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Sinta-se como um faraó em um cruzeiro pelo mítico rio Nilo

Marcel Vincenti

Do UOL, no Egito*

14/03/2014 07h20

No Egito, por que não conhecer templos como Karnak e Abu Simbel a partir do rio que nutriu a grande civilização dos faraós? Mesmo abalada pelas revoluções e transições políticas que a fizeram perder quatro milhões de turistas estrangeiros em três anos, a nação egípcia ainda oferece passeios extremamente atrativos e inusitados para o viajante.

No sul do país, pelas águas do rio Nilo, navegam embarcações que levam o turista até alguns dos mais importantes templos do Egito. E as jornadas estão longe de constituir uma aventura desconfortável: os navios são amplos, luxuosos e contam com piscinas, spas e restaurantes refinados.

Até o final de 2010, mais de 300 barcos e navios turísticos viajavam a todo vapor pela parte meridional do Nilo egípcio. Em fevereiro de 2013, duas violentas revoluções políticas depois, apenas oito dessas embarcações encontravam-se ativas na rota Aswan-Luxor, que concentra enorme quantidade de complexos faraônicos.

Uma delas é o Sonesta St. George, um luxuoso navio com 57 acomodações e capacidade para 114 passageiros que realiza cruzeiros de três, quatro e sete noites entre as cidades de Aswan e Luxor.

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O grande atrativo da viagem é a oportunidade de navegar pelo mais lendário curso de água do mundo. Com sua fonte mais remota nascendo no rio Kagera, nas montanhas do Burundi, o Nilo tem quase 7.000 quilômetros de extensão e uma bacia que inclui outros sete países africanos: Ruanda, Tanzânia, Uganda, Congo, Quênia, Etiópia e Sudão.

É no Egito, porém, que o rio ganha poder. Do deque superior do navio, vê-se claramente como essas águas sustentam pessoas que vivem quase totalmente sitiadas pelo deserto. Em Aswan, de onde partem a maioria dos cruzeiros, suas margens são fecundas e alimentam as plantações de trigo, algodão e cana-de-açúcar de incontáveis povoados árabes e núbios. 

Templos e crocodilos

E o que acontece hoje, acontecia há mais de 5.000 anos. O desenvolvimento da civilização egípcia sempre dependeu do aporte alimentar feito pelo Nilo. Lidar com suas cheias e depressões era entrar em uma batalha árdua contra a natureza, na qual a vitória significava produção farta e a derrota, fome geral.

Na maioria das vezes, a civilização egípcia venceu, e a prova do êxito pode ser verificada ao longo do cruzeiro. Um dos primeiros passeios da viagem começa antes mesmo de o navio recolher âncora. De Aswan, ônibus levam os passageiros da embarcação em direção a Abu Simbel, em uma viagem de três horas que chega perto da fronteira sudanesa. 

Construído em meados de 1.200 a.C. a mando de Ramsés 2º, um dos mais megalomaníacos faraós da história, Abu Simbel é um caso curioso: nos anos 1960, o complexo arqueológico foi removido, pedaço por pedaço, para um terreno 60 metros mais alto que o sítio original da sua construção, que seria alagado com a abertura da Alta Represa da Aswan (projeto conduzido pelo mais megalomaníaco presidente egípcio da história, Gamal Abdel Nasser).

O complexo de Abu Simbel abriga dois templos: o mais importante deles, dedicado aos deuses Amon, Ra-Horakhte e Ptah, tem em sua entrada quatro estátuas de Ramsés 2º, todas com 20 metros de altura. Entre suas canelas encontram-se estátuas de Nefertari e Muttuy, mulher e mãe do faraó, respectivamente, e dos filhos do casal.

O monumento está esculpido a partir de uma colina de arenito e tem a entrada virada para o leste, sempre pronta para receber o sol nascente. Duas vezes por ano, o sol entra diretamente até o fundo do templo, e ilumina as estátuas de Ramses 2º que existem lá dentro.

Já o segundo monumento, usado para a veneração de Hathor (deusa do amor e da fertilidade), tem em sua entrada estátuas de mais de 10 metros do casal real.

Ao sair de Aswan, o cruzeiro para bem ao lado de outro interessantíssimo complexo arqueológico do Egito: o templo de Kom Ombo, construído na era ptolomaica e que abriga um museu com 20 múmias... de crocodilos.

Há mais de dois mil anos, crocodilos gigantescos eram presença constante no Nilo e, no Egito Antigo, inspiraram a criação do deidade Sobek, associada à força e à fertilidade. Atualmente presentes apenas no lado sul da represa de Aswan, eles eram mumificados no passado, e hoje essas relíquias podem ser admiradas no museu de Kom Ombo: no local, há um exemplar com 4,3 metros de comprimento, em perfeito estado de conservação. A impressão é que a fera vai se mover a qualquer momento.  

Hórus e Amon

O navio cruza o Nilo e chega à cidade de Edfu, onde os passageiros podem conhecer o templo de Hórus, erguido entre 237 e 57 a.C. (era ptolomaica) e que exibe diversas estátuas de Hórus, o deus egípcio em forma de falcão, que os gregos associavam a Apolo. Periodicamente, o local é palco de um colorido show de luzes, que conta como as culturas egípcia e grega se fundiram a partir do século 4 a.C., com a chegada de Alexandre, o Grande, ao território dos faraós.

O Egito foi governado, entre os anos 3.100 e 30 a.C., por um total de 33 dinastias. A cidade de Luxor (conhecida historicamente como Tebas) foi sua capital durante a 11ª dinastia, perdeu o posto no período seguinte, mas recuperou-o com o advento da 18ª dinastia, nos anos 1500 a.C.  

Você sabia?

  • Que apenas 3%...

    ...das terras egípcias são cultiváveis e 90% dos 85 milhões de egípcios habitam nas proximidades do rio Nilo? O vale do Nilo abriga uma das maiores densidades demográficas do planeta: 1,3 mil pessoas por quilômetro quadrado.

     

    Era o início de uma era de ouro para a civilização egípcia e o templo de Karnak, localizado dentro de Luxor e visitado pelos passageiros dos cruzeiros, é o melhor testemunho desta época.

    Dedicado a Amon-Ra, o complexo de Karnak cobre uma área de 1,2 km². No lugar, há monumentos dedicados à deusa Mut (consorte de Amon) e ao filho do casal, Khonsu, além de portais deixados pelos Ptolomeus, que comandaram o Egito entre 305 e 30 a.C.

    Um obelisco de 29 metros de altura, de granito róseo, construído pela faraó Hatshepsut, é outra das atrações locais. Para chegar até ele, cruza-se uma área de cinco mil metros quadrados enfeitada por 134 colunas, algumas com 22 metros de altura e três de diâmetro. São decoradas por hieróglifos e sustentam arquitraves de 70 toneladas.

    O passeio termina com uma incursão ao Vale dos Reis, onde estão os templos mortuários dos principais faraós egípcios. A grande atração do lugar é o túmulo de Tutancâmon, descoberto intacto pelo arqueólogo inglês Howard Carter em 1922 e cujas relíquias podem ser admiradas no Museu Egípcio do Cairo.

    O Vale dos Reis ocupa propositadamente o lado ocidental do Nilo, onde o sol se põe. Associado à morte pelos faraós, o pôr do sol é um dos momentos mais belos de um cruzeiro pelo Nilo. Não perca o espetáculo por motivo algum.

    Quanto custa?

    Cabines duplas no Sonesta St. George custam a partir de 500 dólares, preço que inclui pensão completa e diversos tours, como as visitas aos templos (menos Abu Simbel), incursões a vilarejos núbios e passeios de feluca (um barco à velo típico do Egito) pelo rio Nilo. Passeios especiais são pagos à parte: os passageiros do navio podem, por exemplo, fazer um voo de balão sobre diversos templos da cidade de Luxor por a partir de 200 dólares por pessoa (o UOL recomenda enfaticamente este tour aéreo).

    Vale lembrar, porém, que Aswan fica longe do Cairo, cidade que é a principal porta de entrada dos brasileiros no Egito. Se quiser viajar com menos aventura e mais conforto, vale a pena contratar os serviços de alguma agência. A CVC, por exemplo, oferece pacotes para o Egito que contam com guia fluente em português e que, além do cruzeiro, levam o turista para destinos como o balneário de Sharm El-Sheikh, as pirâmides de Gizé e o Deserto Branco. 

    Outra das poucas empresas de cruzeiros que estavam na ativa quando o UOL visitou o Egito era a Nile Cruise Travel (www.nilecruisetravel.com).

    Para saber mais informações sobre os cruzeiros da empresa que cuida do Sonesta St. George, acesse: www.sonesta.com/NileCruises

    É seguro?

    O cônsul brasileiro no Cairo, Álvaro de Oliveira, evita afirmar categoricamente que o Egito é hoje um país totalmente seguro para turistas. Mas ressalta que é "histeria dizer que o mundo está acabando por aqui". "O turista brasileiro pode vir ao Egito, desde que tome precauções", diz ele. "Recomendados ao viajante que evite aglomerações e protestos nas ruas, assim como algumas regiões do país, como a Península do Sinai [há relatos sobre grupos ligados à Al-Qaeda atuando nesta área]. Se o visitante ficar apenas em locais turísticos, ele dificilmente terá problemas."

    Em meados de fevereiro deste ano, uma bomba explodiu dentro de um ônibus turístico que atravessava a Península do Sinai, matando três viajantes sul-coreanos. Mesmo com todo o seu apelo religioso e natural, recomendamos que o turista se mantenha afastado da península.

    *O jornalista Marcel Vincenti viajou ao Egito a convite do Ministério do Turismo egípcio e da companhia aérea Ethiopian Airlines.

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