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"Ofereci máscara a cliente": como taxistas do aeroporto lidam com pandemia

Paulo Amaral

Colaboração para o UOL

25/03/2020 04h00

A pandemia de coronavírus que assombra o mundo impactou em cheio o dia a dia dos taxistas que trabalham no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. Da queda de 86% no volume de corridas ao medo de transportar viajantes vindos do exterior, profissionais da cooperativa Guarucoop contaram ao UOL Carros como estão convivendo com essa nova realidade.

A reportagem conversou com três motoristas da frota de 786 táxis cooperados, os famosos "azul e branco". Sob condição de anonimato, já que a empresa proíbe os cooperados de dar entrevista, os profissionais relataram a preocupação com o covid-19 e as medidas de segurança que têm sido adotadas.

"Nunca limpei tanto o carro como tenho feito agora", comentou um deles, admitindo, na sequência, que mesmo com as orientações da empresa, às vezes acontecem algumas situações temerárias.

"Peguei um passageiro que veio de Madri e ofereci uma máscara a ele. Ele me disse que não tinha qualquer sintoma, mas insisti e ele acabou aceitando. Também ando com vidrinhos de álcool gel sempre a mão, pois segurança nunca é demais".

O segundo motorista a falar com a reportagem disse que a principal mudança, além da preocupação extra com a limpeza, foi na forma de interagir com os passageiros.

"Sempre fui muito comunicativo e brincalhão, principalmente com os gringos ou com os brasileiros que voltavam de viagem do exterior e reclamavam que estavam com saudade do feijão. Agora tive que mudar", lamentou.

"A orientação é para que falemos o mínimo possível, apenas o estritamente necessário. Sinto falta de dar umas risadas, mas com o vírus pegando todo mundo por aí não dá nem para pensar em brincadeira, né?", questionou.

A história mais curiosa foi a que envolveu o último motorista contatado pelo UOL Carros. Ele admitiu que faltou pouco para ignorar as determinações da Guarucoop e se negar a atender um chamado na saída do aeroporto.

"Era uma família de quatro pessoas. Logo me veio na cabeça uma das primeiras ordens para evitar pegar a doença: manter uma distância segura. Como vou manter distância segura com cinco pessoas dentro do carro?", questionou ele, dono de uma Spin branca - a favorita entre os colaboradores da Guarucoop.

"Acabei aceitando a corrida, pois o preço era bom e, com a queda do movimento, qualquer coisa que pingue ajuda a pagar as contas. Os boletos não param por medo do vírus, né?", finalizou.

Corridas despencam com a pandemia

Em contato por telefone e por e-mail com a reportagem do UOL Carros, Julio Staliano, diretor assistente da Guarucoop, falou sobre o prejuízo que a empresa tem tido com a queda brusca no número de corridas.

"É impossível evitar perdas econômicas, tanto para a cooperativa como para os cooperados. Até o momento, o movimento caiu cerca de 85% com a diminuição na chegada de voos do exterior e o consequente menor fluxo de passageiros", comentou Staliano.

A direção da Guarucoop adotou algumas medidas para tentar reduzir o prejuízo dos taxistas, como um rodízio entre os cooperados no ponto. Apesar do decreto de quarentena do Governo do Estado estar em vigor a partir desta terça-feira (24), a empresa não crê que em algum momento haja a determinação do fechamento por completo do aeroporto.

"Não acreditamos que esta medida extrema chegue a ser adotada, mas estamos preparados para superar este obstáculo, torcendo para que o Brasil supere esta crise no mais breve tempo possível", afirmou.

Medidas de proteção para motoristas e passageiros

Para minimizar o risco de contágio do coronavírus, a Guarucoop orientou os motoristas a seguirem a cartilha de cuidados do Ministério da Saúde, em especial a higienização dos veículos a cada viagem.

Apesar dos cuidados, a empresa afirmou que não há qualquer recomendação para evitar transportar passageiros vindos de países onde a pandemia teve um maior número de infectados, como Itália, Estados Unidos ou China.

"Não existe recusa de passageiros. A Guarucoop não faz distinção de origem e está pronta para atender a todos indistintamente, já que adota os protocolos de proteção".

Recentemente a empresa chegou a ser envolvida em um boato de que dois de seus taxistas haviam morrido por conta do coronavírus. Em comunicado, a Guarucoop afirma que uma das pessoas envolvidas "não era mais cooperado há sete anos", e a outra vítima, que prestava serviços como preposto, faleceu após ser internada em decorrência de um infarto.