Topo

Saúde

Sintomas, prevenção e tratamentos para uma vida melhor


Hipertensa, ela não foi orientada no pré-natal e teve medo de perder filho

Bárbara Therrie

Colaboração para VivaBem

05/06/2022 04h00

Sem nenhum sintoma, a professora de educação infantil Cecília Zanetti, 35, descobriu uma pré-eclâmpsia na 25ª semana de gestação após o médico medir sua pressão na consulta de pré-natal e ver que estava alta. A doença, que é a principal causa de morte materna no Brasil, deixou Cecília inicialmente assustada pela falta de informação e orientação. Internada três vezes, a professora precisou fazer o parto e Zaion nasceu prematuro de 29 semanas. A seguir, ela conta sua história:

"Tenho pressão alta desde os 25 anos. Tomava remédio e minha pressão estava sempre controlada. Aos 29, engravidei do meu primeiro filho, o Zaion, foi uma felicidade imensa, pois sempre quis ser mãe.

Na minha primeira consulta do pré-natal no posto de saúde, já informei ao obstetra que tinha hipertensão crônica e que tomava remédio contínuo. Ele trocou a medicação por uma que era permitida para gestantes e não me deu nenhum tipo de orientação. Não me explicou os cuidados e os riscos que eu e o bebê poderíamos ter por conta da doença e nem me encaminhou para outros especialistas, como o cardiologista.

A gestação foi tranquila até a 25ª semana, quando tive a primeira intercorrência. No dia 11 de julho de 2016, fui para mais uma consulta de pré-natal quando o obstetra mediu a minha pressão e viu que ela estava 16x12. Apesar de estar alta, estava me sentindo bem e sem nenhum sintoma.

Fui encaminhada para a enfermaria para tomar medicação na veia e fiquei em observação. Um tempo depois, a enfermeira apareceu com um papel de internação do médico e me informou que eu seria internada num hospital em outra cidade, já que não há nenhum onde eu moro, em Águas de Prata, no interior de São Paulo.

Imagem: Arquivo pessoal

Fiquei assustada e perguntei o que estava acontecendo, mas ela apenas disse que a minha pressão não baixava e que eu precisava ser monitorada. Durante a internação, os médicos tentaram regular a dose do remédio para controlar a pressão e me pediram vários exames.

Ao ver o resultado do ultrassom, a médica de plantão disse que meu bebê estava tendo uma centralização fetal, que ia ter que tirá-lo e que seria transferida para outro hospital.

Sem entender o que aquilo significava, imaginei que meu filho tivesse morrido, entrei em choque e comecei a chorar desesperadamente. A enfermeira me acalmou e explicou que eu precisava ir para um hospital com uma UTI neonatal porque o Zaion poderia nascer prematuro.

No dia seguinte, fui levada para o Hospital da Mulher da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), fiz novos exames e uma médica veio conversar comigo. Falei para ela que não sabia o que estava acontecendo, faltavam informações e ninguém me explicava nada. Ela se solidarizou comigo e começou a me explicar tudo.

Primeiro, esclareceu que o bebê estava bem, as informações do último ultrassom estavam equivocadas e ele não estava tendo uma centralização fetal. A médica disse que a minha gravidez era de risco por causa da hipertensão, e que a medicação que estava tomando não estava sendo suficiente para o controle da pressão arterial.

Imagem: Arquivo pessoal

Além disso, o meu pré-natal estava sendo feito de forma inadequada, eu não estava tendo o acompanhamento dos especialistas que eram necessários.

Ela também explicou que desenvolvi pré-eclâmpsia, uma doença relacionada à placenta, cujo tratamento é fazer o parto e retirá-la. Devido ao número de semanas que estava, havia a possibilidade de ter um parto prematuro.

Nunca tinha ouvido falar da pré-eclâmpsia, mas a médica me tranquilizou dizendo que eu e o Zaion seríamos acompanhados de perto, que eles iam tentar segurar a gestação o máximo possível —desde que não houvesse riscos para mim e para ele—, e que meu bebê receberia todo suporte necessário quando chegasse o momento de nascer.

Por mais difícil que fosse ouvir tudo aquilo, e por mais medo que tivesse sentido pela minha própria vida e de perder meu filho, o atendimento humanizado da médica e a forma simples, clara e gentil com a qual ele me explicou tudo me deixou mais calma e confiante.

Daquele dia em diante, iniciei o pré-natal de alto risco no Hospital da Mulher da Unicamp e fui hospitalizada duas vezes com pressão alta. Na 26ª semana de gestação, os médicos decidiram em conjunto que eu ficaria internada até a realização do parto.

Meus exames estavam alterados, a pressão continuava alta e eu estava tendo perda de proteína na urina, um dos sinais clássicos da prê-eclâmpsia. Aos poucos fui entendendo mais da doença, ela é grave, pode comprometer todos os órgãos, é a maior causa de morte materna no Brasil e também pode matar o bebê.

Apesar da minha situação ser delicada, encarei essa fase da internação como uma oportunidade de me aproximar do meu filho e de viver a gravidez de forma mais intensa. Me emocionava toda vez que ouvia o coraçãozinho do Zaion bater.

Ao completar 29 semanas e 5 dias, comecei a ter contrações de 15 em 15 minutos. No dia seguinte, fiz um ultrassom, foi constatado uma alteração no Zaion e os médicos marcaram a cesárea para aquela tarde. O maior risco durante o parto era eu ter eclâmpsia —a forma mais grave da pré-eclâmpsia— e ter convulsão.

Imagem: Arquivo pessoal

No dia 15 de agosto de 2016, Zaion nasceu de um parto empelicado (dentro da bolsa amniótica) com 1,075 kg e 32 cm. Ele foi intubado e levado para a UTI neonatal. O parto foi tranquilo, meu marido assistiu, minha pressão ficou estável, mas dois dias depois fiquei ruim: a pressão caiu, tive anemia e meu emocional ficou abalado ao ver meu filho tão pequeno e sensível.

Ser mãe de prematuro e mãe de UTI não é fácil, é uma mistura de alegria e tristeza. Alegria por meu filho estar vivo, tristeza por não poder pegar, tocar e amamentar nos primeiros dias de vida dele. Vivi um período de grande estresse, minha pressão voltou a subir e após quase 40 dias internada recebi alta, mas continuava indo diariamente ao hospital com meu marido para visitar nosso bebê.

Zaion, atualmente com 5 anos, é uma criança saudável Imagem: Arquivo pessoal

Graças a Deus, Zaion não teve nenhuma complicação grave e pôde ir para casa após atingir 2 kg e ficar 60 dias internado no total entre um hospital e outro. Hoje meu bebê virou um rapazinho de cinco anos lindo, inteligente e saudável.

A maior lição que aprendi nesse processo é como é importante paciente e médico terem um bom canal de diálogo. O paciente deve questionar e tirar dúvidas. O médico deve informar, alertar, orientar e acolher, essas também são formas de cuidado."

Saiba mais sobre a pré-eclâmpsia

Pré-eclâmpsia é uma doença que ocorre durante a gravidez, classicamente diagnosticada pela presença de hipertensão arterial associada à proteinúria (perda de proteína na urina). Atualmente, também se considera pré-eclâmpsia quando, mesmo sem proteinúria, há complicações graves em diferentes órgãos. A doença se manifesta após a 20ª semana de gestação.

É multifatorial, isto é, tem influência genética, ambiental e imunológica. A causa está intimamente ligada à placenta, que é o órgão responsável pela manutenção da gravidez e nutrição e crescimento fetal intraútero.

Os estudos têm mostrado que na pré-eclâmpsia, ainda na primeira metade da gravidez, ocorre uma placentação inadequada, isto é, os vasos sanguíneos não ficam adequadamente "preparados" para garantir as trocas e há liberação de substâncias que alteram o correto controle dos vasos, levando à hipertensão e demais consequências da doença. A eclâmpsia é a forma mais grave da doença, com a presença de convulsão.

A pressão alta é condição para o diagnóstico e pode ser acompanhada de outros sinais e sintomas, com possível acometimento de diferentes órgãos. Entre os outros sinais estão: o ganho de peso, inchaço, principalmente nas mãos e na face, dor de cabeça, náuseas, vômitos, dor abdominal, alteração visual, como ver pontos brilhantes, chamados escotomas.

Para mulheres com fatores de risco para pré-eclâmpsia, a prevenção é realizada com aspirina e cálcio que devem ser iniciados antes de 16 semanas de gestação —isso diminui em cerca de 50% o risco da doença, especialmente a doença precoce, antes de 34 semanas.

O tratamento efetivo é o parto e retirada da placenta, mas é sempre importante considerar o lado da mãe e do bebê. Na tentativa de melhorar as condições de nascimento e evitar a prematuridade, é possível acompanhar casos de pré-eclâmpsia com controle da pressão arterial, uso de medicação anti-hipertensiva, avaliação laboratorial e clínica rigorosa e, quando necessário, instituir o sulfato de magnésio, que é a melhor alternativa para prevenção e tratamento da eclâmpsia.

Vale ressaltar que a pré-eclâmpsia não é uma indicação de parto cesárea, pelo contrário, há preferência pela indução de parto e parto vaginal, geralmente a melhor opção para mãe e para o bebê. A cesárea pode ser indicada em casos de prematuridade e com alteração da vitalidade fetal. Importante dizer que a pré-eclâmpsia é a maior causa de morte materna no Brasil.

Fonte: Maria Laura Costa, professora associada do Departamento de Tocoginecologia da FCM (Faculdade de Ciências Médicas) da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e diretora científica da Rede Brasileira de Estudos em Hipertensão na Gestação.

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Hipertensa, ela não foi orientada no pré-natal e teve medo de perder filho - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade


Saúde