba (RS) e chegou a ficar isolado pela enchente. A mudança foi mandar os carros da Argentina para o resto do Brasil via porto de Vitória (ES).

Com fábrica em Gravataí (RS), a General Motors contornou as dificuldades e opera com sua rede de distribuição.

"A saída dos veículos produzidos na fábrica da General Motors em Gravataí (RS) está acontecendo normalmente para todas as regiões", afirma nota da fabricante.

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