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Vitória Rosa: 'Achava saúde mental besteira até saber que não sou blindada'

Vitória Rosa representa o Brasil no Mundial de Atletismo que vai até 24 de julho Imagem: Bóka Films/Divulgação

Colaboração para VivaBem

19/07/2022 04h00Atualizada em 19/07/2022 09h31

"Sabe quando sua cabeça está mandando o corpo ir, mas ele não responde? É assim que me sinto quando a saúde mental não está boa. A conta simplesmente não fecha", diz Vitória Rosa, a velocista carioca de 26 anos que é hoje considerada a mulher mais rápida do Brasil e compete em provas de 100 e 200 metros rasos.

Antes de passar por um período recente em que não se sentiu bem emocionalmente e sentir os reflexos nos treinos, a atleta confessa que sentia um certo preconceito quando ouvia outros esportistas falando sobre a tal "saúde mental".

"Pensava que a pessoa só podia estar 'doida', que nada daquilo poderia acontecer comigo, já que eu tinha a cabeça forte. Mas aí gente passa por alguma situação e descobre que a nossa cabeça não é tão forte assim, que a mente não estava totalmente blindada e sempre pode ter uma brecha para que alguma coisa escape. Acabei entendendo quem estava no mesmo lugar antes, e descobri que não sou uma máquina, o atleta também é, no fim das contas, humano."

Para Vitória, o fato de o atletismo ser um esporte bastante individual pode acabar colocando ainda mais pressão mental para os competidores —afinal, apesar de contar com uma equipe multidisciplinar nos treinos e preparo físico e mental, os resultados finais dependem da performance do atleta.

Um estudo publicado no periódico Frontiers in Psychology reforça essa visão: resultados da pesquisa apontam que a prevalência de depressão costuma ser maior em atletas que praticam esportes individuais (como competições de atletismo) do que para aqueles que fazem parte de uma equipe (como no futebol).

Imagem: Bóka Films/Divulgação

Vitória compete, com a saúde mental "muito mais em dia", segundo ela, representando o Brasil no Mundial de Atletismo que acontece entre 15 e 24 de julho na cidade de Eugene, em Oregon, nos Estados Unidos, tentando alcançar bons resultados nas duas provas em que geralmente disputa (100 e 200 metros).

Quando passou por um período de dificuldade, sua solução foi conversar com o treinador sobre como estava se sentindo. Hoje, ela faz acompanhamento com um psicólogo, o que julga ser essencial para conseguir estar bem, não só na esfera profissional, mas na sua vida como um todo.

"Quando você tem algumas 'linhas tortas', um psicólogo ajuda a deixá-las retas. Apesar da proximidade que tenho com a minha mãe, com meu noivo, é diferente, não consigo abrir tanto o que estou sentindo fora do consultório", diz.

Na opinião da atleta, a desistência da premiada ginasta Simone Biles em uma prova na Olimpíada de Tóquio, que ocorreu por questões de saúde mental da jovem norte-americana, abriu espaço para que a saúde mental de esportistas profissionais fosse discutida.

"Hoje temos consciência do quanto aquele momento foi importante. A gente não é 100% todo dia, não somos máquinas. O corpo responde à mente, um depende do outro, precisam estar alinhados em harmonia."

Vitória Rosa garantiu índice para o Mundial de Atletismo ao vencer, em maio, o Grande Prêmio Internacional Brasil de Atletismo nos 100m e 200m rasos Imagem: Bóka Films/Divulgação

Buscando o título mundial

Nos Jogos de Tóquio, Vitória Rosa ficou em sexto lugar na prova classificatória dos 200 metros rasos com o tempo de 23,59 segundos e não conseguiu chegar às semifinais. Na ocasião, ela desabafou sobre a dificuldade de ter passado o ciclo olímpico sem patrocínio e durante a pandemia da covid-19. Mas ela se fortaleceu desde então, anotando resultados mais expressivos.

No último 'GP' que competiu, o Grande Prêmio Internacional Brasil de Atletismo, que aconteceu no começo de maio, Vitória venceu os 100 m (com o tempo de 11,05s) e os 200 m (com 22,68s), garantindo o índice para o Mundial.

Imagem: Bóka Films/Divulgação

"O resultado me deu confiança, já que cheguei muito perto da melhor marca da minha carreira [11,03 segundos nos 100 m e 22,62 segundos nos 200 m]. Venho tendo um ano de resultados muito bons, e espero que isso continue no próximo ano. O objetivo é seguir assim até a próxima Olimpíada", afirma.

As provas nas quais Vitória compete têm um nível extremamente alto de performance. Entre as suas adversárias, está a jamaicana Elaine Thompson, 29, que tem um recorde pessoal de 10,84s nos 100 m e 22,31s nos 200 m —e é a principal aposta para o lugar mais alto do pódio na competição.

Nos 100 metros do campeonato mundial, a brasileira ficou em quinto em sua bateria —e apenas as três primeiras colocadas avançam na competição. Nos 200 metros, ela se classificou para a semifinal, que acontece nesta terça (19), às 22h15.

"Hoje já percebo que outras atletas não me veem mais só como uma mera competidora, mas, sim, como uma adversária. E para uma pessoa competitiva como eu, isso é combustível."

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