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Preço de insumos interferem no custo da produção e podem elevar preço do carro

Da Auto Press

14/05/2010 14h36

O carro é em sua maior parte aço, componente presente em grande parte da na carroceria do automóvel. E o aço geralmente é apontado como grande vilão dos custos de produção no setor automotivo o que, volta e meia, leva a um aumento no preço dos veículos. Os chamados aços especiais, mais resistentes, usados na própria carroceria e chamados de High Strength Steel, hoje já podem representar 11% dos materiais usados em um veículo, enquanto nos anos 70 eles não chegavam a 3%. Mas outros componentes ganham cada vez mais importância e também causam impacto nos custos na cadeia produtiva. Um deles é o plástico, influenciado pelas cotações do barril do petróleo. Há ainda alumínio, dispositivos eletrônicos, borracha e outros itens que podem, em maior ou menor grau, influenciar as despesas na linha de montagem.

  • Ilustração: Afonso Carlos/Carta Z

    Ilustração: Afonso Carlos/Carta Z

Mas apesar de uma distribuição mais democrática de outros materiais e insumos em um automóvel, o aço ainda é a principal fonte de dor de cabeça para as montadoras. Para este ano, há uma expectativa de um aumento total da commoditie de até 97%. Por conta disso, há um receio de um possível aumento dos preços finais dos automóveis no mercado brasileiro. “Sem dúvida, há uma pressão de custos em cima da cadeia com os preços internacionais subindo no mesmo momento em que termina o desconto do IPI”, acredita o economista Julio Gomes, do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial). 

PESO DOS INSUMOS NO PREÇO DO CARRO
(percentuais médios)

Aço 50% do custo
Ferro fundido 10% do custo
Plásticos 10% do custo
Borrachas 6% do custo
Ligas 5% do custo
Vidros 5% do custo
Tintas e películas 5% do custo
Lubrificantes, espumas e têxteis 5% do custo
Mão-de-obra 4% do custo

Mesmo assim, especialistas do setor não acreditam em um repasse imediato e muito impactante nos preços dos automóveis. Isso porque o mercado está aquecido e, sobretudo, competitivo. Ou seja, ninguém quer perder mercado em um setor tão sensível ao preço como no Brasil. “O aço vai impactar o custo e isso vai ser repassado, mas vai variar de acordo com a estratégia de cada montadora”, acredita Dario Gaspar, da consultoria AT Kearney. “Todas as comodities influem nos custos. Os carros possuem cada vez mais equipamentos eletrônicos, de automação, plásticos. Isso dilui a participação relativa de um ou outro insumo especificamente sobre o custo”, complementa.

O plástico mudou um pouco este eixo de custos dentro de um carro. Na década de 70, o aço era empregado em 70% de um automóvel, em média, enquanto hoje representa 52%. A participação de outras matérias-primas cresceu, principalmente a do plástico. Hoje, já constitui mais de 10% do total, enquanto nos anos 70 ficava em 5%. E isso gera economia indireta. “Os plásticos ganharam espaço nos para-choques, painéis, revestimentos de portas. Alivia o peso, o que permite motores menores com a mesma eficiência”, diz Paulo Roberto Coelho Filho, supervisor de engenharia de materiais da Fiat. Só que trata-se de um produto derivado do petróleo. “Se o barril aumenta, pode ocasionar um aumento substancial, mas não um repasse direto. Se o barril passa de US$ 80 para US$ 160 não significa que o plástico vai aumentar o dobro do preço”, pondera Francisco Satkunas, conselheiro da SAE Brasil.

O alumínio hoje também influencia a calculadora dos fabricantes de veículos. Está presente em blocos e cabeçotes de motores e em componentes da suspensão. Isso sem falar em algumas marcas premium que já usam o metal, extremamente maleável, em diversos pontos da carroceria. Em um automóvel “normal”, o alumínio já representa 8%, em média, enquanto há 40 anos não chegava a ser aplicado em 3% de um carro. E apesar de o material representar uma redução de peso significativa na comparação com o aço, seu custo é de 20% a 30% maior. “A substituição do aço pelo alumínio é sempre incentivada, mas não é uma prática a curto prazo”, explica Gomes, do Iedi.

Outros itens têm peso menor no custo, como borrachas, vidros e tecidos. As partes eletrônicas, contudo, representam uma parcela significativa de despesas. E, cada vez mais, os veículos têm a tal tecnologia embarcada. São equipamentos que envolvem royalties e normas de propriedade industrial, além de estarem sujeitos às variações do câmbio. “Muitos componentes são importados, pois não são produzidos localmente, o que implica em custos maiores também”, ressalta Paulo Roberto Garbossa, consultor da ADK Automotive. “O que custa caro é tecnologia, a propriedade intelectual. Se, por um lado, na parte mecânica não há segredo, a parte eletrônica é mais complexa”, faz coro Satkunas, da SAE.

Alternativas para o setor diminuir os custos são muitas. Há aplicações cada vez mais comuns da nanotecnologia, a construção de estruturas e novos materiais a partir de moléculas, que prometem ser menos dispendiosas no futuro. Ainda há a hidroformagem, a moldagem de peças através da pressão da água, dispensando soldagens e já aplicada na confecção de muitos elementos das suspensões. Até que essas tecnologias tenham uma aplicação em larga escala e viável, a indústria tenta diluir seus custos como pode. Um consolo é que as vendas, pelo menos aqui no Brasil, vão bem. “É um setor que pode absorver hoje mais do que ontem esses aumentos. E quem vende mais tem mais condição de absorver aumento de custos”, garante Gomes, do Iedi. (por Fernando Miragaya)