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Inspiração pra fazer da atividade física um hábito


No atletismo, Vitória Rosa busca sempre mais: 'Eu gosto do impossível'

Vitória Rosa bateu dois recordes sul-americanos em 2022: nos 60m e nos 200m Imagem: Wagner Carmo

De VivaBem, em São Paulo

10/05/2024 04h00

Da quadra de handebol para a pista de atletismo e para dois recordes sul-americanos em 2022. Aos 28 anos, metade da vida de Vitória Rosa já foi dedicada ao esporte que exige agilidade e muito condicionamento cardiorrespiratório.

Às vésperas dos Jogos Olímpicos de Paris 2024, a velocista mantém uma rotina de treinos e alimentação bem planejados. O alvo é atingir o índice classificatório, mas não exatamente porque precisa dele para ingressar no evento internacional.

Eu sei que dentro das olimpíadas eu já estou, pela tabela de pontos, mas gosto do impossível, do improvável. Vitória Rosa, em entrevista a VivaBem

Para alcançar o resultado que deseja, ela corre por centésimos de segundo, que fazem total diferença nas competições. Na faixa etária de Vitória, o índice para os 100 metros rasos é de 11s7. Sua última marca foi 11s10, em meados de abril, a terceira melhor da carreira. Já nos 200 m, o índice é 22s57; por ora, chegou a 22s89.

Vitória entendeu, ao longo do tempo, que ter um bom desempenho abria portas para o mundo: já viajou para países como Ucrânia, EUA, China e Inglaterra, além de participar de grandes campeonatos.

"Indo pelo índice, a gente vai brigar de igual para igual. Por ponto, eu não estou correndo no nível das meninas lá de fora."

Rotina de treinos

Rotina 'bem tranquila': treinos, fortalecimento e fisioterapia fazem parte do dia a dia da atleta Imagem: Puma

Treinos na pista, sessões de fisioterapia, massagem e fortalecimento compõem a preparação de Vitória rumo ao índice. Uma programação intensa de segunda a sexta, das 9h às 19h. É uma rotina "bem tranquila" —palavras dela.

"Só quarta que é mais tranquilo, porque só tem a parte dos fortalecimentos. Para mim é o melhor dia", diz entre risos.

O contato com o nutricionista é constante para os ajustes necessários na alimentação. Ele auxilia tanto na parte de alimentação quanto de suplementos necessários para ter equilíbrio.

Se num treino ou numa competição ela sente que faltou energia ou não conseguiu se recuperar entre uma disparada e outra, a atleta avisa e o profissional indica o melhor alimento antes do esforço físico.

'Estava menstruada, foi o melhor dia'

Atletas ou praticantes de exercício amadores sentem que cada fase do ciclo menstrual influencia na performance física. Os níveis hormonais ditam como será.

Vitória teve os momentos de dor e sofrimento, em que o "corpo não correspondia" ao que desejava fazer. "Já fiquei destruída por dentro, indo treinar três dias passando mal, com cólica, aquela sensação de inchaço."

Mas também viveu os momentos de glória favorecidos pelo sangue que fervia e dava forças.

Em 2018, quando corri 11s03 (nos 100 m), eu estava menstruada e foi o melhor dia, porque superei as minhas expectativas como mulher

A recente marca de 11s10, por exemplo, também foi atingida nesse período. "Não acontece constantemente, mas me surpreendeu."

Combo do atleta

Vitória sabe que tudo só depende dela quando entra na pista para uma competição, mas não deixa de atribuir o desempenho a quem está nos bastidores.

Preparador físico, treinador, nutricionista, fisioterapeuta e psicólogo, pelo menos, compõem a equipe. É o que ela descreve como um combo na vida do atleta.

Quando as pessoas nos assistem na TV e veem a imagem da Vitória Rosa, muita gente não imagina que tem uma equipe gigantesca se desempenhando de alguma forma para dar tudo certo e eu ter o meu melhor desenvolvimento. Vitória Rosa

Ela afirma que os profissionais também ajudaram a lapidar a atleta que é hoje, sem exigir mais do que era preciso. Cada avanço de categoria era respeitado, de menor de idade para juvenil, depois sub-23 para, então, competir na de adultos.

Vitória tornou-se atleta e embaixadora da marca esportiva Puma Imagem: Puma

Para completar esse combo, a velocista tornou-se atleta e embaixadora da marca esportiva Puma em 2022, ano em que bateu os recordes sul-americanos nos 60 metros e 200 metros.

"Hoje eu tenho toda essa tecnologia que eles oferecem, a tecnologia que o ex-atleta (Usain) Bolt usava", diz em tom ainda surpreso.

É que Vitória, apesar de muito ciente de sua competência, nunca tinha se colocado nesse lugar. Mas a menina que saiu da zona oeste do Rio de Janeiro é uma das mais rápidas do mundo, ostenta recordes com orgulho e encabeça um movimento de incentivo ao esporte.

Virada de chave

Um ano após começar no atletismo, Vitória ingressou em um projeto social no Rio que deu a ela um vislumbre daquele mundo. "Comecei a receber um pouco mais de suporte e estrutura."

Ao se deparar com equipamentos mais adequados e acesso a nutricionista, viu que a coisa era séria e foi amadurecendo. Tinha 15 anos na época.

Mas ainda muito jovem, sem a responsabilidade e representatividade de hoje, a ficha ainda não tinha caído. Parecia estar sonhando. O sentimento durou até 2015, quando passou a estar mais constantemente com a seleção brasileira. Foi ali que a chave virou.

Naquele ano, participou do seu primeiro Pan; não subiu ao pódio, mas compreendeu, enfim, que era uma atleta de alto rendimento. Nada disso lhe subiu à cabeça, porém, como dizem.

Eu nunca fui de muita bajulação. Gosto que as pessoas conheçam meu lado Vitória, meu lado humano, para só depois conhecer a atleta Vitória Rosa.

E qual é esse lado? "Meu jeitinho de ser. É trazer essa transparência, essa garra, o jeito de falar, minhas origens. Eu não quero perder esse contato com a minha raiz."

Por isso, quando não está viajando para competições nem tem de pensar em treinos, aproveita os poucos dias livres para fazer um bate-volta no Rio (ela mora em São Paulo) para estar com a família. Junto com os pais e as irmãs, ela é apenas Vitória Cristina, uma cidadã comum, e não a atleta Vitória Rosa.

Quando volta às pistas, busca manter o mesmo espírito e se deslumbra quando visita um novo país ou atinge marcas de tempo. O sentimento é como se fosse a primeira vez, que deixa sempre um gostinho de quero mais.

"Quando vieram esses dois recordes no mesmo ano, pensei: 'caraca, eu realmente sou diferente em alguma coisa' (risos) e isso é muito bom de acontecer na vida de qualquer atleta, porque aumenta o nosso querer de bater de novo", diz.

Pressão por resultado e saúde mental

Focada nas metas, Vitória diz blindar aquilo que almeja para também permitir que coisas boas aconteçam. Então, evita distrações, como as redes sociais, das quais se afastou um pouco desde o ano passado.

Com títulos grandiosos, como "a brasileira mais rápida" e "filha do vento", a expectativa externa exerce uma pressão, mas ela não se deixa abalar.

A minha cobrança é maior do que tudo e de todos. Essa eu aceito para mim. Mas a cobrança das pessoas é muito mais sobre elas do que eu.

Por vezes, a própria cobrança compete com o bem-estar. No ano passado, ela sofreu uma lesão na coxa esquerda que a tirou dos Jogos Pan-Americanos em Santiago. O comunicado nas redes sociais doeu.

"Eu fui para a casa do meu amigo para chorar lá, porque não queria que minha família me visse chorando. Foi um momento que eu não esperava", recorda.

Em 2021, três meses antes das Olimpíadas de Tóquio, ela sofreu uma fratura por estresse no pé. Esses dois momentos abalaram seu psicológico e geraram questionamentos.

Várias vezes me deu na cabeça de desistir, mas toda vez que eu pensava em desistir, as lágrimas vinham, porque não era só sobre performance, era também sobre o que meu coração estava sentindo.

Para ela, é difícil lidar com imprevistos que, temporariamente, a deixam longe daquilo que é a realização de uma vida.

"Por várias vezes eu me negava a fazer um exame para saber o que estava realmente acontecendo, porque eu não queria me desfazer daquilo. Inclusive, ganhei um sul-americano com duas inflamações no pé", conta.

Cabelos, unhas, maquiagem: vaidosa, Vitória preza por penteados diferentes a cada aparição Imagem: Wagner Carmo

Com a determinação que tem, a velocista entende que esses percalços fazem parte de um grande aprendizado, momentos necessários que fortaleceram a pessoa e atleta que é.

Nessas horas, o mental importa muito também, por isso adotou a psicoterapia, com psicólogo da Confederação Brasileira de Atletismo, desde 2022.

Como muitas pessoas, Vitória também achava que terapia era "coisa de doido", então precisou quebrar um preconceito para conseguir falar dos sentimentos nos altos e baixos da vida.

"Aceitei isso para mim, vi que precisava disso. Tinha que aceitar que, de tudo, eu não vou conseguir dar conta sozinha."

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